THE DELAGOA BAY WORLD

17/06/2016

TROPAS LANDINS DE MOÇAMBIQUE, ANOS 40

Filed under: Tropas Landins 1940s — ABM @ 16:32

Fotos dos arquivos nacionais franceses.

 

Tropas landins de Moçambique, anos 40.

Tropas landins de Moçambique, anos 40.

 

Dois tropas landins.

Dois tropas landins.

ALUNOS DA ENGLISH PRIMARY SCHOOL OF LOURENÇO MARQUES, GRADE 1, 1965

Foto gentilmente cedida pelo Alan Fitzpatrick, restaurada por mim.

 

A turma da 1ª Classe da EPS de LM em 1965, com a Professora, Mrs. Giestiera

A turma da 1ª Classe da EPS de LM em 1965, com a Professora, Mrs. Giestiera

 

Uma grelha para os nomes de quem aparece na fotografia. Quem souber os nomes, por favor escreva para aqui.

Uma grelha para os nomes de quem aparece na fotografia. Quem souber os nomes, por favor escreva para aqui. 1 – ?, 2 – ?, 3- ?, 4- ?, 5- Alan Fitzpatrick; 6 – Professora Giestiera (afrikaner, casada com um sr português), 16 – filha do cônsul rodesiano em LM

CAPA DE REPORT FORM DA ENGLISH PRIMARY SCHOOL OF LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Filed under: English Primary School of Lourenço Marques — ABM @ 15:42

Foto gentilmente cedida pelo Alan Fitzpatrick, restaurada por mim.

Capa de ficha de relatório da EPS of LM.

Capa de ficha de relatório da EPS of LM.

O HOTEL POLANA E A POLANA EM LOURENÇO MARQUES, 1939

Esta foto faz parte de um conjunto de fotos aéreas tiradas na Cidade de Lourenço Marques aquando da visita do Presidente Óscar Carmona a Moçambique em 1939, mesmo antes do início da Segunda Guerra Mundial.

 

Vista aérea da Polana no local onde se situa o Hotel Polana, 1939. Ver as legendas em baixo.

Vista aérea da Polana no local onde se situa o Hotel Polana, 1939. Ver as legendas em baixo.

 

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A= Observatório Campos Rodrigues, B= Estação Telegráfica sem fios, podendo-se ver as torres das antenas de cada lado do edifício, C= Parque José Cabral, actualmente Parque dos Continuadores, D= local onde mais tarde se fez a Avenida Massana de Amorim, hoje Avenida Mao Tsé-Tung, E= Avenida António Ennes, actualmente Av. Dr. Julius Nyerere, F= Avenida dos Duques de Connaught, actualmente Av. Friedrich Engels, G= Estrada do Caracol, H= Hotel Polana

09/06/2016

EDUARDO HORTA, LEONG E CARLOS FERNANDES EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 1960

Foto cortesia de Eduardo Horta.

Eduardo Horta foi um grande nadador e desportista de Moçambique. Leong um grande praticante da peca desportiva. Carlos Fernandes não sei. Penso que estão no Clube Naval de Lourenço Marques.

 

Da esquerda: Carlos Fernandes, Leong e Eduardo Horta.

Da esquerda: Carlos Fernandes, Leong e Eduardo Horta.

O CLUBE NAVAL DE LOURENÇO MARQUES E AS BARREIRAS DA POLANA, ANOS 1960

 

 

O Clube Naval de Lourenço Marques, a Estrada Marginal e as Barreiras da Polana, nos anos 60.

O Clube Naval de Lourenço Marques, a Estrada Marginal e as Barreiras da Polana, nos anos 60. Ao fundo, a Ponta Vermelha.

GARRAFA DE CERVEJA LAURENTINA, FÁBRICAS DE CERVEJA REUNIDAS, ANOS 1950

Filed under: Cerveja Laurentina, Fábricas Reunidas — ABM @ 16:13

 

 

Frente.

Frente.

 

Verso.

Verso.

RÓTULO DO PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA, ANOS 1960

 

Creio que estes rótulos eram dados aos visitantes do Parque, muitos dos quais os afixavam nas suas viaturas.

 

Rótulo do Parque Nacional da Gorongosa, anos 60. Na altura era o principal parque natural e animal de Moçambique e uma atracção mundial.

Rótulo do Parque Nacional da Gorongosa, anos 60. Na altura o PNG era o principal parque natural e animal de Moçambique e uma atracção mundial.

O PRÉDIO “O LEÃO QUE RI” DO ARQUITECTO PANCHO GUEDES, EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

 

A fachada lateral do edifício "O Leão Que Ri", concebido pelo Arquitecto Pancho Guedes.

A fachada lateral do edifício “O Leão Que Ri”, concebido pelo Arquitecto Pancho Guedes.

O MACHIMBOMBO DA CARREIRA Nº7 DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Filed under: Machimbombo Nº7 para o Xipamanine — ABM @ 15:49
O machimbombo nº7 em Lourenço Marques, anos 60.

O machimbombo nº7 em Lourenço Marques, anos 60. Pertencia aos Serviços Municipalizados de Viação e fazia a carreira entre a Praça do Xipamanine e a Praça Mac-Mahon (hoje Praça dos Trabalhadores). Grato ao Sr Enoque Fumo pela informação.

PESCANDO NA PRAIA DA POLANA EM LOURENÇO MARQUES, 1900

Filed under: LM Praia da Polana, Pesca na Praia da Polana 1900 — ABM @ 15:42

 

Um pescador exibe a sua pesca na Praia da Polana em Lourenço Marques, cerca de 1900.

