THE DELAGOA BAY WORLD

10/05/2024

MENINA EM LOURENÇO MARQUES, INÍCIO DO SÉC XX

Foto dos estúdios dos Irmãos Joseph e Maurice Lazarus.

08/05/2024

A SÍNDROME ISABELLA

Filed under: A Síndrome de Isabela, Helena Cabeçadas — ABM @ 00:11

Nunca rigorosamente ouvi falar sobre ela até ontem, quando li o que se segue.

1.Daqui, li isto: Helena Cabeçadas nasceu em Lisboa, em 1947. O ambiente familiar tê-la-á influenciado politicamente, era sobrinha neta do Almirante Mendes Cabeçadas, o pai era um católico antissalazarista e vários familiares tinham atividade política. Depois de uma passagem por Moçambique, instala-se em Lisboa onde dá os primeiros passos na política ainda no liceu, o que lhe valeu ser vigiada pela PIDE desde os 12 anos. Aos 14 anos acompanha os acontecimentos da Crise Académica de 1962. No ano letivo 1962/63 aderiu à Comissão Pró-Associação dos Liceus e ao Partido Comunista Português (PCP). Depois de ter sido detida em 1965, ocasião em que foi interrogada pelo reitor da Universidade e enviada para o Governo Civil e a prisão de Caxias, é impedida de terminar o último ano do liceu e expulsa de todas as escolas do país. Foi assim obrigada a exilar-se aos 17 anos. Parte sozinha para a Bélgica, onde ficará dez anos, tendo continuado a participar na luta política antifascista e trabalhado com emigrantes portugueses. Aos 20 anos está em Paris onde vive intensamente os acontecimentos de Maio de 1968, ano em que se dá a rutura com o PCP.

Hum, passagem por Moçambique. Vamos lá ver.

2. Daqui, li isto: Nasci em Lisboa e vivi a minha infância no Bairro da Madre de Deus. Era um bairro social, daqueles mandados construir pelo Estado Novo no final dos anos trinta e que, em princípio, se destinava a realojar os pobrezinhos que se atascavam na lama dos bairros de lata circundantes. Só que depois, na realidade, estes bairros sociais acabavam por ser ocupados por residentes oriundos da pequena burguesia, na sua maioria funcionários públicos. Na escola primária que eu frequentava, o Ateneu da Madre de Deus, andavam também as garotas dos bairros de lata, eram nossas companheiras de carteira. Sujas, esfarrapadas e descalças, de uma extrema pobreza, fartavam-se de apanhar das professoras, pois eram más alunas e a maior parte desistia da escola. Assistir a esta realidade era muito chocante e creio que isso contribuiu, ainda que de forma difusa, para a minha tomada de consciência das desigualdades e injustiças sociais.

Dado que só tinha irmãs e a escola era só para meninas, já que os sexos estavam separados, acabei por passar a minha infância e adolescência num universo muito feminino.

O meu pai era engenheiro da Missão Geográfica de Moçambique e passava sempre seis meses em Lisboa, connosco, e os outros seis meses em Moçambique. Até que, tinha eu oitos anos [portanto, 1955], os meus pais decidiram que iríamos todos para Moçambique durante uns anos, até que a minha irmã mais velha tivesse idade para ir para a Faculdade. E assim embarcámos no navio “Pátria”, numa viagem longa de 20 dias, até Lourenço Marques (actual Maputo). Essa é uma memória muito forte que eu guardo.

Na altura eu tinha uma imagem muito idealizada de Moçambique, que nos era transmitida pelo meu pai, através das cartas, das fotografias e dos filmes que nos trazia – sobre animais selvagens, rios imensos, misteriosos rituais indígenas, pacíficas aldeias de palhotas, uma fauna e uma flora exóticas. A geografia de Moçambique era-me mais familiar, ou tão familiar, quanto a geografia de Portugal, mesmo sem lá ter ainda vivido, dado que o meu pai, quando estava em Lisboa, nos mostrava os mapas que construía e nós íamos seguindo atentamente os seus percursos no interior da colónia (“província ultramarina”, como então se dizia).

