No passado de Lourenço Marques, houve alguns traumas com o fogo. Em 1875, houve um violento incêndio que queimou quase metade da Vila, a tal ponto que as autoridades locais proibiram que, a partir daquele incidente, ali se construísse em madeira e muito menos que houvessem construções de caniço ou casas com telhados de palha dentro do seu perímetro (não conheço registos que indicassem quantas havia). Tinha que se construir os edifícios em alvernaria e os telhados tinham que ser feitos de telha ou zinco. A construção de palhotas foi proibida (agora interpretada como uma medida “racista” para afastar os nativos da urbe, os quais, possivelmente ralados, supostamente, afastaram-se e foram fundar a futura Mafalala e o Alto Maé). Uns anos depois, em Julho de 1902, houve um grande incêndio na zona das estâncias de madeira do porto da Cidade, mais ou menos onde hoje a Ponte de Maputo atravessa para a Catembe; cerca de 1909, um incêndio destruiu a cobertura do ringue de patinagem construído por Pietro e Giuseppe Buccellato, após o que, no mesmo local, viria a ser edificado o Teatro Varietá, inaugurado em Outubro de 1912 (e onde hoje se encontram o Teatro Gilberto Mendes, o antigo Dicca); e o incêndio que destruiu o original Teatro Gil Vicente (na noite de 7 de Novembro de 1931) e que ficava do lado direito de quem entrava na Rua Major Joaquim da Lapa. Pouco depois, seria construído e inaugurado um outro teatro com o mesmo nome, em estilo Art Deco, a meio da então Avenida Aguiar, depois D Luis e a actual Avenida Marechal Samora Machel.
Por essa razão, a Cidade desde cedo criou e manteve dispositivos de combate aos incêndios. Até meados dos anos 60, a estação principal situava-se onde hoje fica o Prédio 33 Andares, altura em que foi edificada um nova sede dos Bombeiros na Av. Pinheiro Chagas (hoje Avenida Dr. Eduardo Mondlane) em frente ao Cemitério de São Francisco Xavier.
Imagens retocadas e coloridas. Grato como sempre ao Rogério Gens pelas suas correcções.
Penso que cerca dos anos 40-50 um fotógrafo que esteve em Lourenço Marques tirou uma fotografia de outra fotografia aérea, que estimo ter sido tirada cerca de 1933. Esta fotografia aérea foi captada por W. Norman Roberts da empresa aérea sul-africana African Flying Services (PTY) Limited, uma das pioneiras dos serviços e transporte aéreo na então União Sul-Africana. Esta fotografia, com alguns retoques, é a primeira que coloco aqui no topo. Todas as imagens que se seguem são cópias ampliadas, legendadas e coloridas, do que se vê nesta primeira fotografia, que mostra de forma inédita (para mim) alguns dos aspectos da topografia da Cidade que eu conhecia mas nunca tinha visto de uma forma global e objectiva.
A cópia da fotografia topográfica de Lourenço Marques, cerca de 1933.
A – O então Museu Provincial, mandado construir por Pott (hoje sede to Tribunal Constitucional); B- A Imprensa Nacional, anteriormente a Cadeia; C – Estação dos Bombeiros (onde hoje fica o Prédio 33 Andares); D – a então Câmara Municipal de Lourenço Marques, depois Tribunal da Relação; E – o primeiro estádio de futebol do Grupo Desportivo Lourenço Marques; F- Sede e terrenos do Sporting Club de Lourenço Marques; G- Avenida da República (hoje 25 de Setembro); e H – o Aterro da Maxaquene.
O Aeródromo da Carreira de Tiro. Logo a seguir a Rua dos Combatentes de Nevala. Do lado direito, a Cadeia Civil e à direita desta, o primeiro Campo de Golfe da Polana.
A – Cadeia Civil; B- o primeiro Campo de Golfe da Polana, em que a Clubhouse fica na ponta à direita em baixo; C- A Avenida Massano de Amorim (hoje Mau Tsé Tung); D – o Parque José Cabral (hoje, dos Continuadores); E- o Hotel Polana.
A- Complexo do Hospital Miguel Bombarda; B- Avenida Pinheiro Chagas (hoje Dr. Mondlane; C – A futura Escola Primária Rebelo da Silva (hoje 3 de Febereiro) em construção.
A – Aterro da Maxaquene; B- parte ainda inacabada do paredão de cimento junto ao futuro Clube de Pesca (hoje Escola Náutica); C – doca de pesca desportiva; D – Ponta Vermelha. Note o Exmo. Leitor que esta parte foi “comida” e inclinada posteriormente, pois nesta altura caía abruptamente, como aliás se via em partes da Catembe até aos anos 80.
A – o Liceu 5 de Outubro, junto à Av. 24 de Julho, que depois seria a Escola Comercial Azevedo e Silva; B- a Sinagoga de Lourenço Marques, ainda existente; C – a Estação Telegráfica da Eastern Telegraph Company, que seria demolida e aí edificado o Liceu Salazar (hoje ES Josina Machel; D- terreno onde seria edificado o Joardim Silva Pereira (hoje dos Professores. Note-se que na altura o terreno era muito maior que o existente hoje, pois as barreiras foram alteradas, especialmente depois do Ciclone Claude em Janeiro de 1965; E – o Hotel Cardoso estando logo ao lado as fundações do futuro Museu Álvaro de Castro (hoje Museu de História Natural); F – por curiosidade, a casa onde cresci em Lourenço Marques, pelos vistos uma das primeiras duas a serem construídas na Rua dos Aviadores (hoje Rua da Argélia).
