Imagem de Helder Martins, retocada.
O Aeroporto de Vila Cabral (creio que hoje, Lichinga) foi inaugurado durante a visita presidencial de Américo Tomás, o presidente português na altura, a Moçambique.
Imagem de Helder Martins, retocada.
O Aeroporto de Vila Cabral (creio que hoje, Lichinga) foi inaugurado durante a visita presidencial de Américo Tomás, o presidente português na altura, a Moçambique.
Dedicado ao grande blog Big Slam.
Imagem retocada do então Presidente da República portuguesa, Almirante Américo Tomás, com atletas, a acender o facho olímpico que mais tarde figurou memoravelmente na inauguração solene do Estádio Salazar, em Lourenço Marques, a 30 de Junho de 1968, quando o Grande José Magalhães desfilou perante a audiência de 50 mil espectadores e com o mesmo facho acendido por Américo Tomás, acendeu a pira olímpica do novo recinto desportivo. A cerimónia do acendimento do facho decorreu durante as festas comemorativas do XI centenário da presúria de Portugale por Vímara Peres, que, creio aconteceu no Porto. Fonte: Arquivo Municipal do Porto.
Claro que isto tresandava a colonialismo e fascismo etc e tal. Mas na altura foi giro, presume-se. Eu tinha oito anos de idade mas só me lembro de ter ido de comboio para o estádio (entre a estção dos CFLM e um apeadeiro perto do estádio), da enorme confusão e pouco mais.
Nota histórica: em 868 AD, Vimara Peres, um nativo do Reino das Astúrias, foi elevado a primeiro Conde do Condado Portucalense, território então capturado (“presuriado”) aos muçulmanos locais e tornado num condado, uma unidade territorial e administrativa medieval, que era regida pelo conde e que por sua vez reconhecia a ascendência do rei – e que eram cristãos. Vimara Peres logo fundou um lugarejo de onde governava o seu Condado, a que chamou Vimaranis – que eventualmente se tornou na actual Cidade de Guimarães. Morreu em 873. Os seus descendentes seriam condes de Portucale até 1071, quando Nuno Mendes, o último conde, morreu numa batalha contra uns galegos. Tudo isto bem antes de Afonso Henriques e os seus Pais.
Agora, o que tem Vimara Peres a ver com o estádio Salazar….pois. Não percebo.
Originário da Marinha, Américo Thomaz foi “eleito” presidente da república portuguesa pela máquina da União Nacional, cargo que desempenhou entre 1958 e 1974, quando foi deposto num golpe militar. Assumiu um protagonismo crítico quando Salazar foi invalidado por um AVC em 1968, mantendo a postura de linha dura seguida pelo ditador.
O percurso de Giuseppe Buffa Buccelatto pode ser lido em baixo.
Com agradecimentos profundos ao exmo. Leitor ERS, cito do Livro de Ouro do Mundo Português, obra publicada em 1970 e cujo texto em baixo foi editado por mim:
Giuseppe Buffa Buccelatto chegou à Cidade de Lourenço Marques no dia 2 de Dezembro de 1902, vindo da Itália, onde vivia com sua família, contando então 20 anos de idade, para se juntar a um irmão mais velho, que viera para a cidade da Beira.
Inicialmente, este seu irmão, que tinha o curso da Escola de Belas Artes da Itália, estivera no Egipto a trabalhar em grandes obras que se efectuavam naquele país. Quando o seu trabalho finalizara, ele leu num jornal egípcio uma notícia sobre obras que se iriam realizar na então pequena cidade da Beira, em Moçambique. Resolveu ir à aventura para a então África Oriental Portuguesa.
Chegado à Beira, não ficou decepcionado, iniciando aí o seu trabalho, e quando as obras mencionadas no anúncio terminaram, e verificando que, tão cedo nada teria para fazer, resolveu ir para Lourenço Marques, onde permaneceu.
Foi por sugestão sua, que Giuseppe B. Buccelatto veio mais tarde para Moçambique.
Nessa época recuada eram navios alemães da Deustsche Ost Linie que faziam as carreiras de passageiros entre a Europa e a costa de Moçambique, pois a Alemanha detinha a colónia do Tanganica (a actual Tanzânia) e muito do seu tráfego fazia-se através do Índico (os poucos navios de guerra portugueses existentes, serviam para trazer os ainda menos portugueses que nessa época rumavam África).
A 2 de Dezembro de 1902, no rescaldo imediato da grande guerra Anglo-Boer, Giuseppe B. Buccelatto desembarcou de um desses navios alemães para uma bateira e desta para as costas de indígenas locais, que o levaram até terra firme, pois nada existia então na nascente localidade de Lourenço Marques, senão as margens da Baía, constituídas por praias, com pequenas pontes de madeira, havendo um barracão que servia de Capitania.
Giuseppe Buccelatto era oriundo de Castellamare dei Golfo (Trapani), na Sicília.
Chegado a Lourenço Marques, o jovem siciliano iniciou a sua vida como construtor civil, adoptando a mesma profissão de seu pai, estabelecendo-se sem sócios. A 16 de Novembro de 1912, casou no seu país com uma italiana, D. Francesca Lipari, regressando com a esposa a Moçambique, à sua casa de Lourenço Marques.
Do seu casamento nasceram cinco filhos: Giuseppina, Gaspare, Antonino, Pierino e Ignázio.
Giuseppe B. Buccelatto foi também, um grande atleta, possuindo várias medalhas ganhas no desporto. Foi um praticante de ginástica aplicada; praticou natação, futebol, esgrima e hóquei em patins, tendo sido capitão da primeira equipa de hóquei em patins que existiu em Lourenço Marques, onde foi construído o primeiro campo de hóquei em patins em território português.