Um pescador exibe a sua pesca na Praia da Polana em Lourenço Marques, cerca de 1900.

O RESTAURANTE DA COSTA DO SOL EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 1950

Filed under: LM Rest. Costa do Sol — ABM @ 15:36

 

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VOO INAUGURAL DA TAP ENTRE LISBOA E LOURENÇO MARQUES, 17 DE JULHO DE 1970

Filed under: Transportes Aéreos Portugueses — ABM @ 15:31

 

Anúncio publicitário alusivo ao voo inaugural entre Lisboa e Lourenço Marques.

Anúncio publicitário alusivo ao voo inaugural entre Lisboa e Lourenço Marques.

CARTAZ PUBLICITÁRIO DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 1940

Filed under: Cartaz Publicitário de LM anos 40 — ABM @ 15:22

 

Na altura o maior mercado turístico da Cidade era o mercado sul-africano.

Na altura o maior mercado turístico da Cidade era o mercado sul-africano.

A QUARTA ESQUADRA DA PSP DE LOURENÇO MARQUES, NA POLANA, ANOS 1960

Filed under: LM 4ª Esquadra da PSP — ABM @ 15:17

Ficava situada no início da Avenida António Ennes (agora Av. Julius Nyerere) perto da Ponta Vermelha e tinha uma fachada Art Deco. No mesmo edifício agora opera a 3ª Esquadra da PRM, sem a fachada.

 

A fachada da 4ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública em Lourenço Marques.

A fachada da 4ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública em Lourenço Marques.

CERVEJA EXTRA STOUT DA FÁBRICA DE CERVEJA NACIONAL EM LOURENÇO MARQUES

Não sei bem em que era se vendeu este produto.

 

Rótulo da Cerveja Extra Stout.

Rótulo da Cerveja Extra Stout.

RICARDO CHIBANGA, TOUREIRO DE MOÇAMBIQUE

Filed under: Ricardo Chibanga Toureiro — ABM @ 14:59

Ricardo Chibanga hoje vive na Golegã, em Portugal.

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01/06/2016

CRIANÇAS DE MOÇAMBIQUE, DE J&M LAZARUS, 1902

 

Crianças de Moçambique, foto dos irmãos J&M Lazarus, 1902.

Crianças de Moçambique, foto dos irmãos J&M Lazarus, 1902.

O RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE E A PRIMEIRA DIRECÇÃO DO GRÉMIO DOS RADIÓFILOS DE MOÇAMBIQUE, ANOS 1930

A primeira direcção do Grémio dos Radiófilos de Moçambique em Lourenço Marques, precursor do Rádio Clube de Moçambique.

A primeira direcção do Grémio dos Radiófilos da Colónia de Moçambique em Lourenço Marques, fundada em 18 de Março de 1933, precursor do Rádio Clube de Moçambique. Da esquerda: A. Morais, Abílio Brito, Aniano Serra, Ernesto Brito e Augusto Gonçalves.

Excerpto 1 do "Livro de Ouro do Mundo Português", 1971.

Excerpto 1 do “Livro de Ouro do Mundo Português”, 1971.

Excerpto 2 do "Livro de Ouro do Mundo Português", 1971.

Excerpto 2 do “Livro de Ouro do Mundo Português”, 1971.

Excepto 3.

Excepto 3 do “Livro de Ouro do Mundo Português, 1971.

 

CONJUNTOS MUSICAIS DE MOÇAMBIQUE, ANOS 1960

A maioria destas fotografias foram coleccionadas por Álvaro Loureiro Coimbra.

 

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A primeira actuação do conjunto ” Os Atlas ” – Junho de 1967 – num casamento na Associação Africana. Da esquerda: Beto, Tony, Aurélio Le Bon, Faruk e Álvaro na bateria .

 

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O Conjunto Little Boys, da Beira. Se souber os nomes dos artistas, escreva para aqui.

 

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Os Night Stars.

 

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Conjunto Os Diabólicos, da Beira. Faltam os nomes.

 

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Conjunto os Jaguares, da Beira.

 

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O Conjunto Os Rebeldes, da Beira.

 

A Banda Rosie & Ralph.

A Banda Rosie & Ralph.

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Rosie & Ralph (Pretorius). O Ralph tem conta no Facebook.

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O Conjunto ” Os Atlas ” – em Vila Pinto Teixeira – da esqª p / dirª. – v.solo-Faruk . Órgão elecº.-Milhazes . bateria-Alvaro C. . v.ritmo-Tony . v.baixo-Beto . ( 1969 )

 

O Conjunto de Oliveira Muge.

O Conjunto de Oliveira Muge.

 

Mais

Mais uma imagem do Conjunto de Oliveira Muge.

 

 

ALFREDO PEREIRA DE LIMA E O JARDIM MEMORIAL DE LOUIS TRICHARDT EM MAPUTO

Louis Trichadt, o legendário pioneiro boer, imagem dos arquivos do Parque Nacional Kruger. Está sepultado na Baixa de Maputo desde 1838.

Na sequência nas guerras na Europa no início do Século XIX, opondo principalmente a França e a Grã-Bretanha, esta última tomou a Colónia do Cabo, holandesa desde o início do Século XVII e ponto de paragem estratégico na rota para a Índia, que ocupava a área em redor da actual Cidade do Cabo.

Uns anos mais tarde surgiram atritos graves entre os colonos holandeses-huguenotes (doravante chamados boers) com os novos senhores do Cabo. A partir de 1835, um número elevado de boers iniciou o que eles chamam o “grande trek”, ou grande caminhada, cujo objectivo principal era dirigirem-se para fora da Colónia do Cabo, e estebelecerem-se como comunidades autónomas, independentes da coroa britânica.

