THE DELAGOA BAY WORLD

31/07/2019

A AVENIDA 24 DE JULHO EM LOURENÇO MARQUES, DÉCADA DE 1910, E FRANCISCO COSTA

A primeira imagem foi retocada.

A Avenida 24 de Julho era originalmente a mais longa da nova Lourenço Marques. Actualmente assinala um acto da Frelimo após a independência (penso que algumas “nacionalizações”) mas anteriormente assinalava um outro evento completamente diferente, a data em 1875 que consta da decisão de Mac-Mahon de conceder a Portugal (e não ao Reino Unido da Grã-Bretanha) o direito aos territórios que hoje constituem o Sul de Moçambique.

Mas o nome original daquela artéria era Avenida Francisco Costa. Em baixo está um esboço da vida deste homem, um homem do Império e da sua constituição na sua vertente adquirida na segunda metade do Século XIX e que obviamente, na altura, mereceu a atenção e o respeito dos poderes constituídos da Cidade, possivelmente por causa das causas que defendeu e medidas que tomou. Em 1897 a avenida já aportava o seu nome, dois anos antes da sua morte.

Outra interessante curiosidade: Francisco Costa era um maçon. E acontece que os membros da Maçonaria de Lourenço Marques, após a imposição da I República, construíram em Lourenço Marques aquele que ainda hoje é o maior edifício maçónico alguma vez construído em território português…. no meio da Avenida com o seu nome. E que após a proibição das sociedades secretas por Salazar em 1935, veio a ser a Escola Industrial (agora denominada de 1º de Maio).

A Avenida Francisco Costa, futuramente a 24 de Julho, no fim da primeira década de 1900, postal de Spanos e Tsitsias. A zona aqui retratada é a meio da então nova e mais longa avenida da Cidade (uns sete kms), à direita a seguir à última casa fez-se, no início dos anos 70 o Centro Comercial Man-Kay, que ficou conhecido como Loja Franca uns anos depois da independência (por ali ter existido uma “loja franca” de acesso restrito e que só vendia bens de primeira necessidade, escassos nna Cidade, em moeda estrangeira). Note-se que nesta altura, como em outras artérias da Cidade, apesar de já ter sido concebida uma avenida larga com dois sentidos, aqui se vê que apenas se construiu o que hoje é o lado que hoje é no sentido Polana-Alto-Maé.  Alto-Maé que se vê ao fundo. E no qual, se se escavar, ainda se podem encontrar os carris que se vêem, que eram da empresa Electric Tramways de Lourenço Marques, pertença da empresa britânica The Delagoa Bay Investments Company.

Quem Foi Francisco Costa

Francisco Costa.

Nome completo – Francisco Joaquim da Costa e Silva (1826-1899).

Nasceu no Porto em 31 de Agosto de 1826 e morreu em Lisboa a 1 de Março de 1899. Filho de António da Costa e Silva, 1.º barão e 1.º visconde de Ovar, par do reino e ministro da Guerra interino, e de Teresa da Conceição Oliveira. Casou com Margarida Helena de Almeida e Costa, filha de Torcato Máximo de Almeida, deputado por Sintra, e de Helena Joaquina de Almeida e Costa. Fez carreira na Administração Pública, sendo tenente do Batalhão dos Empregados Públicos quando foi nomeado secretário-geral de Angola (23.4.1847). Foi oficial e secretário graduado do Conselho Ultramarino e em 20 de Julho de 1876 ascendeu a director-geral do Ultramar, tendo sido grande colaborador de Rebelo da Silva quando este foi ministro da Marinha e Ultramar.

Pertenceu à Maçonaria e foi figura importante do Partido Regenerador. Foi eleito deputado para várias legislaturas: Angola (1851), Ovar (1860), Sintra (1864 e 1865), Mafra (1869, Março e Setembro de 1870, 1871 e 1875) e novamente por Sintra (1878). Foi eleito vice-secretário, vice-presidente e presidente da Mesa da Câmara dos Deputados. Pela forma como exerceu a presidência, especialmente, pela delicadeza, dignidade e imparcialidade, mereceu um voto de louvor da Câmara tanto em 1878, como em 1879. Integrou várias comissões, entre elas, as do Ultramar (1854, 1865 a 1867, 1870), Diplomática (1860, 1861, 1870), da Marinha (1865 a 1867, 1871, 1877) e de Verificação de Poderes (1870, 1875).

O primeiro projecto de lei que apresentou, em 1852, destinava-se a manter o livre comércio da urzela em Angola. Subscreveu também, entre outros, o projecto de lei que determinava que os bacharéis em Matemática pela Universidade de Coimbra seriam, em determinadas condições, equiparados aos que tivessem concluído na Escola Politécnica o curso de Estado Maior de Engenharia, podendo também ser admitidos na Escola do Exército; Destaque também para o que extinguia no Estado da Índia vários impostos, substituindo-os pela contribuição industrial (1866) e o que determinava o número de deputados que deviam representar em Cortes os círculos de Macau e de Timor (1870). As sublevações em Angola, em 1860, também motivaram a sua intervenção porque, conforme declarou, tendo exercido um cargo importante na administração daquela província, não podia ficar silencioso. Aquando da discussão do projecto de lei que alterava a pauta geral dos direitos de importação para géneros e mercadorias, incluindo os produzidos nas províncias ultramarinas, usou da palavra para se manifestar contra a ideia da sobrecarga dos géneros produzidos no Ultramar, e apresentou uma proposta para se considerarem os direitos de exportação do café que fossem pagos nos portos de procedência. Posteriormente apoiou também o projecto de lei autorizando o empréstimo de 800 contos destinado a obras públicas nas províncias ultramarinas. Além das questões ultramarinas sobre as quais interveio amiúde, a mais importante intervenção relacionada com interesses do seu círculo eleitoral, reportou-se à situação das arribas da Ericeira que ameaçavam desabar sobre o oceano.

Por carta régia de 29.12.1881, foi nomeado par do Reino Também nesta Câmara fez parte de numerosas comissões, nomeadamente as da Fazenda (1883 a 1886, 1890), Marinha (1884 a 1886, 1893, 1896), Ultramar (1886, 1887, 1896) e Especial para a Reforma Eleitoral (1884). A sua actividade foi exercida sobretudo nas comissões. Usou da palavra para responder às observações de António Augusto de Aguiar sobre o tratado com a Grã-Bretanha, de 26.1.1878, relativo à Índia portuguesa, esclarecendo, entre outros factos, que o governo português não tinha descurado o assunto e que estava a par de tudo o que se tinha feito. Quando se discutiu o parecer sobre o projecto de lei que autorizava a abertura de um crédito de 481.370$000 réis a favor do Ministério da Marinha e Ultramar, para saldar as despesas das províncias ultramarinas no ano económico de 1882-1883, interveio respondendo às afirmações de Pereira Dias sobre os gastos improdutivos das colónias. Fez um discurso em que lembrou que aquelas províncias faziam parte da Monarquia e por isso havia obrigação de atender às suas necessidades como se fazia na metrópole:

Quem tem colónias tem de prover às suas necessidades

e ainda

a conservação das nossas províncias de além-mar é a conservação da nossa autonomia […]. Pouco valeríamos sem elas, nenhuma consideração merecíamos se as não possuíssemos.