O confronto com a realidade, em Lourenço Marques, foi chocante: era violenta a segregação racial que existia naquela sociedade colonial dos anos cinquenta. Em Moçambique, a influência do apartheid da África do Sul era então muito forte. Lembro-me de letreiros a avisar “Entrada proibida a pretos e a cães”. E as senhoras brancas, quando se zangavam com os criados negros, levavam-nos à Administração para serem açoitados. Eu era ainda criança, mas quando ouvia estes conversas, no meio dos chás e dos bolinhos, ficava aflita. Também os meus pais ficavam consternados. O meu pai era um democrata e tinha com os trabalhadores africanos uma relação muito próxima, muito afectuosa. Como geógrafo, trabalhava nas zonas mais recônditas de Moçambique, nas zonas de fronteira, onde por vezes era o primeiro homem branco a aparecer. Os seus acompanhantes, cerca de uma centena de africanos por cada engenheiro, vinham todos os anos das aldeias onde viviam com as suas famílias, para trabalhar na Missão, permanecendo com eles durante longos meses, no mato. Guiavam os camiões e os jipes, ajudavam no transporte dos materiais necessários, dos instrumentos científicos, das armas para a caça e dos víveres indispensáveis à manutenção da expedição, ao longo dos meses que durava a campanha. Também ajudavam a montar e a desmontar as torres metálicas para as observações astronómicas e geodésicas, tal como a construir as pontes e as jangadas rudimentares, quando necessário. Assim, estabelecia-se entre eles uma profunda relação de interajuda e amizade.

O meu pai transmitia-nos essas realidades através dos filmes e das fotografias, pelos quais era apaixonado. Às vezes, nas férias, quando não estava muito longe de Lourenço Marques, nós íamos ter com ele ao acampamento e ficávamos lá no mato. Esse era o lado esplendoroso de África, que correspondia àquilo que eu tinha imaginado: os jacarés e os hipopótamos preguiçosos a refrescarem-se nos grandes rios, as zebras e as gazelas saltando à frente do nosso jipe, as girafas olhando-nos interrogativas, os búfalos pachorrentos, os lagartos e os pássaros de cores esplêndidas…uma natureza enigmática, sumptuosa!

Mas a vida na cidade, com a sua estrutura colonial rígida, era desagradável. Penso que as situações de racismo e de injustiça social flagrantes, que presenciei em Lourenço Marques, terão contribuído fortemente para a minha consciência política, apesar de eu ser ainda uma criança na altura.

Entretanto, morreu a minha irmã Guida com uma leucemia e acabámos por ficar menos tempo em Moçambique do que o planeado. A minha mãe ficou traumatizada com África e quis regressar a Portugal. Nessa altura, já eu estava no 1º ano do Liceu Salazar, em Lourenço Marques. Era um Liceu com um ensino relativamente aberto, onde as professoras eram simpáticas, próximas das alunas. Não era frequentado por negros, nem por mestiços, que eu me lembre. Mas era um ambiente alegre, arejado.

3. Para além de um percurso e carreira académica com alguma escrita pelo meio, uma simples pesquisa naquele motor de pesquisa Omnipotente, revela que a Helena faz questão de puxar os pergaminhos de uma teia complexa que inclui ser sobrinha neta do Cabeçadas, de ter sido criada num ambiente mais ou menos liberal em casa, que descambou para comunista e depois “anti-fascista”, tudo durante a vigência do Estado Novo, o que mais ou menos tem em comum com os 9.999.999 portugueses ao fim da manhã do dia 25 de Abril de 1974 (altura em que ela teria, feitas as contas, 27 anos de idade).

Mas o que me chamou a atenção foi aquela sensibilidade obviamente suspeitamente pré-pubescente, prescientemente pré-pós anti-colonial, de ela, com dez aninhos de idade ou afim, lembrar-se da injustiça social omnipresente e -especificamente -de ver letreiros (no plural) algures em Lourenço Marques com (cito) a avisar “Entrada proibida a pretos e a cães”.

The world in LM according to Lena.

Ai sim? Viu letreiros (repito, no plural) na Cidade de Lourenço Marques (cito novamente) a avisar “Entrada proibida a pretos e a cães”?

Onde, exactamente? gostava de saber. Pois apesar de supor que muitos eventualmente pensassem assim, nunca vi enquanto cresci na Cidade nos anos 60 e 70, quando as coisas estavam a mudar e eu andava ocupadíssimo com berlindes, os escudos na escola primária, carrinhos de rolamentos – e natação.

Crédulo, perguntei aos mais velhos.

Ninguém viu.