A – Por baixo desta letra, o Hospital Militar, que seria demolido e no seu lugar construída a Sé Catedral de Lourenço Marques; B – a então Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no local onde depois seria construído o Palácio da Rádio do Rádio Clube de Moçambique; C- a Avenida Aguiar, depois Avenida Dom Luiz I (hoje Marechal Samora). Note o Exmo. Leitor que na década e meia seguinte seriam construídas a Praça Mouzinho no topo (hoje da Independência) e em baixo seria eliminada a Travessa da Fonte, que estenderia esta artéria até à Praça 7 de Março (hoje 25 de Junho), que na altura ainda era rectangular, cheia de Kiosks e atravessada a meio pela Rua Araújo; D- Jardim Vasco da Gama (hoje Tunduru); E – Câmara Municipal de Lourenço Marques (hoje Tribunal da Relação) e mais em cima o Grupo Desportivo Lourenço Marques.
Na zona do Alto-Maé. A- Os cemitérios Maometano, Judaico e..(farsi?); o Cemitério de São Francisco Xavier; C – a Avenida Pinheiro Chagas (hoje Dr. Mondlane) com partes ainda com uma um estradinha nos dois sentidos.
Na zona de Alto-Maé. A – zona de Xipamanine; B- Em discussão com o genial Rogério Gens este deverá ser um depósito de água para servir a zona do Alto-Maé; C- a Avenida Pinheiro Chagas (hoje Dr. Mondlane) que acaba logo a seguir à esquerda; D – a Avenida 24 de Julho, que nesta altura também acaba logo a seguir e mais tarde seria estendida mais quase dois quilómetros.
O Sporting Clube de LM foi formalmente constituído em 3 de Maio de 1920. Leia em baixo uma descrição do seu percurso.
O sítio Wikisporting resume assim o percurso do Sporting LM:
“As origens do Sporting Clube de Lourenço-Marques encontram-se em 1915, quando um grupo de estudantes do Liceu 5 de Outubro formaram uma equipa de futebol, a que decidiram chamar Sporting, por a maioria ser adepto do Sporting Clube de Portugal. Esse grupo incluía Jorge Belo, Júlio Belo, José Agent, António Amorim, Manuel Dias, João Amorim, Abel Cardoso, Luís Cardoso, Luís Maria da Silva, João Carvalho, José Roque de Aguiar, e A. Gonçalves.
Este foi o núcleo que, cinco anos depois, sendo o Sporting Clube de Lourenço Marques já importante na região, decidiu legalizar o clube. No dia 3 de Maio de 1920, considerado nos estatutos como a data oficial de fundação, vinte sócios fundadores realizaram uma assembleia geral onde foram aprovados os estatutos, cuja aprovação foi requerida ao Governador-Geral a 15 desse mês e concedida em 21 de Julho de 1920. Esses fundadores foram Jorge Belo, Joaquim Duarte Saúde, José Roque de Aguiar, Peter Mangos, António José de Sousa Amorim, Alberto Gonçalves Túbio, Júlio Belo, José Nicolau Argent, Edmundo Dantes Couto, Manuel Sousa Martins, José Miguens Jorge, José Mendes Felizardo Martins, Alfredo Carlos Sequeira, João Carvalho, Manuel Dias, José Lopes, António Pimenta Freire, Augusto Gendre Ferreira, António Maria Veiga Peres, Abílio Carmo, João de Freitas e Fernando de Figueiredo Magalhães. Note-se que a maioria dos fundadores era menor de idade, e o requerimento de legalização foi subscrito por pessoas que não participaram na reunião de 3 de Maio. Rapidamente o Sporting de Lourenço Marques se tornou num dos mais importantes clubes desportivos de Moçambique, não se limitando ao futebol.
Em março de 1923 o Dr. Aurélio Galhardo encetou negociações com o clube moçambicano para que este se tornasse Filial leonina. Assim, o Sporting Clube de Lourenço Marques tornou-se a Filial nº 6 do Sporting Clube de Portugal, e assim se manteve até 1975. [4] Em 1975, após a independência de Moçambique, tornou-se Sporting Clube de Maputo, para em 1977 assumir a designação actual – Clube de Desportos da Maxaquene. Entre Dezembro de 1981 e Fevereiro e 1982, o clube chamou-se Asas de Moçambique, voltando a ser Maxaquene após 3 meses como Asas. O Maxaquene adoptou como cores o azul e vermelho, mantendo actividade desportiva em futebol e andebol. Segundo os testemunhos de antigos jogadores de futebol do Sporting de Lourenço Marques, Naldo Quana, Joaquim Aloi, Miguel Vaz e Leovelgildo Ferreira, que transitaram para o Maxaquene, antes da independência o clube “era um clube selectivo. Para os negros jogarem no Sporting ou tinham que ser jogadores com a qualidade de Eusébio da Silva Ferreira ou, então, tinham que ter alguém que os apadrinhasse”. Os seus dirigentes e atletas proviriam principalmente da Polícia e do Serviço Municipalizado de Água e Electricidade. No entanto, isto era decorrente, não de uma decisão do Sporting de Lourenço Marques, mas sim de uma “proibição da utilização de negros sem alvará de assimilação” no futebol. Efectivamente, José Craveirinha, um dos maiores poetas de Moçambique e figura maior da literatura de língua portuguesa, galardoado em 1991 com o Prémio Camões, enalteceu “o rasgo de puro e desassombrado desportivismo” que representara, na época de 1951/52, o “caso absolutamente ímpar” da “apresentação nas pistas de atletismo de alguns atletas negros puros envergando a tão susceptível, até aí, camisola do Sporting local.” Mais ainda, os sino-moçambicanos de Lourenço Marques praticavam desporto no Sporting.”