Nos últimos anos da sua vida abandonou a política, dedicando-se apenas ao desempenho das funções de director-geral do Ultramar. Tinha o grau de cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e o de comendador da Ordem de Carlos III (Espanha).

(Fonte deste esboço biográfico: aqui.) Ler ainda a nota fúnebre sobre Francisco Costa, aqui.

A ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE LOURENÇO MARQUES, DÉCADA DE 1960

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Imagem retocada.

 

Vista geral da Estação Ferroviária de Lourenço Marques, década de 1960. Ao fundo, a Catembe e a Matola.

30/07/2019

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CASA DE FERRO EM LOURENÇO MARQUES

Este trabalho dedico ao fotógrafo Filipe Branquinho e especialmente à sua Mãe, que recentemente inquiriu, justamente, sobre a Casa de Ferro. Na altura eu pouco mais sabia que ela. Agradeço ainda ao PPT, ao AHM e à Cristina Pereira de Lima, uma filha do Grande Alfredo Pereira de Lima.

A Casa de Ferro, no local onde foi colocada em 1972, tal como se vê hoje.

Então vamos lá.

Introdução

A ideia da construção de edifícios pré-fabricados a partir do fim do Século 18 não surgiu de repente. Resultou de uma combinação de factores: a crescente industrialização, liderada pela Europa e pelos Estados Unidos da América, o surgimento de tecnologias novas, as necessidades surgidas, decorrentes de uma rápida expansão colonial pelos países europeus e nas Américas, e – claro – a guerra.

No caso da casas pré-fabricadas de metal, o aparecimento no Ocidente, das metalúrgicas com enorme capacidade de produção a baixos preços, a invenção em 1829 da chapa de zinco, inventada pelo britânico Henry Robinson Palmer (cuja patente Nº5786, vendeu ao seu carpinteiro Richard Walker, que dela fez várias inovações em termos do seu uso e que expirou em 1843) foram o primeiro passo. O primeiro uso comum de casas pré-fabricadas foi durante a corrida ao ouro na Califórnia em 1849, em que se exportaram para aquela região pequenas casas, armazéns, igrejas, lojas, escritórios, edifícios para a agricultura, etc. A primeira guerra em que foram usadas casas pré-fabricadas em massa foi a Guerra da Crimeia (1853), para as tropas da Grã-Bretanha terem locais secos e seguros para descansarem e guardarem as suas armas e quipamentos. Mas dada a necessidade de poupar ferro, usaram-se muito casas pré-fabricadas em madeira. Mais tarde, a prática – e o conceito – começaram a fazer parte do quotidiano. Na África do Sul, por exemplo, já na década de 1890, era mais comum verem-se casas pré-fabricadas de metal e de madeira que casas de alvernaria construídas de raíz. Aqui, havia uma preferência pelas casas em metal, pela simples razão que estas podiam ser novamente, e facilmente, desmontadas e montadas noutro local. Ainda assim, no exército britânico, permaneceu uma preferência pelo uso de tendas de pano para alojar as tropas, que foram usadas em ambas as guerras para colonizarem os territórios dos boers. Sendo que, no entanto, durante a talvez mais tenebrosa fase da segunda guerra anglo boer (1899-1902), em que os britânicos, abominavelmente recorreram ao uso de um enorme e complexo sistema de “blockhouses” reforçadas, estas foram pré-fabricadas numa combinação de materiais pré-fabricados de madeira e zinco. Cerca de oito mil foram construídas. Ao mesmo tempo, colocaram milhares de mulheres e crianças boer dentro de tendas de pano em campos de concentração em plena planície no interior da actual África do Sul (para chantagear os guerrilheiros boer que continuavam a assediar as suas tropas), tendo milhares morrido pelas tenebrosas condições e que marcou o imaginário do povo boer até estes dias.

Para além de pretender suprir as necessidades dos impérios britânico e americano na segunda metade do Século XIX, foram exportadas casas pré-fabricadas para África, nomeadamente para o Congo Belga, e as colónias francesas.

O caso português foi ligeiramente diferente, pois, com a vaga excepção de São Tomé e Príncipe, na altura em que o cacau local era uma espécie de ouro negro, obtida nas costas dos locais e de gentes importadas do continente africano, e que fez um punhado de milionários portugas, os portugueses fizeram quase rigorosamente nada nas suas colónias, em parte porque praticamente não houve qualquer emigração para as suas colónias, nem havia dinheiro, nem público nem privado. A meu ver, este constitui o grande “excepcionalismo” colonial português: os portugueses (e aqui falo do Estado e do sector privado, não das pessoas) não fizeram nada na África que supostamente era “sua” e o pouco que fizeram, quando fizeram, habitualmente foi tarde, a más horas e nem sequer tentaram envolver as pessoas locais.

Enfim.

A Casa de Ferro dos Primos

Curiosamente, há também uma “casa de ferro” no centro de Luanda, mas esta é absolutamente espectacular e foi espectacularmente restaurada (penso que por aquela empresa brasileira que andou na corrupção e em que todos os seus donos foram dentro lá no Brasil, a mando da Endiama, e custou uns meros 70 milhões de dólares, o que deve querer dizer que ali devem ter sido gastos 10 milhões pelo menos). Mas esta casa, que os Primos chamam Palácio de Ferro, nem sequer foi encomendada. Foi lá parar por puro acaso, um navio qualquer que por lá passou descarregou as peças e aquilo lá ficou, tendo sido comprada por uma companhia colonial que operava em Angola, a CCA. Penso que foi a sua sede durannte uns anos.

 

O Palácio de Ferro em Luanda. Dizem os jornais que foi mandado restaurar pela Endiama para ser um museu do Diamante (ah ah) mas depois de perceberem que não dava, pois devem ter percebido que os diamantes voavam dali para fora em minutos, ofereceram o imóvel ao Ministério Angolano da Cultura, que o vai usar como centro de arte contemporânea. Foto com vénia a Duarte Villas e ao Novojornal em Luanda. Vagamente, faz lembrar a original residência do Governador-Geral de Moçambique em Lourenço Marques, que depois foi apressadamente substituída pelo mastodonte que está hoje na Ponta Vermelha, para receber Oscar Carmona na sua viisita de 1939.

O Caso de Moçambique

No caso de Moçambique, por volta de 1870, as únicas “cidades” com um mínimo que se possa referir – vagamente – como urbanizações organizadas, eram Moçambique (a Ilha) e o Ibo. E ambas, tal como Luanda no outro lado, já eram centenárias e portanto quase medievais. Mas a partir de 1890, quando os britânicos basicamente “caíram” por cima dos portugueses por causa do acesso das suas colónias ao mar, duas novas urbanizações surgiram em Moçambique quase a partir do nada: Lourenço Marques e a Beira.

A pressão foi muito maior no caso de Lourenço Marques, que, de um momento para o outro, se tornou no novo epicentro económico, administrativo, militar e político da colónia. Alvo de todas as cobiças, especialmente de Cecil Rhodes, dos Boers e dos britânicos, os portugueses cedo perceberam que ou controlavam minimamente aquele território, ou o perdiam.

Implausivamente, e apesar do episódico incidente entre o régulo Mataca, que degolou o Tenente Valadim, e um conjunto de revoltas e sublevações, e à custa de alguma medida de ocupação militar, conseguiram um simulacro de ausência de conflito, que foi algo sorrateiramente considerado pelas restantes potências europeias como bastantes e estando em conformidade com os termos acordados em Fevereiro de 1886, na Conferência de Berlim, para a ocupação de África.

