THE DELAGOA BAY WORLD

06/07/2022

GARRAFAS DE LEITE PASTEURIZADO DA COOPERATIVA DOS CRIADORES DE GADO DE LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Imagem retocada.

A Cooperativa de Criadores de Gado foi criada em 1956 pela Sociedade Pecuária A. Neves e Cia. e pelos criadores de gado Marinho da Silva, Padre Vicente, Sousa Costa e Ismael Costa, todos na região a Sul do rio Save.

Os machambeiros a Sul do Save – entre os quais se incluía Manuel Alves Cardiga, que tinha uma extensa exploração para os lados de Goba e Changalane – eram um pequeno grupo altamente especializado, dinâmico, influente, com algum dinheiro e iniciativa, apoiados pelo Estado e os seus serviços e laboratórios de veterinária e agricultura, com o fim de aumentar a productividade e uma melhor adequação aos terrenos e ao clima.

Garrafas de litro da Cooperativa de Criadores de Gado. O leite pasteurizado (simples e chocoleite) era um dos produtos da Cooperativa, que, para além da criação e comercialização de gado carne de várias origens e processamento dos mesmos, tinha pelo menos uma fábrica de lacticíneos e salsicharia na Matola, vários talhos, dois “salões de chá” em Lourenço Marques (na Av. Alvares Cabral, agora Zedequias Manganhela, e na Av. António Ennes, agora Dr. Julius Nyerere). Para além do leite, produziam manteiga, natas, queijinhos, masse, iogurte, sorvete em cubas e ainda o lendário Quibom, um meu favorito. Na realidade há uma história por detrás esta fotografia: em 1971, a revista Tempo, menina rebelde da então censurada imprensa moçambicana, gerida por uma espécie de “brigada da resistência” que posteriormente se revelou pró-frelimista e que incluía o Kok Nam, o Ricardo Rangel, Areosa Pena, Augusto Cabral e outros, “descobriu” que o leite pasteurizado da Cooperativa na realidade não era pasteurizado, e literalmente dançou em cima dos seus responsáveis por causa disso. Como o assunto não era político, a censura achou muito bem e não fez nada. Elementos da Cooperativa aparentemente tentaram depois silenciar e comprar a revista para abafar o assunto, do que resultou uma escandaleira. Após a independência, a Tempo tornou-se, com o Notícias, numa espécie de pravdas da Frelimo. Penso que a Tempo já desapareceu mas o Notícias mantém-se alegremente alinhado com a nomenclatura local.

Fontes:
Livro de Ouro de Moçambique

Revista Tempo de 17 de Janeiro de 1971

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