Após uma prova na piscina do Ferroviário em Lourenço Marques, 1974. Eu, o Rui Abreu (m. suicídio, 1982), o Jaime (m. suicídio, 2023), e o Filipe.

E diz a Lena que reparou ainda que no Liceu Salazar (penso que ela está a falar no Dona Ana da Costa Portugal – só pode) havia poucos estudantes de outras raças? mas, para além da óbvia discriminação que os compatriotas dela alegremente copiaram de todos os regimes similares e afins em África (de que a África do Sul era apenas o mais surreal) e aplicaram alegremente nas duas ou três cidadezinhas que Moçambique tinha, será que a Lena apercebeu-se que o Liceu ficava na parte mais branca do bairro mais branco da cidade mais branca e afim e na altura quase sem residentes de outras raças? o que é que ela queria, que se trouxessem estudantes negros da Mafalala para a Polana para ficar bem na fotografia? que fizessem mais liceus? pois recordo que pouco depois, ainda ela estava lá em LM, os colonialistas compatriotas dela, talvez já antecipando a crítica, fizeram o enorme Liceu António Ennes, no Alto-Maé, uma zona muitíssimo mais misturada social e racialmente, e o António Ennes (que frequentei um ano, apesar de viver na Polana) era assim mesmo – misturado. Não se lembra? Muitos moçambicanos negros em lugares de responsabilidade hoje em Moçambique estudaram no António Ennes. Nos anos 60, depois do Veiga Simão dar um murro na mesa, lá se fez a Universidade de Lourenço Marques. Antes, até o filho do colono, se quisesse um ensino superior ia para Pretória, Johannesburgo, Cidade do Cabo, Lisboa ou Londres.

Ou Bruxelas, suponho. Ou a Suíça, no caso da Teresa Simões (mais tarde, Heinz).

Mas a Lena já não viu isso, ou não se lembra.

O António Ennes.

O ponto da questão é que é muito, demasiadamente até, fácil, cinquenta anos depois da forma desastrosa como Moçambique caminhou e ascendeu para a sua independência, mandar papos “retro-progressistas” sobre Lourenço Marques- que é o que eu acho que são – para ficar bem na fotografia.

Estes dias, está na moda.

E apesar de eu cada vez ter menos saco para esta lamentação insípida sobre o colono e o que fez e não fez e como fez, parece que debaixo de cada pedra descubro sempre um (e ela era um) que não era racista, que era contra a ditadura, que era anti-salazarista, etc e tal.

É impressionante. Nem sei como o Eddy Mondlane (Pai) não viu isto quando escreveu naquele livro que os cubanos publicaram lá em Havana em 1971 a explicar, preto no branco (vide págs. 238 e 239) que os brancos em Moçambique eram todos uma cambada de racistas inveterados irrecuperáveis e que não havia mesmo nada a fazer – a não ser correr com eles, o que, aliás. resume muito bem o programa das actividades cívicas assim os Frelimos tiveram a chance em 74.

(na mesma passagem, algo tortuosamente, quiçá por atenção ao Marcelino, ao Eneas, ao Baltazar e a mais dois ou três, magnanimamente, e se calhar também por ele próprio ter filhos mulatos, Eddy exculpou todos os mulatos do pecado racialista, por isso mantenho as minhas expectativas de poder haver um presidente tipo Celso ou -why not – Ilundi – mas esperarei sentado).

Claro que aquilo tudo era uma porcaria e uma injustiça. Não estou aqui para debater isso. Eu se fosse “originário” (eufemismo corrente para “preto” em Moçambique) se calhar pegava fogo àquilo tudo duas vezes e penso que muitos pensaram fazer isso mas, generosamente, tiveram bom senso e esperaram.

Note-se: não era possível o que aconteceu, quando aconteceu e como aconteceu se não fosse assim. Não eram cem mil brancos em meia dúzia de sítios com fisgas e a ocasional pistola que seguravam oito milhões de pessoas. Mas era claro que tinha que acabar um dia, não distante, e – oh -acabou mesmo, e eu quando tinha 14 anos, que foi quando o Otelo (que era “originário” de Lourenço Marques) lá fez aquilo lá em Lisboa e que tanto animou a malta. Mas eu ainda estava lá a viver e já sabia que iria acabar. Até porque a guerra -uns 3 mil guerrilheiros com minas terrestres e AK’s bastou – nunca mais acabava e regime vigente não mudava de ideias e o mundo já dera três voltas. Era portanto por demais evidente e por si não era imprevisível.