Dessas migrações, descritas na cultura boer com muito folclore e épica, quase todas feitas para Norte-Nordeste, directamente apontadas na direcção de Maputo, resultou a eventual fundação de duas repúblicas, o Estado Livre de Orange, com capital em Bloemfontein, e a República Sul-Africana Meridional, ou Transvaal, com capital em Pretória.

As migrações, ou treks, foram várias. O processo foi complicado e durou cerca de vinte anos.

No entanto, um dos primeiros e talvez o “trek” mais importante de todos, foi o liderado pelo quiçá mais carismático dos líderes boers de então, um senhor de origem dinamarquesa chamado Louis Trichardt (os boers escrevem “Trechardt”), que é por muitos considerado o fundador do Transvaal, mais tarde a principal das duas nações boers que foram fundadas cerca de meados do Século XIX. Com ele co-liderava o pioneiro boer Hans van Rensburg.

A longa viagem a pé e de carroças puxadas por bois desde o Cabo até ao que hoje é o Parque Nacional Kruger durou quase dois anos. Aí a expedição separou-se e van Rensburg com um grupo seguiram para a grande baía no Sul de Moçambique enquanto Trichardt e parte da sua comitiva permaneceram numa zona mais alta e interior. Os registos indicam que van Rensburg e a sua comitiva foram mortos num assalto. Uns meses depois, Trichardt seguiu a mesma rota na direcção do mar.

É de salientar que desde os primórdios do projecto nacional boer, o acesso ao mar independente do controlo britânico foi uma autêntica obsessão, a que correspondeu igual determinação, por parte da diplomacia da Grâ-Bretanha, de limitar e controlar esse acesso. Este confronto de propósitos foi determinante para Moçambique e manteve as diplomacias da monarquia portuguesa e do império britânico ocupados durante o meio século que se seguiria.

No total, a viagem de Trichardt até aos arredores da acutal Maputo durou cerca de três anos (sete meses só para o percurso entre o Highveld e a Baía, com inúmeras mortes entre os que o acompanharam).

Mas mesmo assim a aventura acaba mal, por duas razões.

A primeira é que Louis Trichardt e os seus seguidores não só meteram-se pelo mato abaixo na direcção entre Nelspruit (Mbombela agora) e Maputo, zona essa que era quase certamente mortífera pois nem os homens nem os animais resistiam a coisas como a malária que ali era endémica e invariavelmente afectava que por ali passasse. Assim, a maior parte da comitiva morreu de malária e o próprio Trichardt e a mulher estavam doentes quando chegam ao então absolutamente miserando presídio de Lourenço Marques (onde hoje está a chamada Fortaleza de Maputo, que na realidade é um núcleo museológico construído nos anos 1940, mas que na altura era uma espelunca imunda feita com uns paus e matope no que facto era uma pequena ilha, separada do terreno adjacente do que é hoje Maputo por uma depressão onde hoje está mais ou menos situada a Av. 25 de Setembro.

A segunda razão porque a expedição de Trichardt correu mal é que, assim que ali chegou, no dia 13 de Abril de 1838, o chefe português do presídio, que dava pelo título de “governador”, disse-lhe que aqueles territórios pertenciam à Coroa de Portugal e que eles não podiam ficar com aquela região nem podiam ir viver para ali. Como resultado, o “trek” de Louis Trichardt termina com a sua recomendação de que os boers fundem a sua república para lá da zona infestada de malária, que terminava mais ou menos a dez quilómetros a Oeste de onde eventualmente foram definidas as actuais fronteiras entre Moçambique e o Transvaal, já nos finais de 1888, então já a propósito da não menos célebre disputa em redor do contrato com o norte-americano Macmurdo para a construção da linha de caminho de ferro que haveria de, sete anos mais tarde, passar a ligar Lourenço Marques à capital do Transvaal, Pretória.

Doentes com malária, esta parte da história acaba com a morte de Louis Trichardt e da sua mulher, no terceiro trimestre de 1838, em Lourenço Marques.

O que acontece a seguir é que é possivelmente a parte mais interessante deste longo episódio.

Com o tempo, a história do que veio a ser a actual África do Sul evolveu para uma enorme e implacável confrontação entre os boers e o império britânico, que culmina com a Guerra Anglo-Boer de 1899-1902, e mais tarde com um crescente domínio boer da União Sul-Africana, criada em 1910, domínio esse que recrudesce nos anos 20 e 30 do Século XX, com as grandes lideranças de Herzog e de Jan Smuts.

O monumento aos Voortrekkers, os pioneiros boers, em Proclamation Hill, perto de Pretória.

Durante esses anos, os boers olharam de novo para a sua história, na qual Louis Trichardt e a sua expedição adquiriram uma importância mítica e fundacional fulcral, semelhante, para eles, ao simbolismo com que se pretende associar os que combateram com armas pela independência de Moçambique.

No longo baixo-relevo no interior do Monumento aos Voortrekkers, Louis Trichardt em Lourenço Marques, presumo que com o governador do pequeno presídio.

Em 1938, o poder boer em plena ascenção numa aliança pouco fácil os residentes de origem inglesa, com enorme pompa, foi inaugurado nuns campos nos arredores de Pretória, o assombroso Monumento aos Voortrekkers, onde toda essa história e misticismo estão reflectidos – incluindo o episódio seminal do mais celebrado de todos os Voortrekkers – o trek de Louis Trichardt.

De certa forma, Trichardt foi uma espécie de Eduardo Mondlane para os boers, uma peça fundamental da lógica inescapável da justiça da causa da sua independência, especialmente face ao poder britânico.