Lourenço Marques em Obras

De facto, em Lourenço Marques a tremenda “vassourada urbanística” começara antes, em meados da década de 1870. Para além da Sentença de Mac-Mahon em 24 de Julho de 1875, que, incrivelmente, a Grâ Bretanha, relutantemente, acatou (vingou-se em 1890), houve pouco depois um incêndio na Vila que quase a destruiu (as construções eram quase todas de madeira) e na altura já se percebia que alguma coisa tinha que se fazer ali pois tudo apontava para a necessidade de ali se fazer um porto a sério e uma linha de caminho de ferro para os domínios boer e britânicos a Oeste.

Para sorte dos futuros moçambicanos, em 7 de Março de 1877 desembarcou em Lourenço Marques um homem digamos que providencial: Joaquim José Machado. Um engenheiro que, com uma equipa capaz e com iniciativa, lançou mãos à obra e, nos anos que se seguiram, moldou a urbe que encontraram passando de uma espelunca para uma futura grande capital africana. Em sua honra, eventualmente a actual Praça 25 de Junho se chamaria 7 de Março, em honra destes homens.

Em 1892 Lourenço Marques tinha um problema peculiar. Tendo sido concluído o (mais um…) acordo com os imperialistas britânicos quanto ao formato, mais ou menos final, da futura colónia portuguesa, estando já em curso a construção da linha de caminho de ferro entre Lourenço Marques e Pretória (inaugurada no início de Julho de 1895), prevendo-se a construção do futuro porto, ali ao lado, e ainda o enorme boom no outro lado da fronteira por causa das descobertas de ouro no Witwatersrand e em Barberton (este segundo um falso alarme, digamos), previa-se que a Cidade iria crescer, a sério.

Uma Casa para Sua Excelência

Nessa altura a capital administrativa da nascente colónia ficava a dois mil quilómetros a Norte e era Moçambique (a ilha), que tinha as suas amenidades: um confortável palácio para S.Exa. o Senhor Governador-Geral e a sua excelsa família, escolas, hospitais, lojas, igrejas q.b., serviços administrativos, serviço de telégrafo para Lisboa, embarcadouro, uma brutal fortaleza, edifícios, jardins, praças. Enfim, para o padrão da altura podia-se considerar um sítio “civilizado”.

Na verdadeira espelunca nojenta, insalubre e desoladora que era Lourenço Marques (mas já tinha telégrafo) a única coisa que havia era um hospital militar (que ficava mais ou menos onde hoje estão as escadas da Sé Catedral), ao lado uma igreja meio esquisita ao lado (católica mas com traça anglicana, para variar) e uma modesta, pindérica casa de alvernaria (a primeira da cidade, supostamente) estrategicamente situada no lado oposto da Praça 7 de Março (a actual 25 de Junho), que servia como residência do exmo. Senhor Governador do Distrito. Essa edificação hoje é o Museu da Moeda de Moçambique). Ou seja, a casa ficava no meio do que era então a pequena cidade, ao pé da zona de desembarque original, ao lado do enorme pântano que separava a cidade dos terrenos circundantes (as encostas do Maé e da Maxaquene). Mais grave, a Praça 7 de Março de repente tornara-se o centro social e recreativo da Cidade, apinhada de gente aos fins de semana, banda a tocar, copos de vinho, barulho, confusão a tempo inteiro.

E aqui em 1892 começa a história da Casa de Ferro de Lourenço Marques, mesmo antes de Gungunhana e as suas tribos aliadas tentarem, em Outubro de 1894, fazer uma investida na pequena cidade do Sul da Colónia, motivando a vinda de, entre outros, o Sr. António Ennes e um obscuro major, Mouzinho de Albuquerque.

Casa Precisa-se

Nesse ido ano de 1892, alguém na Ilha de Moçambique, ligado ao gabinete de S.Exa o Senhor Governador-Geral, na altura o insigne Rafael Jácome de Andrade, teve a ideia peregrina de que o Senhor Governador do Distrito de Lourenço Marques, o mais alto dignitário no então Distrito mais a Sul da nascente colónia, precisaria, com urgência, de uma nova casa, noutro sítio talvez menos denso e insalubre e mais digno do estatuto de Sua Excelência.

E quem era o Governador do Distrito de Lourenço Marques entre 1890 e 1892?

Um tal Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque.

Pois, esse mesmo.

E, ainda, esse alguém se lembrou que talvez o melhor e mais expedito fosse encomendar na Europa, uma casa pré-fabricada, e mandar trazê-la para Lourenço Marques.

Segundo uma declaração de Bertrand Lemoine, um arquitecto francês que é considerado um perito na obra de Gustave Eiffel, numa entrevista concedida a Anne-Lise Carlos do jornal parisiense Le Monde (edição de 9 de Agosto de 2019), o presumível responsável pelo desenho e construção da Casa de Ferro é o engenheiro belga Joseph Danly, na sua fábrica Societé Annonyme des Forges d’Aiseau, na Bélgica.

Sucede que o Governador do Distrito de Lourenço Marques(João Canto e Castro, anos mais tarde 5º presidente da I República portuguesa, durante cerca de um ano, após o assassinato de Sidónio Pais) e sucessor de Mouzinho de Albuquerque, disse que não queria viver numa casa de ferro. Portanto o erário pagara uma casa pré-fabricada que não servia e a que urgia dar uso diverso.

A casa pré-fabricada em Lourenço Marques.

 

A Casa de Ferro manteve quase exactamente o aspecto original que tinha em 1892.

 

Esta foi a nova residência para uso pelo Governador do Distrito de Lourenço Marques. Imagem de 1901 (em A Souvenir of Lourenço Marques).

O que se segue é contado por Alfredo Pereira de Lima no seu Edifícios Históricos de Lourenço Marques e ainda, paulatina e muito chatamente, por Eduardo de Noronha no seu vôo rasante sobre o Sul de Moçambique, publicado em 1895, intitulado O Districto de Lourenço Marques e a África do Sul, que ele considerou um “estudo” e que o Exmo. Leitor pode ler a partir da ligação que inseri nas notas em baixo.

Segundo o Alfredo Pereira de Lima, Rafael de Andrade ainda tentou resolver o assunto ali propondo a instalação do tribunal de Lourenço Marques, mas a Câmara opôs-se. Após umas trocas de galhardetes, Eduardo de Noronha conta como foi:

O governador geral, Raphael de Andrade, ofereceu em 16 de março de 1893, ao bispo de Himéria [o célebre António Barroso que viria a dar o nome a um conhecido colégio de Lourenço Marques], a casa de ferro que se tinha mandado vir da Bélgica com destino á residência do governador, e que nunca fora aproveitada, a fim de ali se installar um estabelecimento de beneficiencia.

A portaria nº133 de 21 desse mesmo mez e anno, cria um instituto de ensino para o sexo feminino, regido por irmãs hospitaleiras; denomina-o de Dona Amélia, em homenagem a Sua Majestade a Rainha; entrega-lhe um fundo de 500.000 réis e manda que a Câmara Municipal pague um subsidio de 300.000 réis, determinando que as reparações sejam feitas por conta das Obras Públicas.