A minha Mãe, uma açoreana ocupada a criar sete filhos que assistia à vida de uma distância apolítica mas vidente, resumiu tudo uma vez: “esta terra não é nossa”. À sua maneira, o Pai fazia a mesma leitura.

Ou seja: a vida em Moçambique era muito agradável para os brancos e tinha os dias contados.

No fim do dia aquilo não era mais que o que os portugueses (os de Portugal, os de Lisboa, o dos do Terreiro do Paço) e os outros faziam e fizeram em África, na Ásia, nas Américas e na Europa. Ainda hoje, grandes potências globais – a China, a Austrália, o Canadá, o Brasil, os EUA e a Rússia – têm extensos passados e presentes puramente coloniais. Só que lá as “elites colonas” (ou os seus descendentes) é que continuam a mandar e ninguém se atreve a meter-se com eles. Regra geral dão uns subsídios e uns terrenos aos “originários” alguns pedem “desculpa” e assunto arrumado. A China nem uma coisa nem outra: prende-os e mata-os, aparentemente.

E, de facto, a Rússia, que tem tanto terreno que não sabe o que fazer com ele, neste preciso momento está a tentar adquirir mais uma colónia, o Putin diz que aquilo afinal sempre fora dele, que faz-lhe falta para a sua geoestratégia. Os indígenas locais não concordam e resistem. Enfim, o problema habitual.

E mais colonialismos certamente surgirão, e mais resistência advirá. Faz parte do percurso dos habitantes deste desgraçado planeta, a girar perdido na imensidão infinita de um cosmos que cada vez mais ninguém percebe.

A ideia de que o menos que incipiente punhado de brancos em Moçambique é que criaram as colónias ou que mandavam nalguma coisa é quase alucinante. Tanto assim que quando quiseram largar as colónias, e os colonizados arranjaram quem patrocinasse a sua revolta, fizeram-no. E, ao contrário da Lena, que pelos vistos estava em Bruxelas (capital de um mais que infame ex-colonizador) a cultivar-se, espero, em agradável recato europeu, custeado pelos salários que a Missão Geográfica de Moçambique pagava ao Pai, eu (e mais umas centenas de milhares) estava lá na África que os Portugueses diziam que era deles quando isso tudo mudou e decidiram uma retirada rápida e em força, e portanto vi o filme todo a cores e em 3D. Foi horrível, mas catárquico, para todos excepto para as elites que imediatamente sucederam a ditadura colonial, de ambos os lados.

Mas quem só tem limões na vida aprende a fazer limonada. E a vida continua. Os portugueses têm a sua liberdade, uma vida nem boa nem má, antes pelo contrário, e maior parte dos moçambicanos, a maioria mal sobrevivendo, já está noutra há muito tempo. 90 por cento dos moçambicanos vivos hoje nasceram muito depois de 75. Quando muito, ouvem dos pais e pouco mais.

Não é que a Lena se distinga tanto nas suas memórias, como o fez descaradamente a Isabela, que tem andado a vender e a fazer render o peixe das suas crónicas, que têm estado na moda revancho-revivalisto-revisionista, especialmente lá no Brasil, onde passa a vida em colóquios para espicaçar as miríades formas em como os negros locais (que presumo todos descendentes de escravos trazidos de Moçambique e Angola) têm sido abusados desde os primeiros carregamentos de escravos para a…Ilha da Madeira. Ao contrário desta, a Lena teve um Pai de quem obviamente gostou e cujo trabalho apreciou. E isso faz a diferença pelo menos para quem lê. A Missão Geográfica de Moçambique, que obviamente é do que mais de “colonial” se pode arranjar, e que pelos vistos deu para manter a família dela e custear a sua educação belga, de facto fez um trabalho excelente e esse foi um preciocíssimo legado aos moçambicanos de hoje (basta ver o milando fronteirço entre o Malawi e a Tanzânia, que já quase descambou em guerra aberta, para se perceber), que não herdaram contendas, especialmente aquela lá no Lago Niassa. O Pai da Lena depreendo culto, sensato, sensível e percebia o que se passava à sua volta. E havia muitos assim. Conheci alguns.

Um destes agora custa 95 paus no OLX.

Portanto e resumindo só me fica atravessada aquela dos letreiros (no plural) em Lourenço Marques com (cito novamente) letreiros a avisar “Entrada proibida a pretos e a cães”.