Poucos anos após a inauguração do gigantesco monumento boer em Pretória, em Lourenço Marques, Alfredo Pereira de Lima, ali nascido e criado e então um jovem arquivista da Câmara Municipal da cidade Lourenço Marques, que detinha um grande fascínio por história, tendo ao longo da sua vida feito um trabalho inestimável, estudou o que havia em redor da história de Trichardt.

E foi Lima quem em 1944, já no final da II Guerra Mundial, descobriu onde, na capital moçambicana, Louis Trichardt havia sido sepultado com a sua mulher quando morreram ali em finais de 1838.

Mais tarde, com o sul-africano Dr. Colin Coetzee, descobriu também o local exacto onde, na Baía, os holandeses haviam edificado em 1720 uma fortaleza, pretendendo dessa forma tomar o comércio e disputar a sua posse com a coroa portuguesa.

Em 1964, Alfredo Pereira de Lima publicou a obra A História de Louis Trichardt (editado pela Minerva Central, com 137 páginas, esgotadérrimo).

O Jardim Memorial de Louis Trichardt, onde se encontram os restos mortais do pioneiro boer e de sua mulher.

A fachada principal do monumento.

A estátua à esquerda da entrada de do Dr. William Punt, que em 1964 era o presidente da Sociedade Louis Trichardt, sedeada em Pretória.

É nesta década que se decidiu edificar no local da sepultura de Trichardt um monumento memorial, que foi inaugurado às 14 horas do dia 12 de Outobro de 1968, pelo, do lado sul-africano, o então ministro da Educação Nacional da República da África do Sul, Jan de Klerk.

Estojo para os medalhões comemorativos da inauguração do monumento, 1968.

Um dos medalhões comemorativos.

Outro dos medalhões comemorativos.

Pelos seus esforços, Alfredo Pereira de Lima foi tornado membro da Sociedade Louis Trichardt, uma pequena organização sedeada em Pretória.

Ou seja, Louis Trichardt, uma das figuras mais “sagradas” da história e cultura boer, hoje um dos componentes do “arco-íris” sul-africano, está sepultado em plena baixa de Maputo.

De salientar que do esforço generalizado de retirada de monumentos por todo o país na altura da Independência de Moçambique, em Maputo só dois nunca foram tocados: o Monumento aos que morreram na 1ª Guerra Mundial em frente à estação dos Caminhos de Ferro, e o Jardim Memorial de Louis Trichardt.

Que por puro acaso visitei em Dezembro de 1984, altura em que o país estava já em plena guerra civil, Maputo deserta e vivendo em quieto e receoso desespero os dois últimos anos sob a tutela de Samora Machel. Para minha surpresa, lá encontrei o guarda-recepcionista, um senhor com alguma idade, impecavelmente vestido numa já algo velha farda, sorridente, explicando-me os detalhes do que lá está e oferecendo-me ao fim a assinar o livro de visitantes, o que fiz. Acho que pela tão calorosa recepção ofereci-lhe cinco dólares americanos, o que transformou a minha visita em dia de festa para ele, pois naquela altura cinco dólares em Maputo era uma pequena fortuna. Ainda bem, pensei.

Mas na altura não me apercebera de que aquele local repousavam os restos mortais do mítico líder boer. De facto, nunca soube desta história na sua totalidade até há menos de dois anos, por uma troca de mensagens com a filha de Alfredo Pereira de Lima, que me concedeu o privilégio de me providenciar dados e fotografias sobre o seu pai, que eu nunca conseguira encontrar, e que podem ser vistos premindo AQUI.

Esta história é não só interessante e curiosa: ela faz parte também da história de Maputo, de Moçambique e da África do Sul.

Tanto, entretanto, aconteceu desde esse dia em 1838 quando Trichardt faleceu junto à Baía. Depois de mais que 130 anos, Moçambique tornou-se numa nação independente. Na África do Sul terminou o apartheid e instituiu-se um regime democrático.

Uma visita ao Jardim em Memória de Louis Trichardt ajuda a lembrar como foi e como tudo mudou.

E deveria fazer parte obrigatória de qualquer roteiro histórico e cultural da Cidade de Maputo.

O QUE MATOU RUI DE NORONHA?

Filed under: Rui de Noronha — ABM @ 16:42

Rui de Noronha

A questão não fui eu que a coloquei.

Vamos por partes.

1ª Parte

Antes de mais, as coordenadas de base, que fui buscar à Wikipédia, (mas às quais tive que dar uma valente martelada editorial):

“Rui de Noronha (Lourenço Marques, 28 de outubro de 1909-25 de Dezembro de 1943) foi um poeta moçambicano.”

“De nome completo António Rui de Noronha, nasceu em Lourenço Marques a 28 de Outubro de 1909. Mestiço, de pai indiano, de origem brâmane, e de mãe negra, foi funcionário público (Serviço de Portos e Caminhos de Ferro) e jornalista. Colaborou na imprensa escrita de Moçambique, nomeadamente n’O Brado Africano, com apenas 17 anos de idade.

À sua produção inicial, que se reduziu a três contos, e que correspondem a uma fase digamos de afirmação literária, seguir-se-á, a partir de 1932 (tinha ele 23 anos de idade) uma intervenção mais activa na vida do jornal, chegando mesmo a integrar o seu corpo directivo.

Uma desilusão amorosa, causada pelo preconceito racial, fez, segundo os seus amigos, com que o escritor se deixasse morrer no hospital da capital de Moçambique, com 34 anos, no dia 25 de Dezembro de 1943.

Sua obra completa está reunida em Os Meus Versos, publicada em 2006, com organização notas e comentários de Fátima Mendonça.