O instituto foi inaugurado com toda a pompa [18 de Agosto de 1895, cinco meses antes da Batalha de Marracuene] , assistindo á cerimónia as auctoridades, vereadores, funccionarios de todas as categorias e muito povo.

O Fernando prossegue, um pouco mais lírico, o seu relato:

A creação deste estabelecimento [representa] incontestavelmente um grande progresso; as religiosas que exercem uma das missões mais simpathicas da colónia, tem sabido chamar a si as creancinhas, e no seu affectuoso trato, que não conhece raças nem distingue cores, transformam aquelles entes, votados a uma boçal ignorância, em seres aproveitáveis, que serão um dia mães, e que ensinarão aos filhos o amor por si, amor que lhes foi inoculado pela catechese sensata o meiga das caritativas senhoras.

Dá gosto entrar ali. Na sala ampla, alta, arejada, echôa um chilrear de sons infantis, escalas alegres de gargalhadas crystallinas, que o olhar bondoso da professora não consegue reprimir. Distribuídos pelas carteiras, ou apinhados n’um grupo em volta da pedra, aquellas becas azougadas formam como que um tapete matizado das mais caprichosas cores; ali uma pretinha retinta, aqui uma mulata, acolá uma mestiça, alem uma india, mais perto uma chineza,
longe uma branca, e n’esta gradação de tons, a emoldurar-lhes os rostos buliçosos e joviaes, rtas e crespas carapinhas, cabellos annellados, tranças corredias, cabelleiras naturalmente fri- das. O vestuário typico e bizarro concorre poderosamente para o eflfeito geral; esta ostenta da capulana garrida onde predomina o vermelho, aquella cinge-se num quimão -, aqueiroutra daça o pescoço com grossas fiadas de missanga multicolor ; a maior parte traja á europêa, preferindo sempre os tecidos vistosos; ao fundo, as irmãs, envoltas no austero habito azul, rosário mdente, toalha de neve a circumdar-lhe a face.

Ha ali uma recordação vaga da familia, uma saudade intensa das caricias que nos fizeram a pequenos, um respeito que nos empolga, uma veneração que nos subjuga. A espada pesa mais que de costume, o tilintar do ferro desagrada, o fardamento incommoda, os conhecimentos militares fogem, varre-se da alma a profissão ; ha uma vontade quasi irresistível de começar a beijar toda aquella creançada, tão diversa na sua origem ; experimenta-se a cominoçUo indefinida de uma cousa que se sente e se não explica, e sem querermos, saímos d’ali com a convicção que aquellas duas mulheres, sós, expatriadas, abandonando as suas mais caras affeições, tendo por norma o progresso, por bordilo a crença, por alvo a civilisação, valem mais do que todo um exército.

Santa paciência com esta escrita do Século XIX.

Mesmo antes de ser despachada para as irmãs caritativas, ainda se tentou antes a ideia de ali se fazer um tribunal. Só que na altura tinha-se aparafusado a casa num sítio que na altura ficava não só situado nos confins da Cidade, como num sítio particularmente poeirento e arenoso e com um acesso digamos que questionável. Ir lá a pé ou de carroça era uma verdadeiro suplício. Todos protestaram ruidosamente, incluindo os senhores do tribunal, que achavam ser uma vergonha ter o tribunal da Cidade num edifício daqueles. Por isso, ficou o tal de Instituto Dona Amélia, que todos, como o nosso Fernando em cima, elogiaram carpidamente, safando o Governo da Colónia de mais uma barraca.

Entra Escola, sai Escola, entram Serviços Geográficos e Cadastrais

E assim seria até à I República em 1910, quando, no espasmo de raiva anticlerical e rigor republicano que caracterizaria o novo regime português, as freiras foram corridas dali e o nome da rainha Amélia apeado. O ensino era tirado à Igreja e revertia para o controlo do Estado – uma das suas mais estridentes bandeiras. Fez-se então ali uma escola pública, entregando-se a sua utilização à mais republicana e maçónica Sociedade de Instrução e Beneficiência 1º de Janeiro, que ali operou, por uns tempos a Escola João de Deus (em homenagem ao então defunto e lendário criador da Cartilha Maternal).

Entre 1912 e 1918, ali funcionou, provisoriamente, o primeiro Liceu da Cidade (e penso que de Moçambique) a que deram o nome da data do golpe de Estado republicano: 5 de Outubro.

Com o crescimento da população, foram-se fazendo edifícios para escolas e eventualmente ali instalaram no edifício a Agrimensura, mais tarde designada Direcção dos Serviços Geográficos e Cadastrais de Moçambique, .

Durante as décadas que se seguiram, a Casa de Ferro fez, feia e com aquele aspecto esquisito de pré-fabricado aparafusado,  o seu serviço, discreta senão completamente esquecida, enfiada dentro de um obscuro quarteirão algures na Encosta entre a Baixa e o Alto-Maé. No início dos anos 60, só mesmo quem trabalhava ou ia fisicamente à Direcção Provincial dos Serviços Geográficos e Cadastrais, é que tinha uma mínima noção de que havia ali um edifício esquisito e meio decrépito, feito de ferro. Ninguém sabia o que era e de onde via. Era mais uma velharia de Lourenço Marques.

Jorge, um topógrafo geómetra, actualmente reformado, trabalhando na Casa de Ferro, então situada no jardim exterior da Direcção dos Serviços Geográficos e Cadastrais de Moçambique, em Lourenço Marques, com os seus colegas Silva Carvalho e Pimentel, anos 60. Imagem copiada e retocada, com vénia, do seu blogue Azimute.

A Casa de Ferro era mais ou menos desconhecida em parte porque ficava num sítio perfeitamente escondido da Cidade, quase apenas conhecido dos empregados e frequentadores da velha Agrimensura. Poucos sequer sabiam da sua existência, mais um dos seus muitos exotismos arquitectónicos – e que eram mais do que muitos, desde palacetes exóticos a deslumbrantes e humildes casas de zinco e madeira com rendilhados e cores exuberantes, a simples mas encantadoras palhotas de caniço.

A intervenção de Alfredo Pereira de Lima e da Comissão dos Monumentos Históricos de Lourenço Marques

Tudo o que hoje sabemos e vemos na Casa de Ferro se deve, na minha opinião, a uma pessoa: Alfredo Pereira de Lima. Que, por isso, merece aqui o destaque que lhe dou.

Mais do que a Comissão dos Monumentos Naturais e Relíquias da Cidade, a que pertenceu, foi Pereira de Lima que não só reabilitou o assunto da Casa de Ferro, documentando o seu percurso e o seu lugarzinho na história da Cidade, como ainda foi ele que, ao longo de mais uma década, escrevendo cartas e artigos no Notícias de Lourenço Marques, se bateu pela reabilitação e valorização da Casa de Ferro, e, não menos importante, a sua relocalização para um lugar de destaque na Cidade, e o seu aproveitamento histórico e turístico.

O que sucedeu foi que, penso que em meados dos anos 60 os Serviços Geográficos e Cadastrais fizeram novas instalações. Nesse processo, desmontou-se a então já algo decrépita Casa de Ferro, cujas partes, algumas meio enferrujadas, foram colocadas num canto dum terreno camarário. Provavelmente não fosse Pereira de Lima, então historiador dos Caminhos de Ferro de Moçambique (e o autor do mais incontornável, autoritativo e absolutamente magnífico trabalho sobre a história dos CFM, que se confunde com a própria construção do País) estas linhas nunca seriam escritas.