Até pode ser verdade. Malucos há-os em toda a parte. Dizem que hoje mesmo existem pessoas em Portugal que pensam assim e procura-se uma cura, nem que seja por decreto.

No entanto, já vi este filme mais que uma vez, como em cima com a Isabelinha, que, quando ainda era gorda e feia (descrição dela), descreveu Lourenço Marques como um “vasto campo de concentração para os pretos”. E como a do (já o contei aqui) Joey Hanlon, um venerando académico inglês comuna que durante anos andou a fazer o frete à Frelimo em Maputo (agora, mais redimido, tem uma newsletter que se dedica a reportar as deliciosas e engenhosas mil maneiras como a Frelimo rouba as eleições todos desde 1994, incluindo a próxima, a do

El Chapo) depois da independência e que, uma vez, num artigo a propósito de nada, afirmou que o desgraçado do dono do então futuro Hotel 4 Estações (já demolido), antes de escapar depenado da Libertação em 75, talvez, putativamente, raivoso pelo fim do colonialismo, tinha mandado encher os canos de água do seu edifício com cimento, para lixar quem viesse a seguir. Como se tal fosse possível. Só quem não estava em Maputo quando a Frelimo tomou conta daquilo é que pode dizer estas coisas. Quando um dia o interpelei directamente sobre isso (“mas tu viste isso?” o homem disse-te?”, “tens fotos?”, “qual é a tua fonte?”) limitou-se a dizer “bem, era o que se dizia em Maputo”.

O 4 Estações, inacabado. Demolido há uns anos, no seu lugar, agora está a nova embaixada norte- americana.

Ah bom, pois. Claro.

Se era o que se dizia em Maputo, então é porque era verdade.

Só pode.

01/05/2024

O 5º ANIVERSÁRIO DA INAUGURAÇÃO DO SCALA EM LOURENÇO MARQUES, 1936

Imagens retocadas.

Anúncio do Scala de Lourenço Marques, cerca de 1936, na altura da celebração do 5º aniversário da sua inauguração. A sala foi inaugurada no dia 13 de Junho de 1931 e tinha uma capacidade de 1300 lugares, sendo os proprietários então a incontornável Delagoa Bay Investiment Company (que posteriormente vendeu o imóvel à sul-africana Kinekor Theatres uma subsidiária detida a 100% pelo Grupo Primedia, que creio que ainda hoje opera sob o nome Ster-Kinekor e tinha, entre 54 outros, um cinema no Eastgate Shopping Centre em Johannesburgo). Penso que o Scala depois passou para as mãos de um nacional moçambicano que deve estar a fazer o jogo de eventualmente demolir aquilo e vender o terreno a um turco e assim ganhar uma pipa de massa. Sobre o filme em cartaz, em inglês The Informer, que era excepcional, ver mais em baixo.
Bilhete do Cinema Scala, anos 70.

A Wikipédia descreve assim o filme The Informer (1935):

The Informer is a 1935 American drama thriller film directed and produced by John Ford, adapted by Dudley Nichols from the 1925 novel of the same title by Irish novelist Liam O’Flaherty. Set in 1922, the plot concerns the underside of the Irish War of Independence and centers on a disgraced Republican man, played by Victor McLaglen, who anonymously informs on his former comrades and spirals into guilt as his treachery becomes known. Heather Angel, Preston Foster, Margot Grahame, Wallace Ford, Una O’Connor and J. M. Kerrigan co-star. The novel had previously been adapted for a British film of the same name in 1929.

Along with Mutiny on the Bounty, The Informer was a big contender at the 8th Academy Awards, competing directly in all six categories they were nominated for (though Mutiny got eight nominations in total, given its three Best Actor nominations). The Informer won four Oscars: Best Director for Ford, Best Actor for McLaglen, Best Writing Screenplay for Nichols, and Best Score for Max Steiner.

In 2018, the film was selected for preservation in the United States National Film Registry by the Library of Congress as being “culturally, historically, or aesthetically significant”.

O filme tinha a particularidade de nela participar a actriz Margot Grahame, (1911-1982) que cresceu e começou a sua carreira artística em Pretória, na África do Sul.

Margot Grahame.

30/04/2024

OS ARTIFACTOS NA SÉ CATEDRAL DE LOURENÇO MARQUES

Imagens retocadas.

