Imagens retocadas.
É ponto mais ou menos tido como assente que a colonização moderna de Moçambique teve início com os ataques dos autóctones a Lourenço Marques na segunda metade do ano de 1894., em que, durante várias semanas, que chegaram a meses, a pequena urbe seria fustigada por sucessivos ataques, a que respondeu sitiando-se e armando-se. A situação reverteu-se em Janeiro de 1895, quando chegaram reforços militares e imediatamente se congeminou um ataque – a chamada Batalha de Marracuene, em 2 de Fevereiro de 1895.
Tudo verdade, só que é falso que a era da colonização começou aí. A colonização, entendendo-se como a vinda de “colonos” portugueses, durou apenas uns trinta anos, entre 1945 e 1975. Antes disso, quase ninguém ia viver para Moçambique. Mesmo em 1975, quando os majores e os capitães decidiram entregar (bem, devolver) aquilo tudo à Frelimo, para um território com cerca de 801.590 km2, havia 250 mil não autóctones para uma população total de 8 milhões, a esmagadora maioria a viver em menos que meia dúzia de cidades.
Portanto aquilo foi um eufemismo de colonização.
O que realmente aconteceu em 1894 foi outra coisa muito mais fundamental. Em 1894 o Estado português tomou (enfim, exagero) posse do território que é hoje Moçambique.
Ou seja, a partir desta data deixou de ser aceite ou tolerada nesse território, entidade que, explícita ou implicitamente, não aceitasse a preponderância do poder do Estado português.
O quarto de milhão de “colonos”, como se apraz dizer lá agora, entretanto vieram e foram, mas “isso” de nesse território haver uma única força preponderante, que foi transferida em 1975 directamente para as mãos da Frelimo, não mudou uma vírgula.
E essa realidade começou em meados de 1894.
Há gente por aí, especialmente académicos que eu diria de treco-lareco, que regorgitam sem fim sobre o que aconteceu, e elaboram teses complicadas e teorias de conspiração arrojadas sobre o que aconteceu. Mas a quem parece escapar estas simples realidade. As coisas são efémeras. A maior parte dos moçambicanos hoje provavelmente nem sequer sabem porque é que falam português. Nem de onde vieram os contornos da sua nação.
Comecei hoje a ler o livro O Segredo de Lourenço Marques, escrito pelo Eduardo Pires Coelho (custa entre 10 e 20 paus), descrito como um thriller histórico e cujo prólogo se situa precisamente durante os ataques a Lourenço Marques em 1894. Para minha surpresa, ele diz que visitou este blog (e o magnífico Housesofmaputo), ao que pensei “hum, deves ter sido o único nesse dia”. Enfim, depois direi como é.
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Portugal só começou a olhar para os territórios Africanos a partir da Independência do Brasil (1822) pois era de lá que vinham todas as riquezas que suportavam as elites monárquicas. O País estava depauperado e tinha sido pilhado pelos invasores Franceses de quando tudo parecia estabilizar tivemos as lutas entre Liberais e Absolutistas que ainda depauperaram mais o País. Moçambique como um historiador militar disse era uma “colónia virtual”, com alguns reinóis (portugueses do reino). Só em 1761 o governo do território foi transferido do Estado Português da India para a vila de São Sebastião de Moçambique (Ilha de Moçambique) assim como os funcionários Goeses cujos descendentes continuaram a viver na região até aos nossos dias. O território era controlado por Hindus, Banianos e Árabes que entre outras atividades se dedicavam ao trafico de escravos para as ilhas Francesas do Indico e também para a India. Foram os portugueses que a muito custo conseguiram pôr fim a este tráfico. Este tráfico era feito com a anuência dos próprios régulos ou reis africanos. O próprio Gungunhana era um esclavagista, assim como os seus familiares e esta prática era comum entre os Ajauas do atual Niassa. Isto, e muito mais nunca nos foi explicado e muito menos aos Moçambicanos que continuam a viver na total ignorância em tudo o que diz respeito ao seu lindo e rico País.
Comentar por Manuel Sousa — 20/06/2024 @ 18:05
Manuel,
Está contratado para este blog.
Aplausos. Grato ABM
Comentar por ABM — 20/06/2024 @ 19:57
Meu Caro.
Fico-lhe grato pela dedicação a LM e a Moçambique e, naturalmente à dávida ao meu conhecimento sobre aquela terra. Entretanto, já encomendei o livro que recomenda. É um pormenor importante da parte da história que já conhecia.
Terei gosto em partilhar consigo o título de uma livro, já antigo em minha posse, sobre a história de Moçambique. Curiosamente escrita por um “gringo”. Não sei se traduzida para português ou se no seu original em inglês. Quando for à minha casa no Porto, onde está o livro em causa, tratarei de não me esquecer. Um abraço, TL.
Comentar por teixeiraleyte — 20/06/2024 @ 22:30