Desde logo o Rui mostrou e deixou transparecer, na sua vida e na sua escrita, um temperamento recolhido, uma personalidade introvertida e amargurada. Foi, sem dúvida, um homem infeliz. Nunca chegou a concretizar um seu grande grande sonho que era publicar um livro com poemas seus.

Essa realização deveu-se mais tarde ao seu antigo professor de francês, o Dr. Domingos Reis Costa, que reuniu, seleccionou e reviu 60 poemas numa edição póstuma, intitulada Sonetos (1946), que foi editado pela Minerva Central.

Incluído em inúmeras antologias estrangeiras – na Rússia, na República Checa, na Holanda, na Itália, nos EUA, na França, na Argélia, na Suécia, no Brasil e em Portugal – Rui de Noronha é hoje considerado o precursor da poesia moderna Moçambicana.

(fim)

Neste pequeno texto não se analisa nem a sua obra nem o seu putativo papel seminal nas actuais letras moçambicanas. Sobre isso já correram rios de tinta, AQUI o exmo. Leitor que ainda não o conhece poderá ler um exemplo decente do que se diz sobre o assunto. Que se resume a, com o que escreveu, ter ele aberto uma brecha africana na muralha virtual branca e portuguesa que era a Lourenço Marques do seu tempo, que só por acaso admitia estar situada algures num canto daquela outra África que mais cedo ou mais tarde viria bater-lhe à porta (oh e se veio). Ainda por cima na língua do colono (hum, que outras línguas saberia ele falar?). Como se soi dizer-se, a minha querida Fátima Mendonça wrote the book on Rui de Noronha – a sua obra. Não a vida dele.

Enfim, a eterna dialéctica dessa inescapável, necessária religião moderna, o nacionalismo. Ou pelo menos a que se publica.

A Noémia, que estava mais dentro do assunto, apercebeu-se disso e, de longe, a posteriori, piscou-lhe o olho num poema. Quase dezassete anos mais nova, jamais falou com ele, se bem que se diz que ela o via passar à frente de sua casa.

Adiante.

2ª parte

Há quatro dias, recebi a seguinte mensagem neste blogue: “Procuro informações sobre Rui de Noronha. Sou seu sobrinho-neto e pouco (ou nada) sei sobre ele, em especial sobre a ‘verdadeira’ causa da sua morte. Meu avô, seu irmão, chamava-se Amâncio Miguel de Noronha.”

Assinava a mensagem o Sr. Carlos Alberto Dias (Noronha) da Silva.

3ª parte

Recapitulemos: jovem não branco na Lourenço Marques colonial (nem sei se há nome para a sua mistura racial), com dotes poéticos literários comprovados, suposta postura proto-nacionalista, escreve umas coisas para O Brado Africano, introvertido, acanhado, sonha em publicar um livrinho de poemas, trabalha nos Portos e Caminhos de Ferro de Lourenço Marques….e de repente “uma desilusão amorosa, causada pelo preconceito racial, fez com que se deixasse morrer no hospital, aos 34 anos, no dia de Natal de 1943.”

Hum.

Segundo a Olga Iglésias, que estudou o assunto da sua biografia -mais ou menos – havia algo mais. Cito:

“Sobre a sua biografia sabe-se que nasceu a 28 de Outubro de 1909 no Língamo, em Lourenço Marques, hoje Maputo, tendo sido registado como António Rui de Noronha, filho de José Salvador Roque das Neves Noronha, goês, natural de Loutolim (Goa), escriturário – contabilista da WENELA (Agência de recrutamento de mão-de-obra para as minas da África do Sul), e de Lena Sofia Chiluvane (Florinha), sua primeira mulher, natural da Zululândia. O seu irmão mais velho, Amâncio Miguel de Noronha foi funcionário público, tal como Rui de Noronha o foi nos caminhos de ferro de Lourenço Marques. Da segunda mulher, Luisinha, José Salvador Roque das Neves teve quatro filhos – Luísa Grasmila das Neves Noronha (médica), Aires (contabilista), Edgar (engenheiro químico) e Célia (licenciada em farmácia).

Frequentou a Escola Central Paiva Manso, tendo concluído a instrução primária em 1921, quando tinha doze anos de idade, sendo aluno do professor Vasco da Gama Xavier Dantas da Silva. Mais tarde, frequentou o Liceu Nacional Central 5 de Outubro até ao 5º ano, sem todavia o ter completado. Era uma aluno muito inteligente, recorda Alexandre Lobato, seu colega e amigo, que testemunha no “O Mundo Português” os hábitos dos estudantes de Coimbra, que caracterizavam o ambiente juvenil do liceu.

Envolvido nesse meio, Rui de Noronha cantava fados de Coimbra e fazia-se acompanhar à viola, sendo notável a interpretação de “A Samaritana”, “A Cruz de Guerra”, entre outras. Destacou-se, como autodidacta no campo musical, aprendendo através de livros sem mestre, tocava viola, guitarra e mais tarde violino. Escreveu os primeiros poemas dedicados aos colegas. Foram amigos dessa fase – Willy Waddington (jornalista), Alexandre Lobato (historiador), Deolinda Martins (médica) e Carlos Simões.