Como referi, parte do problema original é que quase ninguém em Lourenço Marques sequer conhecia o edifício. A razão é a sua localização original:

Mapa de LM de 1903, a que dei uma martelada para ilustrar porque é que quase ninguém sabia da Casa de Ferro no final da década de 1960.  A – localização da Casa de Ferro até ao início da década de 1960, antes de ser desmontada, enfiada no meio de um quarteirão no meio de nenhures; B – localização onde foi colocada para alojar o Museu dos Serviços Geográficos e Cadastrais de Moçambique em 1972, em plena Avenida Dom Luiz, tornando-se numa referência turística. Outras curiosidades: 1 – a original Igreja de NS da Conceição; 2 – Residência do Cônsul da Grâ-Bretanha; 3 – Hotel Clube; 4 – Casa do Pott, junto ao Jardim Botânico de LM, a Verde; 5 – Bazar de Lm na Praça Vasco da Gama; 6 -Avenida Buildings; 7- Prisão, depois Imprensa Nacional; 8 -Paiol; 9- Câmara Municipal; 10 – Mesquita Velha; 11 – primeira casa de alvernaria de LM e residência do Governador do Distrito (agora “Casa Amarela”); 12 – Praça Azeredo, futura Praça Mac-Mahon e agora Praça dos Trabalhadores; 13 – Casa dos Azulejos; 14 – Praça 7 de Março, actual Praça 25 de Junho; e 15 – Presídio de Lourenço Marques, junto do qual existiu o Capitania Building e a que agora chamam (à obra de Pancho Guedes) “fortaleza”.

Penso que o toque de génio, foi a combinação do levantamento histórico, do restauro, da relocalização e o uso como museu, estiveram na base do sucesso e valorização patrimonial da Casa de Ferro.

A entrada do Jardim vasco da Gama, final da década de 1950. À esquerda, o terreno onde se ergueria, no início da década de 1970, a Casa de Ferro. Nesta altura era basicamente um quintal murado de uma casa.

Vendida a ideia e assegurados os fundos para o projecto, as componentes da Casa de Ferro foram cuidadosamente restauradas, arranjou-se um terreno bem localizado numa ponta do quarteirão onde está situado o Hotel Club, bem mais no centro da Cidade e muitíssimo mais visível. Os Serviços Geográficos e Cadastrais organizaram um museu (supostamente em homenagem a Gago Coutinho, entre outras coisas um excelente topógrafo que ajudou a delimitar as fronteiras do que hoje é Moçambique).

A Casa de Ferro a ser novamente montada após o restauro das peças, no terreno junto à entrada do Jardim Vasco da Gama, 1971.

 

Aspecto do interior do edifício a ser reconstruído. Note-se que todas as peças estavam numeradas.

O rés-do-chão acabado. Ao fundo o Prédio do Montepio (ou da TAP).

A Casa concluída e pronta a inaugurar, 1972.

Dia da inauguração do novo Museu da Cidade, penso que Outubro de 1972. O Governador-Geral, Eng. Pimentel dos Santos, chega ao local e é cumprimentado por pessoas que não identifiquei.

O Governador-Geral de Moçambique visita o nnovo Museu da Cidade.

O Governador-Geral sai do edifício após a inauguração.

Interior do Museu, 1972.

Outra imagem do interior.

Interior.

Interior, 1972.

Interior, 1972.

Notas Finais

Após a independência a Frelimo, ao que parece, desmantelou o museu. O edifício em seguida teve usos diversos e penso que agora é usado por um organismo do Estado moçambicano.

No entanto, a sua valorização enquanto monumento manteve-se e hoje é um local de visita quase obrigatório para a única indústria que tem alguma chance de ajudar os moçambicanos: o turismo.

Se a Casa de Ferro ainda existe, muito se deve a um conjunto de interessados com visão, de que se realça a intervenção de Alfredo Pereira de Lima (que também desempenhou um papel importante na preservação das chamadas Fortaleza e Casa Amarela). O passado da grande capital de Moçambique, que é colonial na sua parte edificada, merece respeito, merece ser estudado e preservado. Pois é parte integrante da história do país e quem não sabe de onde veio, dificilmente sabe para onde vai.

Existem alguns líricos que, por razões que não entendo, inventaram a história de que o engenheiro e empresário francês Gustave Eiffel (ver a biografia dele na ligação em baixo) teve alguma coisa a ver com a Casa de Ferro. Ao que apurei, isso é completamente falso. Como é totalmente falso que Eiffel terá tido seja o que for a ver com a cúpula da Estação dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques. O que se sabe é que o edifício foi mandado vir da Bélgica onde de facto havia na altura fábricas que as faziam, mas de momento nem se sabe em qual foi fabricado. Se o exmo Leitor quiser ver obras de Eiffel viaje até Portugal, onde há várias obras da sua autoria, de que destaco, claro, a Ponte Dona Maria Pia na Cidade do Porto, que não só é da sua autoria como foi uma obra crucial para a sua carreira.

Interior da entrada da Casa de Ferro, recentemente. O mobiliário é, no mínimo, questionável.

 

FONTES E DADOS ADICIONAIS

http://housesofmaputo.blogspot.com/2016/01/casa-de-ferro-institutos-d-amelia-e.html

Click to access 146463385.pdf

https://pt.wikipedia.org/wiki/Gustave_Eiffel

https://archive.org/stream/odistrictodelou00norogoog/odistrictodelou00norogoog_djvu.txt

https://kanimambo-carlos.blogspot.com/2014/01/africa-mocambique-13.html

https://sgcmocambique.blogspot.com/

Alfredo Pereira de Lima, Edifícios Históricos de Lourenço Marques.

29/07/2019

OS EFEITOS DO CICLONE CLAUDE NA ENCOSTA DA MAXAQUENE EM LOURENÇO MARQUES, 1966

O Ciclone Claude, que se abateu sobre a zona de Lourenço Marques em Janeiro de 1966, teve um considerável impacto sobre a Cidade. Um deles, que me recordo relativamente bem (tinha seis anos de idade) foi que não houve água canalizada em toda a Cidade durante vários dias. Para colmatar a falta de água canalizada, durante dias eu lembro-me de tomarmos banho no quintal com baldes de água, tirada de bidons que o meu Pai tinha colocado nas caleiras de recolha da água da chuva do telhado. Pouco tempo depois, o meu Pai mandara construir um depósito de água com dois mil litros, sobre a varanda de trás da casa onde habitávamos na Rua dos Aviadores (e onde eu, à sucapa, em dias quentes, ia tomar banho às escondidas). De facto, penso que em resultado do Claude, tornou-se mandatório, ou pelo menos habitual, todos os prédios da Cidade terem depósitos de água.

Mas o impacto mais visível,, para mim, que ali passava todos os dias quando ia de casa nadar para a piscina do Desportivo, foi o desabar da Barreira da Maxaquene, situada entre o Hotel Cardoso e a ponta do Liceu Salazar (o agora Josina Machel). Foi uma pequena calamidade. Anteriormente, a Barreira da Maxaquene era mesmo uma barreira – mal se podia passar ali, pois a vegetação ali era mato cerrado. Havia apenas umas duas ou três passagens que permitiam uma pessoa descer até à zona do Sporting e do Desportivo.