Parte do interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da capital de Moçambique (e de Portugal). Por detrás do altar-mor, está sepultado D. Teodósio Clemente de Gouveia, na altura Cardeal e Arcebispo de Lourenço Marques.
Artigo detalhando as obras de arte presentes na Sé Catedral, inaugurada em 14 de Agosto de 1944 (Dia da Assunção de Nossa Senhora, penso que ainda feriado nacional em Portugal), em plena II Guerra Mundial. O percurso, por exemplo, dos vitrais da ábside e das janelas posteriores, feitos na Holanda numa Europa ocupada pelos Nazis e trazida de barco para Lourenço Marques, foi quase alucinante.
A Sé Catedral não foi a primeira igreja em Lourenço Marques. A primeira foi a também chamada Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que se pode ver num postal de AW Bayly, também chamada Igreja Paroquial, edificada em meados da década de 1880 (mais ou menos a mesma altura em que foi edificada a Mesquita da Baixa) e que existiu onde hoje está a monumental sede do Rádio Clube de Moçambique (aka Rádio Moçambique). Foi demolida enquanto a Sé Catedral estava a ser construída. Gerações de habitantes da Cidade foram baptizados, casados e homenageados na morte nesse local, sendo os seus registos transferidos para a nova estrutura.

O PONTÃO DO FERRY-BOAT ENTRE LOURENÇO MARQUES E A CATEMBE, ANOS 70

Filed under: Ferry-Boat de LM-Catembe inauguração 1972 — ABM @ 21:47

Imagem de Toni Pires.

O pontão, do lado de Lourenço Marques, que ligava com a Catembe por ferry-boat, inaugurado em 1972.

30/03/2024

ANÚNCIO DO STANTARD BANK EM LOURENÇO MARQUES, 1966

Copiado da revista portuguesa O Século Ilustrado, 3 de Dezembro de 1966 e retocado.

O Standard Bank é o banco privado mais antigo ainda a operar em Moçambique (na minha pesquisa anterior, a data do início da sua presença é 1892 e não 1895 mas enfim). O Exmo. Leitor pode ver a sua história premindo AQUI.

No final de 1966, quando foi publicado este anúncio, ainda era propriedade de accionistas maioritariamente britânicos.

Claro que muito mais interessante é a história dos seus accionistas, primeiro britânicos da era imperial. Gradualmente o capital foi sendo transferido para mãos sul-africanas durante o apartheid, onde ainda é um dos big four, reafirmando a sua “africanidade” após 1994. Sempre muito rentável e relativamente bem gerido, navegando com sucesso entre os pingos da chuva da História.

Anúncio do Standard Bank. Cerca de dois anos depois, o Banco português Totta e Açores adquiriu a maioria do capital, resultando o Banco Standard Totta de Moçambique. Em Angola, onde o Standard também estava, resultou o Totta Standard de Angola.

13/02/2024

CENTRO RETRANSMISSOR DO RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE NA MATOLA, ANOS 60

Imagem retocada.

A fachada do Centro Retransmissor do Rádio Clube de Moçambique na Matola, anos 60. À volta, estavam as antenas de emissão em ondas médias e curtas.

A CASA DO MINHO EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Imagem retocada e colorida.

Pelos vistos havia um contingente de minhotos em Lourenço Marques.

A Casa do Minho, situada na parte Sul do Aterro da Maxaquene, perto da FACIM e do Restaurante Zambi, anos 60. O edifício está rodeado de casuarinas (não de eucaliptos, como muita gente comum pensa), que ali foram plantadas nos anos 40-50 devido à sua tolerância às águas salobras presentes naquela parte do Aterro.

06/01/2024

A BOATE DO HOTEL POLANA EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 60

Imagem retocada.

O interior da boate do Hotel Polana em Lourenço Marques, anos 60.

03/01/2024

A FEITORIA HOLANDESA EM LOURENÇO MARQUES, 1721-1730

Imagens retocadas.

É quase uma nota de rodapé no longo percurso da Baía que culminou na sua margem Norte se tornar na Capital de Moçambique. Digo nota de rodapé porque daí nada resultou, ao contrário das iniciativas (1777-1781) de Guilherme Bolts, que ao colocar feitorias na Inhaca e na Catembe, provocou uma reacção portuguesa – a de as desactivar e de erguer um forte e feitoria permanente no que é hoje o local da “fortaleza” na Baixa da Cidade, em 1782.