Sobre a [sua] Prosa: Do 1º Conto – “O Canário” (1926) ao ensaio sobre “A Escravatura” (1935), Como hipótese de sistematização da sua obra, parece-nos que esta pode ser dividida em quatro grandes formas, segundo a temática abordada:1ª. ensaística, filosófica, humanística – abordagem de binómios: Deus/Homem; Bem/Mal; Vida/Morte e de conceitos-chave da existência humana: Eu/Verdade/Razão; 2ª. interventiva, jornalística, polémica – sobre a defesa dos pobres, dos “indígenas” – camponeses, mineiros, carregadores do cais; de crítica social, sobretudo à administração colonial e às mulatas, que nada querendo com os seus irmãos, procuram casar com homens brancos; 3ª política, associativa, utópica – de apelo à participação na Associação Africana para a defesa da causa africana e de belíssimos conselhos sobre a fraternidade e a solidariedade entre os homens; 4ª. subjectiva, emocional, sensitiva – de ensaios, como se brotasse a primeira inspiração, numa ideia em rascunho, que mais tarde burilava em novas prosas e poemas. Para além destas quatro formas, parece-nos útil distinguir as várias fases por que passou a sua tão breve vida: 1ª de 1926 a 1932 – a do jovem poeta e contista “naïf”; 2ª de 1932 a 1936 – a do jornalista adulto, polémico e interventivo, “proto-nacionalista”; 3ª de 1936 a 1943 – da fama à decadência, a fase da “desventura”, o que iremos desenvolver em seguida:1ª  O primeiro conto, que se conhece foi publicado n’ O Brado Africano, em 1926, colaborando na secção literária, quando tinha apenas 17 anos de idade. De uma grande ingenuidade, o conto intitula-se “O Canário” e, aparece assinado pelo jovem autor, Ruy de Noronha. Mas é no Programa dos Teatros, em 1929, que se inicia como poeta, publicando os seus poemas com o pseudónimo de Cancarrinha de Aguilar, colaborando na secção de verso desta revista. Desta primeira fase são exemplos, os poemas “12 de Abril”, comemorando o primeiro aniversário da revista, bem como “Perfil”, I-VIII com que delicia e retrata figuras femininas do meio “chic”, de Lourenço Marques.

Encontram-se em 1930, na referida revista, poemas admiráveis como “Tormenta”, “Amor e Ódio”, que assinou com o nome completo – António Rui de Noronha. Foi nessa altura, responsável pela secção de versos do “Programa dos Teatros”, mais tarde com a designação de “Miragem”. Interessante é notar, a direcção que imprimiu à dita secção de versos, como se pode constatar nos conselhos que deu ao seu amigo e jornalista Willy Waddington, ao devolver-lhe os versos sem os ter publicado, pois que primeiro devia ler António Feliciano de Castilho, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Antero de Quental e, concluídas as leituras, tendo aprendido a versejar poderia, então, Waddington ensaiar de novo a sua veia poética.

A partir de 1932 inicia-se a segunda fase, que segundo a nossa proposta vai desse ano até 1936, tempo esse que poderíamos chamar , dada a sua importância, de “activista social”, em que desempenha o cargo de 2º Secretário, portanto membro eleito da Direcção do Grémio Africano, mais tarde Associação Africana, que congrega a elite africana e não só de Lourenço Marques, importante grupo de pressão, em “prol dos direitos dos naturais da Colónia de Moçambique”, como se expressava claramente em sub-título, o seu órgão O Brado Africano.

Foi aí, no Brado Africano, que Rui de Noronha abriu uma secção de crónicas sociais intituladas: “Ao Mata Bicho”, onde ensaiava como articulista social, assinando os seus irónicos artigos de crítica social, com o pseudónimo de Xis Kapa. No meio jornalístico ficaram conhecidos os seus amigos – Edmundo Cruz, Odragom e Midam (pseudónimos), assim como ficou célebre a polémica que teve com o advogado Nobre de Melo, de Inhambane, em torno da questão: “A Pátria Portuguesa” e na qual Rui de Noronha ou aliás, Xis Kapa defende que, a Pátria é o lugar onde se nasce. Primeiro indício de moçambicanidade? De proto – nacionalismo? Parece-nos que sim. Todavia, muito há que investigar sobre o pensamento fluído e profundo de Rui de Noronha. Ao analisar a imprensa africana, como propôs Alfredo Margarido e Mário Pinto de Andrade poderemos provar que, Rui de Noronha é mais do que um poeta que canta “amores impossíveis”, como queria reduzi-lo Ilídio Rocha.

Justamente através do estudo da sua prosa, irónica e profunda, podemos descortinar o seu pensamento, como um defensor da “causa africana”, já que se preocupou com o quotidiano dos africanos, lutou com a sua pena pelos seus direitos, pela educação, sobretudo da mulher chamada “indígena”, pela dignidade do trabalho, denunciando a situação do trabalhador mineiro, que vende a força do seu trabalho, nas minas do John (na África do Sul), do carregador explorado no cais, pela justiça em geral e, em particular, a condição dos mulatos, a sua própria condição, como mulato e assimilado. Veja-se o artigo: “Prostituição Indígena”, em que retratou a situação da mulher prostituta em Lourenço Marques nos anos trinta e, como defendeu as medidas tomadas pelo sistema socialista na União Soviética, face a esse grave problema social.

Nessa fase foi funcionário público, Aspirante dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques. E, em Agosto de 1932 noticiava o Brado Africano que, “acaba de assumir o lugar de Secretário da Redacção, o 2º Secretário do Grémio Africano, o nosso muito ilustre patrício, snr. Rui de Noronha. Novo ainda, mas com qualidades brilhantes para o jornalismo, muito terá o nosso “Brado” a lucrar com a sua proventosa acção…”.