E a orla da Barreira ficava situada muito mais à frente do que se vê actualmente e era muito mais íngreme. Tanto assim que o terreno onde está o pequeno jardim em frente ao Liceu era muito maior e ali havia um excelente miradouro sobre a parte Baixa da Cidade e a Baía.

A Barreira da Maxaquene em frente ao Liceu Salazar antes do Ciclone Claude, que aconteceu em Janeiro de 1966. Veja a mesma imagem em baixo, anotada.

O Claude mudou isso tudo e instalou o caos virtual, pois o mato ali cedeu e a barreira desabou para o Aterro da Maxaquene, criando uma situação instável na parte alta da Cidade.

A linha vermelha indica, aproximadamente, os efeitos do Ciclone Claude. O então Parque Silva Pereira ficou praticamente cortado em metade, desaparecendo o seu Miradouro (ver nº6). Outras anotações: 1) Liceus Salazar e Dona Ana da Costa Portugal; 2) Museu Álvaro de Castro; 3) Praça das Descobertas; 4) Hotel Cardoso; 5) Parque Silva Pereira.

Levou uns dois a três anos à Câmara Municipal a encontrar uma solução para o problema, que passou pela criação de uma nova barreira mais inclinada, coberta com um matope barrento cinzento escuro no qual crescia uma erva resistente, com linhas horizontais de captação de água, que iam desembocar em linhas descendentes de cimento, que escoavam as águas pluviais em segurança.

Na parte de cima da Barreira, foi desde logo esboçado um acesso viário, que futuramente deveria descer da Praça das Descobertas para a zona do campo de futebol do Desportivo (e que nunca foi construído). Foi esse acesso que resultou na destruição do miradouro do então Parque Silva Pereira e na sua considerável diminuição.

Assim, em 1968, ao contrário das restantes barreiras na orla da Baixa e da Estrada Marginal, a Barreira da Maxaquene não tinha qualquer vegetação para além do que acima descrevo, o que até deu para ali realizar algo de original: a exibição de uma peça de teatro, penso que um Auto de Natal, na base da Barreira, vista por milhares de residentes da Cidade, penso que em Dezembro de 1968, em que a multidão se sentava na Barreira. Foi durante o primeiro ano do mandato de Baltazar Rebelo de Sousa e se não me engano a iniciativa fora da sua Mulher.

As Barreiras da Maxaquene em obras após o desastre do Ciclone Claude, cerca de 1966-1967. A seguir aos trabalhos de terraplanagem, foi instalado um sistema de irrigação de águas pluviais. Foi neste preciso local que se realizou o tal Auto de Natal de que falo em cima.

28/07/2019

A MISSÃO DE NOSSA SENHORA DE INHASSUNGE, 1970

Imagem dos arquivos da Fundação Calouste Gulbenkian, retocada.

 

A fachada da Missão.

TOURADA EM QUELIMANE, 1951

Filed under: Tourada em Quelimane 1951 — ABM @ 23:24

Imagem retocada.

 

O pessoal na tourada.

EULÁLIA DUARTE COM GUILHERME DE MELO EM LOURENÇO MARQUES, DÉCADA DE 1960

Imagem retocada.

Eulália Duarte foi uma fadista muito conhecida em Moçambique. tendo adicionalmente gerido as casas de fado Tertúlia e Adega da Madragoa em Lourenço Marques. Em 1972, foi proclamada Rainha do Fado. Para saber mais sobre o fado em Moçambique, ver aqui.

Guilherme de Melo (Lourenço Marques 1931- Lisboa 2013) foi um jornalista e escritor.

Eulália Duarte. ao centro, com Guilherme de Melo, à esquerda. Não sei quem é o senhor à direita.

 

Eum fado de Eulália:

O MARECHAL CRAVEIRO LOPES VISITA NUNO CRAVEIRO LOPES EM LOURENÇO MARQUES, 1961

Imagem retocada.

 

O Marechal Francisco Higino Craveiro Lopes em 1961, de visita ao seu filho Nuno Craveiro Lopes em Lourenço Marques, exibindo ainda o luto pelo falecimento da sua esposa Berta (e Mãe de Nuno), ocorrido no final do seu mandato como presidente da república portuguesa em Julho de 1958. Craveiro Lopes casou com Berta em Lourenço Marques (onde ela estava a viver) em 22 de Novembro de 1918. Nuno, um arquitecto com talento – entre outros projectos, concebeu a Igreja de Santo António da Polana – viveu em Lourenço Marques durante vinte anos, atè à sua morte prematura em 1972.

26/07/2019

O CAFÉ SCALA EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 50 E 70

Filed under: Café Scala LM, LM Café Scala — ABM @ 04:54

Imagens retocadas.

 

O Scala no final dos anos 50.

 

O Scala no início dos anos 70. Ao fundo, vê-se o Prédio 33 Andares em construção.

20/07/2019

MULHER SHANGANA, INÍCIO DO SÉCULO XX

Filed under: Mulher Shangana 1900 — ABM @ 14:21

Imagem retocada.

 

Mulher shangana em traje típico, início do Séc. XX.

ANÚNCIO DA MINERVA CENTRAL EM LOURENÇO MARQUES, DÉCADA DE 1950

Filed under: Papelaria Minerva Central — ABM @ 14:21

Imagem retocada.

 

O anúncio da Minerva Central, no verso de um postal.

17/07/2019

A ACLAMAÇÃO DO REI DOM MANUEL II EM LOURENÇO MARQUES, 1908

Imagem retocada, da revista Ilustração Portuguesa, 1908.

 

As cerimónias fúnebres por D. Carlos I, assassinado com o seu filho o Príncipe Luiz Filipe, em Lisboa no dia 1 de Fevereiro de 1908, e a aclamação de D. Manuel II,  em frente à então Câmara Municipal de Lourenço Marques, 1908.

16/07/2019

O PRIMEIRO TEATRO GIL VICENTE NA BAIXA DE LOURENÇO MARQUES, 1915

Imagem retocada, retirada da Ilustração Portuguesa.

Houve dois teatros Gil Vicente em Lourenço Marques.

O primeiro Teatro Gil Vicente foi inaugurado em 8 de Setembro de 1913 e ficava situado na entrada da Rua Lapa do lado direito, onde mais tarde se fez o Prédio Fonte Azul e a Papelaria Académica. Ardeu na noite de 7 de Novembro de 1931. O seu dono, Manuel Rodrigues, decidiu então fazer um teatro novo, em estilo art deco, num terreno situado a meio da Avenida Aguiar (depois Avenida Dom Luiz e actualmente a Avenida Marechal S. M. Machel), com o mesmo nome, que inaugurou em 8 de Agosto de 1933 – e que ainda existe.

O primeiro Teatro Gil Vicente, durante a I Guerra Mundial, cerca de 1915, no início da Rua Joaquim da Lapa, do lado direito, onde hoje está o Prédio Fonte Azul..

Os teatros foram obra de Manuel Rodrigues, um português oriundo da cidade portuguesa de Bragança, que tinha 27 anos em 1897, quando chegou a Lourenço Marques, em busca de oportunidades. Em 1907 inaugurou o primeiro cinema da capital moçambicana, o Salão Edison, que, em 1913, daria lugar ao Teatro Gil Vicente. Em 1948, os seus filhos inaugurariam o Teatro Manuel Rodrigues (hoje, o “África”) na altura dos mais modernos e sofisticados de África.