Quando, em Julho de 1907, o então jovem Príncipe D. Luís Filipe visitou a Província, realizou-se um Sarau Desportivo em honra do régio visitante. Giuseppe B. Buccelatto exibiu-se nesse Sarau, tendo o Príncipe Luiz Filipe ido depois, cumprimentar o jovem ginasta italiano, atitude essa que o emocionou profundamente, e que desde sempre recordou com satisfação.
Na sua vida profissional, Giuseppe B. Buccelatto, foi progressivamente desenvolvendo a sua empresa de construção civil, a que não fica alheio o seu dinamismo de trabalhador incansável.
São obra da sua empresa a primeira fase da Ponte Cais de Lourenço Marques, a Muralha do que hoje é o Clube Naval, bem como a Muralha da Doca seca, cabendo-lhe parte na construção do edifício da Câmara Municipal de Lourenço Marques.
Em 1919, com dois sócios, formou a Sociedade que nos anos 60 tinha o nome G. B. Buccelatto & Filhos, Lda. Só em Maio de 1946 é que seus filhos entraram para a Sociedade, passando a ser os únicos sócios. Seguidamente, criaram a sua filial da Beira, especializada em materiais de construção; a Sociedade Metalúrgica Portuguesa, Lda., em 1929, construída em terreno da Empresa; G. B. Buccelatto Construtores, Lda., e a Companhia Industrial de Fundição e Laminagem S. A. R. L. — esta com mais de duas centenas de accionistas.
Este era, em meados dos anos 1960, o desdobramento fantástico da pequena empresa iniciada nos princípios do século XX pelo pioneiro siciliano, cujos filhos se tornaram os seus melhores continuadores e colaboradores.
Dois dos seus filhos formaram-se em engenharia civil, e electromecânica; Pierino em mecânica, e Ignázio em contabilidade, sendo sua filha apenas sócia.
Em homenagem carinhosa à terra que o recebeu e acolheu, G. B. Buccelatto deu aos filhos a nacionalidade portuguesa.
São numerosas as obras executadas pela firma de G. B. Buccelatto & Filhos, Lda., além das já mencionadas, contando-se:
PRÉDIOS : “AFRICAN LIFE”, MONTEPIO DE MOÇAMBIQUE, “PABLO PEREZ”, CARDOSO E REIS, “HO DICK YONG”, “JOSÉ MARIA”, “HO KA K U I ” , “PARISOT”.
AMPLIAÇÕES : COMPANHIA DE CIMENTOS DE MOÇAMBIQUE, FÁBRICA DE CERVEJA REUNIDAS, SHELL MOÇAMBIQUE, SOCIEDADE NACIONAL DE REFINARIA DE PETRÓLEOS, MOGÁS, CENTRAL TÉRMICA, CAJU INDUSTRIAL E SONEFE.
CASAS : ALGODOEIRA DO SUL DO SAVE e BRIGADA DE FOMENTO e POVOAMENTO DO LIMPOPO — GUIJÁ.
SILOS : COMPANHIA INDUSTRIAL DA MATOLA.
FÁBRICAS : COMPANHIA INDUSTRIAL DE FUNDIÇÃO E LAMINAGEM, S.A.R.L.
OBRAS DO ESTADO : OFICINAS DOS CAMINHOS DE FERRO DE LOURENÇO MARQUES, NOVAS OFICINAS GERAIS DOS CAMINHOS DE FERRO DE MOÇAMBIQUE, MORGUE 1ª e 2ª FASES —CONSELHO DE CÂMBIOS; O NOVO HOSPITAL CENTRAL DE LOURENÇO MARQUES.
DEPÓSITOS DE ÁGUA : DEPÓSITO DE ÁGUA DE MAXAQUENE, DEPÓSITO ELEVADO DOS CAMINHOS DE FERRO DE MOÇAMBIQUE — GUIJÁ, BARRAGEM, MAPAI, e PAFURI.
HOSPITAL : ORDEM HOSPITALEIRA DE SÃO JOÃO DE DEUS.
Giuseppe B. Buccelatto, que com seus filhos formou uma família unida, está certo por isso, da continuação da obra por ele iniciada. A sua acção relevante teve um justo prémio, aquando da visita do Presidente da República a Moçambique, Américo Tomás, que condecorou Giuseppe B. Buccelatto com o grau de Oficial da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial. Com esta condecoração dada pelo mais alto Magistrado da Nação, quis assim, o governo premiar a Obra deste pioneiro de Moçambique, que embora estrangeiro, à terra portuguesa se dedicou como se fosse sua.
Por tudo quanto fica dito se conclui, que Giuseppe B. Bucelatto, foi um grande obreiro, desempenhando papel de relevo no engrandecimento e economia de Moçambique, o seu labor intenso, a que veio juntar-se a energia jovem de seus filhos. Giuseppe Buffa Buccelatto soube grangear amigos, e consideração em todos os sectores, pelo seu trato simples, afável, falando numa linguagem onde se adivinha um coração bondoso. Ele amou tanto a terra moçambicana como a sua terra natal. Faleceu quando esta obra se encontrava no prelo [final dos anos 1960].
É interessante salientar, que seu filho Ignazio, é o Cônsul Honorário da Finlândia em Moçambique.
Giuseppe B. Buccelatto foi, por duas vezes, Cônsul da Itália, em Lourenço Marques. Foi condecorado como sócio mais antigo dos Caminhos de Ferro de Moçambique, e agraciado pelo Governo de Itália com as Comendas de Constantiniano Ordine Militare de San Giorgio di Antiochia e della Stella al Mérito.
(fim)
Foto de Rosa Maria, gentilmente cedida e restaurada por mim.
Inharrime fica situada mais ou menos entre o Xai-Xai e Inhambane.
SÉRIE “BEM FEITOS UNS PARA OS OUTROS”