Casou-se nessa época com Albertina Carolina dos Santos, filha de Francisco Eduardo dos Santos, carcereiro do Presídio de Lourenço Marques e de Justina de Aguiar (N’timene), de origem aristocrática, princesa de um dos reinos de Maputo, afilhada de Roque de Aguiar, importante figura da Maçonaria, que lhe deu o apelido. Festejando o décimo sétimo aniversário da fundação do “Brado”, realizou-se uma festa na redacção do jornal. Noticiado o evento, aparece uma referência a Rui de Noronha, como redactor do jornal, semanário ao qual ficará ligado até ao fim da sua curta vida como colaborador.

A sua fase áurea, de 1934 a 1936, testemunharam-na os jornais da época. Correspondeu a um intenso período de vida social – Presidente do Clube Desportivo Vasco da Gama; Director de um Grupo Dramático, onde dirigiu a encenação da peça: “Frei Luís de Sousa”, apresentada a Alves da Costa, grande dramaturgo português, aquando da sua visita a Moçambique; membro do Centro Cultural dos Novos, onde apresentou pela primeira vez os “Sonetos”, submetidos ao fogo da crítica “para serem publicados em livro”; membro do Grémio Africano e do corpo redactorial do “Brado”. Fez pequenas palestras e conferências, nos clubes a que pertenceu, sendo a mais célebre, a que pronunciou sobre o tema: “A Escravatura”, muito elogiada na época.” (fim)

Realmente o Carlos Alberto tem razão: aqui há gato.

Aliás, há vários gatos.

E, para variar, os amigos que terão dito isto parece que não explicaram.

Primeiro, a cena do amor.

Pelo que leio, deduzo que se envolveu, ou tentou envolver, com uma menina de outra raça – vamos presumir que era branca – de Lourenço Marques, e sendo as coisas como parece que eram naqueles tempos, a coisa deu para o torto. Ou ela não lhe correspondeu, ou então (presume-se provável) familiares da menina caíram-lhes em cima e deram o assunto por terminado.

Só que o sítio O Baú da História diz que ele na altura era casado e que teve uma filha (a nossa D. Elsa de Noronha, dizedora de poemas, que vive em Lisboa).

A Elsa, que nasceu em Agosto de 1934, nove anos antes do seu pai falecer “de desgosto” no hospital em Lourenço Marques.

Misteriosamente, a Enciclopédia Britânica refere que “he lived an unhappy bohemian existence”.

Que foi unhappy já sabíamos. Mas – “bohemian“? o que é que isso quer dizer? os ingleses não elaboram.

Num demasiadamente curto texto, o genial António Sopa refere-se a um outro aspecto da sua vida. Ele refere que em 1935 (com 26 anos de idade) Rui teve sérios problemas de saúde, “agravados” no ano seguinte pela sua ida para Nampula, onde residirá até 1939.

Afinal que doença é que ele tinha?

E o que é que fez durante três anos em Nampula (1936-1939)?

Correctamente, Sopa refere o clima de “cerco” do Estado Novo, cujos tentáculos se estendiam inexoravelmente para as então pouquíssimas e mínimas cidades coloniais moçambicanas, e o seu efeito nas minúsculas elites não-brancas. Pois a vida não era fácil naqueles dias, e não era só para eles. Que eu saiba levaram todos, então em Moçambique, que era um viveiro da oposição branca, em que havia de tudo um pouco: aventureiros, comunistas, anarquistas, socialistas, maçónicos, republicanos de primeira vaga, monárquicos desterrados.

Segundo, o que é que aconteceu em Nampula entre 1936 e 1939

E terceiro, as circunstâncias da sua morte.

Que história é essa de um homem com 34 anos, morrer de “desgosto” no dia de Natal em 1943?

Alguém viu os registos do hospital? a certidão de óbito? parece que não.

Resumindo:

No fim do dia, um pouco como aconteceu com Karel Pott, na racialmente estratificada sociedade urbana de Lourenço Marques dos anos 30 e 40, Rui de Noronha teve importância no seu meio tanto pelo que disse, como por quem ele era e o que ele era quando o disse. Não há melhor prova disso do que as palavras do meu saudoso Sr. José Craveirinha, que, socraticamente, pontificou desta forma sobre si próprio, em Janeiro de 1977, durante a primeira maré nacionalista pós-Independência:

“Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Pela parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai fiquei José.

Aonde? Na Av. do Zichacha entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato. A seguir fui nascendo à medida das circunstancias impostas pelos outros. Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: o seu irmão. E a partir de cada nascimento eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.

A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe negra.

Nasci ainda mais uma vez no jornal “O Brado Africano”. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noemia de Sousa. Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.

Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por causa da minha mãe só resignação.

Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.

Minha grande aventura: ser pai. Depois eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.

Escrever poemas, o meu refúgio, o meu país também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse país, muitas vezes altas horas da noite.”

(fim)

Pois. O nacionalismo estava-lhes na pele.

Uma pele mulata.

MOÇAMBIQUE, A ILHA, 2010

Filed under: Ilha de Moçambique — ABM @ 16:39

Foto de um casal creio que britânico que assina ” os Tsiklonautas” e que passou por Moçambique em Abril de 2011. Gostava de saber os nomes deles.

Uma das vistas a partir da Ilha de Moçambique.

Umas das igrejas na Ilha de Moçambique. A senhora na mota é o par do senhor que tirou a fotografia.

Outro retrato que tiraram na costa moçambicana.

JACOB JEREMIAS NYAMBIR

Jacob Jeremias Nyambir, ex-embaixador de Moçambique em Portugal. Foi nomeado pelo Presidente Guebuza para o cargo em Outuro de 2011 e foi acreditado em 10 de Janeiro de 2012. Anteriormente, desempenhou as mesmas funções na Argélia (Maio de 2009-Setembro de 2011). É um veterano da guerra pela Independência pelo lado da Frelimo.Substituiu Mihuel Mkaima, que foi para Havana.