Posteriormente, os teatros foram confiscados pela Frelimo e depois encaminhados para usos afins.

 

15/07/2019

MULHERES NUMA LIVRARIA EM LOURENÇO MARQUES, DÉCADA DE 1950

Filed under: Mulheres numa papelaria em LM 1950s — ABM @ 17:22

Imagem retocada.

 

Possivelmente estão na Minerva Central, mas não tenho a certeza. Se algum dos exmos Leitores souber algum detalhe, por favor escreva uma nota para aqui.

O CR-ACT “INCOMÁTI” EM ANTÓNIO ENNES, 1954

Imagem retocada.

A cidade moçambicana de António Enes foi antes e voltou, depois, a chamar-se Angoche.

O Incomáti na pista de António Ennes.

13/07/2019

MARY E PIETER EM LUA DE MEL EM LOURENÇO MARQUES, 1951

Imagem retocada e pintada por mim, gentilmente cedida pelo muito simpático dono do blog Vrystaat Confessions,. A imagem é dos seus Pais, em 1951. Depois de se casarem no Estado Livre do Orange, na então União Sul-Africana, compraram um velho e duvidoso carro e seguiram em lua de mel para….Lourenço Marques.

Photo retouched and handpainted by me, generously allowed to be placed here by the very nice owner of the blog Vrystaat Confessions,. The image is of his parents, Mary and Pieter, from 1951. After they got married in the Orange Free State, in the then Union of South Africa, they bought and old car and went for their honeymoon to…. Lourenço Marques.

 

Mary, descalça, com Pieter, posam junto às escadas que davam para a Praia da Polana em Lourenço Marques, durante a sua lua de mel, 1951. Mesmo à sua direita, ficava o Pavilhão de Chá da Polana e, a seguir, o Clube Naval de Lourenço Marques. Atrás, a Baía.

A ORQUESTRA TÍPICA DO RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE, 3 CANÇÕES, 1974

Gravação, em stereo (!), feita em 1974, de três canções típicas portuguesas, no Rádio Clube de Moçambique, interpretada pela Orquestra Típica do Rádio Clube de Moçambique, dirigida por António Gavino. Disponibilizada hoje por Miguel Catarino num sumptuoso canal que ele tem na plataforma Youtube.

Para ver, prima AQUI que o leva até à conta do Miguel.

Estas músicas não fazem bem o meu estilo, que na altura era mais Frank Sinatra, jazz e música clássica, mas aqui fica para conhecimento.

Na apresentação desta gravação, o Miguel escreveu o seguinte:

Fundada em 1961 por si, e dirigida pelo próprio até à independência, a Orquestra Típica do Rádio Clube de Moçambique foi a responsável pela divulgação da Música Tradicional Portuguesa em terras de Lourenço Marques, com concertos semanais às sextas-feiras, que eram muito aplaudidos pelo público e pela crítica, que afirmava com um sentimentalismo e saudosismo intoleráveis que: “a figura de Belo Marques é recordada com saudade cada vez que a Orquestra Típica actua”.
Quando na verdade, apesar da presença evidente da referência do dito “principiante”, tal como dizia o próprio sobre si, e tal como foi para o outro lado da vida, imperava com mais força o espírito criativo de António Gavino, responsável de cerca de 1600 orquestrações no Rádio Clube, e que lhe valeu em 1965 o título de Melhor Compositor de 1965 do Festival da Imprensa de Lourenço Marques.
Eis aqui três dessas 1600 orquestrações providenciadas pelo fundador das Orquestras Típicas de Alcobaça, Rio Maior e Santarém (Scalabitana), e que sugiro que me digam como se chamam originalmente, tanto a especialistas como aos meus regulares espectadores.

11/07/2019

A ENTRADA DO JARDIM VASCO DA GAMA EM LOURENÇO MARQUES, 1960s

Imagem retocada.

 

A entrada principal do Jardim Vasco Gama em Lourenço Marques, virada para a (então) Avenida Dom Luis, década de 1960. Em primeiro plano, o pequeno monumento ali colocado aquando da, e apara assinalar, a visita de Óscar Carmona, a primeira de um chefe do Estado português a Moçambique, em 1939, mesmo antes de começar a II Guerra Mundial. O arco com decorações ao estilo Manuelino foi ali colocado e inaugurado em 1924, quando o nome do jardim, que desde a década de 1890 se chamava simplesmente Jardim Botânico Municipal, se passou a chamar Jardim Vasco de Gama, assinalando o quarto centenário da morte, na Índia, do épico navegador português. A alteração da desigação coincidiu com uma substancial melhoria do jardim, sob a tutela do britânico Thomas Honey.

10/07/2019

ESBOÇO DE ANÚNCIO DA FÁBRICA DE CERVEJAS REUNIDAS EM LOURENÇO MARQUES, 1940

Imagem retocada, de um esboço publicitário a lápis, para publicar em revistas e jornais, alusivo aos oito séculos da fundação de Portugal (1140-1940), encomendado pela empresa, «Fábricas de Cerveja de Lourenço Marques». Idealizado e criado por António Cruz Caldas.

 

O esboço. Uma espécie de Leni Riefenstahl à portuguesa. Não sei se o esboço foi usado.

BANQUETE NO PALÁCIO DA PONTA VERMELHA EM LOURENÇO MARQUES, 1959

Imagem retocada.

 

O jantar num dos salões da residência do Governador-Geral de Moçambique. A ocasião foi a visita a Moçambique do sub-secretário da Educação Nacional português, não sei o seu nome mas era colega dum então mais jovem Baltasar Rebelo de Sousa.

09/07/2019

A ESCOLA DE MACIENE NOS LIBOMBOS, 1971

Filed under: Libombos Escola de Maciene 1971 — ABM @ 23:26

Imagem dos arquivos da Fundação Calouste Gulbenkian, retocada.

 

O edifício em construção.

VISTA AÉREA DE LOURENÇO MARQUES, FINAL DA DÉCADA DE 1950

Imagem retocada.

O que se pode ver nesta imagem:

  1. Na Catembe ainda havia pouca construção;
  2. A FACIM ainda não existia e a zona do Aterro de Maxaquene ainda estava praticamente intocada e coberta de eucaliptal;
  3. Ainda havia poucos prédios na Maxaquene e na Polana;
  4. O Hotel Cardoso ainda tinha apenas um andar;
  5. À direita, já se vêm os campos de futebol do Sporting (1933) e do Desportivo (1949)
  6. Mais importante, as Barreiras da Ponta Vermelha e da Maxaquene ainda eram muito maiores e cobertas de mato denso. Isso seria radicalmente alterado pelos efeitos do Ciclone Claude (Janeiro de 1966) e das alterações levadas a cabo na sua sequência. O Parque Silva Pereira, em frente ao Liceu Salazar (1952), por exemplo, será significativamente reduzido e quer à sua frente, quer na Ponta Vermelha, em meados dos anos 60, serão feitos aterros para se segurar as barreiras e abrirem novas vias que ligariam a parte Alta da Cidade (Polana e Ponta Vermelha) com a Baixa. De facto em 1974 seria concluída a actual via (que incluiu a construção de um viaduto) ligava a Estrada Marginal na zona do Clube de Pesca com a Ponta Vermelha. Já a via que ligaria a Praça das Descobertas (em frente ao Museu Álvaro de Castro), responsável pela significativa redução do Parque Silva Pereira, e pela destruição do Miradouro que ali havia (ver em baixo), nunca foi construída até esta data. Mas os aterros feitos ali ainda se podem detectar.

 

Vista da Cidade, segunda metade da década de 1950.

 

O Miradouro do Parque Silva Pereira, em frente ao Liceu Salazar (actual Josina Machel) na primeira metade da década de 1960 mas antes da devastação causada pelo Ciclone Claude (início de Janeiro de 1966), em que desapareceria e o actual jardim é cerca de metado do antigo parque. Em segundo plano, o estádio coberto do Sporting de Lourenço Marques uma grande obra do clube na sequência da ida de Eusébio para…o Benfica de Lisboa.

07/07/2019

SÊLO DE PEIXE DE MOÇAMBIQUE, 1952

Filed under: Sêlo de Peixe 1952 — ABM @ 16:11

Imagem retocada.

Os anos 50 parecem-me ter sido anos de ouro da filatelia de Moçambique, com a produção de obras de arte como a que se vê aqui.

O postal e o sêlo de um dos peixes da colecção de peixes tropicais de Moçambique, 1952.

CARLOS ALBERTO E O VELHO LEÃO NA GORONGOSA, DÉCADA DE 1960

Imagem retocada.

Imagem de Carlos Alberto, o melhor fotógrafo de sempre em Moçambique, tirada no Parque Nacional da Gorongosa, no local que veio a ser conhecido como a Casa dos Leões. Postal nº110, editado pela Agência de Viagens e Turismo. Beira, década de 1960.

A seguir à independência de Moçambique, a região do Parque tornou-se o foco da guerra entre a Frelimo e a Renamo, cuja base ficava situada ali. Durante esses anos, quase todos os animais foram mortos na Gorongosa. Desde há uns anos, a actual administração do Parque tem feitos esforços para restaurar alguma da fauna que ali existiu.

A fotografia de Carlos Alberto. A legenda: “ontem, casa de homens, hoje, de leões”.

06/07/2019

UMA JANELA MOÇAMBICANA EM LISBOA, POR MALUDA

Filed under: Janela de Lisboa Maluda, Maluda - Artista — ABM @ 21:27

Imagem retocada.

Para ler um esboço biográfico de Maluda, uma portuguesa do Império e que tem uma marcada costela cultural moçambicana, e ainda ver a sua fotografia, ver em baixo e aqui.

 

JANELA EM LISBOA.

 

Esboço biográfico de Maluda (fonte: Wikipédia, texto editado por mim)

Maluda, nascida Maria de Lourdes Ribeiro, foi uma pintora portuguesa, que viveu em Lourenço Marques, entre 1948 e 1963, ou seja, entre os 13 e os 29 anos de idade.

Maluda nasceu na cidade de Pangim, perto de Goa, no Estado Português da Índia, em 25 de Novembro de 1934. Em 1948 foi viver para Lourenço Marques (a actual Maputo), presumivelmente a reboque dos pais, cidade onde começou a pintar e onde formou, com mais quatro pintores, um grupo que se intitulou “os Independentes”, que expôs colectivamente em 1961, 1962 e 1963. Em 1963 obteve uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian e viajou para Portugal, onde trabalhou com o mestre Roberto de Araújo em Lisboa. Entre 1964 e 1967 viveu em Paris, como bolseira da Gulbenkian. Aí trabalhou na Académie de la Grande Chaumière com os mestres Jean Aujame e Michel Rodde. Foi nessa altura que se interessou pelo retrato e por composições que fazem a síntese da paisagem urbana, com uma paleta de cores muito característica e uma utilização brilhante da luz, que conferem às suas obras uma identidade muito própria e inconfundível.

Em 1969 realizou a sua primeira exposição individual na galeria do Diário de Notícias, em Lisboa. Em 1973 realizou uma exposição individual na Fundação Gulbenkian, que obteve grande sucesso, registando cerca de 15.000 visitantes e que lhe deu grande notoriedade em Portugal a partir de então. Entre 1976 e 1978 foi novamente bolseira da Fundação Gulbenkian, estudando em Londres e na Suíça. A partir de 1978 dedicou-se também à temática das janelas (ver exemplo em cima), procurando utilizá-las como metáfora da composição público-privado. Em 1979 recebeu o “Prémio de Pintura” da Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa. Nesse ano realizou ainda uma exposição na Fundação Gulbenkian em Paris.

A partir de 1985, Maluda foi convidada para fazer várias séries de selos para os Correios de Portugal (CTT). Dois selos da sua autoria ganharam, em duas ocasiões na World Government Stamp Printers Conference, em Washington, em 1987 e em Périgueux (França), em 1989, o prémio para o melhor selo do mundo.

Em 1994 recebeu o prestigiado “Prémio Bordalo Pinheiro”, atribuído pela Casa da Imprensa. No âmbito da “Lisboa Capital da Cultura”, realizou uma exposição individual no Centro Cultural de Belém em Lisboa.

Já doente com um cancro no pâncreas, em 13 de outubro de 1998, o então Presidente da República português, Jorge Sampaio, deu-lhe uma condecoração, ao mesmo tempo que realizou a sua última exposição individual, “Os selos de Maluda”, patrocinada pelos CTT.

Morreu em Lisboa no dia 10 de fevereiro de 1999, com 64 anos de idade.  Está sepultada no Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. No seu testamento, a artista instituiu o “Prémio Maluda” que, durante alguns anos, foi atribuído pela Sociedade Nacional de Belas-Artes.

Em 2009 foi publicado um livro, assinalando o décimo aniversário da sua morte, reunindo a quase totalidade da sua vasta obra e que contou com o patrocínio do Presidente da República portuguesa. No mesmo ano, a Assembleia da República, em Lisboa, homenageou-a com uma exposição retrospectiva.

No que concerne o conjunto da sua obra, embora experimentando vários géneros, incluindo retratos, serigrafias, tapeçarias, cartazes, painéis murais, ilustrações e selos de correio, o cerne principal da pintura de Maluda está muito voltado para a síntese da paisagem urbana, no que a sua arte, segundo Pamplona, segue, conceptualmente, o artista impressionista Paul Cézanne (1839-1906). Ou, como escreveu Fernando Pernes, a sua arte representa «um sistemático decantamento da experiência cézanneana».

Os quadros que pintava eram baseados principalmente nas cidades, nomeadamente na pintura de paisagens urbanas, janelas e vários outros elementos arquitectónicos. A notoriedade das suas obras pictóricas aparentemente mais simples (algumas utilizadas em selos oficiais por encomenda dos Correios portugueses), ao mesmo tempo que a promovia a uma das mais populares pintoras portuguesas das últimas décadas do século XX artístico português, também teve o efeito negativo de encobrir uma vasta obra de criação gráfica mais complexa. Na sua carreira, Maluda efetuou 24 exposições individuais e está representada em vários museus, entre os quais o Museu da Fundação Calouste Gulbenkian e o Centro Cultural de Belém mas também em várias colecções particulares em Portugal e noutros países.

 

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