Jacob Nyambir é uma figura histórica da Frelimo. Num texto de Felisberto Arnaça sobre Filipe Samuel Magaia, uma das figuras celebradas do conflito que precedeu e conduziu à Independência, recolhi o seguinte excerto, indicativo do envolvimento de Nyambir no movimento guerrilheiro que combateu em Moçambique: ”

Jacob Jeremias Nyambir e José Moyane são dois combatentes da luta de libertação nacional que conviveram com Filipe Samuel Magaia. Nyambir foi um dos seus assistentes directos, na Tanzania, juntamente com Feliciano Gundana. Jacob Jeremias Nyambir explicou que a Frelimo havia decidido, no seu primeiro congresso realizado em 1964 que, caso as negociaçoes pacíficas com a administraçao colonial portuguesa nao resultassem, a única via era a armada, o que veio a se confirmar. Foi entao que Filipe Samuel Magaia, segundo Nyambir, aparece como actor do processo, tendo como tarefa conceber e formar uma guerrilha. Para tanto, Filipe Samuel Magaia foi enviado à Argélia, chefiando o primeiro grupo de moçambicanos para treinos militares. O grupo, segundo a fonte, era composto por gente que nao tinha experiência sobre a vivência em Moçambique. Eram cerca de 40 homens, recorda Jacob Jeremias Nyambir. Terminada a formação na Argélia, o grupo regressou à Tanzania, mas se desencontrou, porque alguns dos seus elementos desertaram. Mesmo assim, Filipe Samuel Magaia nao desanimou. Criou condições em Kongwa para a recepção dos guerrilheiros que faziam parte do segundo grupo enviado à Argélia, do qual se destacava Samora Machel e o próprio Jacob Nyambir. Após uma avaliação objectiva sobre quem era quem em Kongwa, Filipe Samuel Magaia escolheu alguns guerrilheiros para chefiar em missões dentro do país. Nyambir e Gundana foram escolhidos para seus assistentes em Dar-Es-Salam. Samora Machel foi escolhido para chefiar o centro. Em 1964, Filipe Samuel Magaia partiu para treinos militares na China, chefiando um grupo do qual fazia parte José Moyane. Esta partida foi por decisao do comité militar, que algum tempo depois solicitou o seu regresso para iniciar a luta armada. Filipe Samuel Magaia e o grupo estavam num treino militar sobre guerrilha, considerado importante pelos chineses. Por recomendação dos chineses, o “comandante corajoso” não regressou para iniciar a guerra, em Setembro de 1964, mas em Outubro daquele ano. Regressado à Tanzania, assumiu a direcção do Departamento de Segurança e Defesa. Avançou para muitas frentes de combate em Cabo Delgado e no Niassa, nas quais foi confrontado com aspectos de natureza tribal entre os guerrilheiros. Segundo Jacob Nyambir, os oportunistas dentro da Frente minavam a coesão do comando, cujas rédeas estavam nas maos de Filipe Samuel Magaia, e o inimigo aproveitou a situação, fazendo com que a frente do Niassa enfrentasse muitas dificuldades. José Moyane conheceu Filipe Samuel Magaia em 1963, em Dar-Es-Salam. Foi no campo de Bagamoyo que Moyane viu as qualidades do “comandante corajoso”. “Ele verificava diariamente a situação dos treinos, dava palestras nas quais transmitia a experiência dos argelinos na guerrilha. Preocupava-se muito com a disciplina dos guerrilheiros. Era muito rigoroso quanto à disciplina, à limpeza do campo e à preparação física. Foi ele que nos transmitiu a noção do que era realmente a vida militar”, disse José Moyane. Na China, para onde havia ido para treinos militares, Filipe Samuel Magaia era, igualmente, exigente para com os seus elementos. “Sempre que terminássemos a aula, tínhamos que nos reunir para avaliação. Havia crítica e auto-crítica. Ele encarava as coisas duma maneira altamente disciplinada. Comia pouco e podia ser a altas horas. A última vez que o vi foi em Setembro de 1966, quando organizou vários quadros em Nachingweia para a luta no interior de Moçambique”, disse José Moyane. Filipe Samuel Magaia morreu no Niassa ocidental, na região de Kobwe. Eram cerca das 22 e 30 minutos do dia 9 de Outubro de 1966. Filipe Samuel Magaia e os outros guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique caminhavam, àquela hora, pelo Niassa adentro, organizados em grupos. “Ouvimos um tiro! E ele disse: granada!”, exlicou Jacob Jeremias Nyambir. Filipe Samuel Magaia pronunciou a palavra granada, porque trazia consigo granadas. Foi Lourenço Matola, o indivíduo que matou Filipe Samuel Magaia. Nao se sabe se ainda vive. Quando disparou sobre Filipe Samuel Magaia, num ápice, arrancou uma arma a um guerrilheiro proximo e tratou de se esconder mais para tráz, entre os seus companheiros. Lourenço Matola arrancou a arma a um seu companheiro e deixou a sua (da qual havia saído o tiro) com ele. Foi, rapidamente, encetada uma busca, inspeccionada a arma e a conclusão a que se chegou foi que pertencia a Lourenço Matola a arma que havia assassinado Filipe Samuel Magaia. Matola foi amarrado e levado para a direcção da Frelimo na Tanzania, conforme disseram aqueles dois combatentes. Jacob Nyambir afirmou que Filipe Samuel Magaia criou bases para que as forças populares existissem.

Em 1989, Nyambir era Governador da província de Nampula.

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