A ideia de criar uma feitoria holandesa em Lourenço Marques obviamente deve ter parecido boa para os agentes da Vereenigde Oost-Indische Compagnie, ou VOC, originalmente uma empresa majestática de direito privado holandês (ou seja, tinha investidores privados, alguns dos quais judeus de ascendência portuguesa, no que foi a primeira a existir no mundo) criada em Março de 1602 para explorar o comércio internacional, e que tinha uma das suas principais bases de actuação no que é hoje a Cidade do Cabo.

A feitoria duraria cerca de nove anos, após o que foi abandonada.

A feitoria da VOC na margem Norte da Baía de Lourenço Marques, desenho de Jacob de Bucquoy (1693–1772).
A localização da Feitoria da VOC na margem Norte da Baía.

Seria interessante, do ponto de vista histórico e arqueológico (e turístico), identificar o que resta destas construções no que é hoje a Cidade de Maputo. Só que a zona onde a feitoria foi edificada foi significativamente alterada pelos Aterros da Maxaquene, efectuados no final da década de 1910. Pode ainda lá estar alguma coisa pois os aterros tinham uma quota de uns seis metros em relação ao nível da água do mar, o que significa que, em princípio, as fundações desta feitoria terão ficado soterradas. E segundo uma nota do grande Alfredo Pereira de Lima, elas devem estar localizadas aproximadamente em frente ao antigo campo de futebol do Grupo Desportivo.

A enseada da Maxaquene em 1891, com uma estimativa (A) da localização da antiga feitoria holandesa.
A enseada da Maxaquene, antes dos aterros feitos a partir do final da década de 1910, com uma estimativa (A) da localização das ruínas da antiga feitoria da VOC.
A mesma zona após a conclusão dos aterros, meados dos anos 1920. Ao fundo, um armazém e a Capitania do Porto, que ainda existem junto ao Maputo Shopping Centre do Sr. Bachir.
Lourenço Marques na segunda metade da década de 1950. A parte verde corresponde ao Aterro da Maxaquene, e ali é assinalado (A) o local aproximado da antiga Feitoria da VOC, segundo Pereira de Lima.

Este poderia ser um projecto arqueológico interessante. Infelizmente, não sei quase nada sobre o que andam a fazer os arqueologistas moçambicanos estes dias. Mas, se existirem, eu pedia um subsídio à Holanda para pelo menos investigar.

Pois isto é História.

26/12/2023

O COMPLEXO SCALA EM LOURENÇO MARQUES, 1931

Imagem do Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro, Maio de 1932, Pág. 27, retocado e colorido.

O Complexo Scala foi inaugurado em 1931.

19/12/2023

O PRIMEIRO RAID AÉREO LISBOA-LOURENÇO MARQUES, 5 DE SETEMBRO A 28 DE OUTUBRO DE1928

Recorte da Revista Turismo (Janeiro-Março de 1959) gentilmente enviado pelo Paulo Azevedo.

1 de 3
2 de 3
3 de 3

18/12/2023

A PRIMEIRA CASA SALM EM LOURENÇO MARQUES

Imagens retocadas.

Quando, nos anos 60, todos os dias ia a pé para a escola primária Rebelo da Silva (actual 3 de Fevereiro) e desde a Rua dos Aviadores (actual Rua da Argélia) via a Avenida Fernandes Tomás (acho que agora é a Mártires da Machava) para a escola, que ficava na Pinheiro Chagas (actual Dr. Eduardo Mondlane), passava sempre por três casas que achava particularmente interessantes: a Villa Margherita (que foi usada para um pequeno museu de geologia), a Vila Algarve (a infame sede da Pide, que eu desconhecia por completo e que hoje está uma sucata) e a Residência Salm (que eu chamo assim, dado que acho que li no Grande Rogério diz que foi mandada fazer por este empresário de Lourenço Marques -mas não tenho a certeza). Hoje fica na esquina da Avenida Mártires da Machava e Rua José Mateus. Do outro lado dessa esquina fica uma espécie de mercado denso de palhotas, cheio de gente, onde se vende tudo e mais alguma coisa e que durante décadas estava vazio e servia apenas como corta-mato se eu quisesse ir à Pastelaria Cristal.

A Vila Algarve, anterormente mandada construir pelo empresário de origem algarvia José dos Santos Rufino (o tal dos álbuns e da lotaria) foi vendida ao Estado para servir de sede da Pide em Lourenço Marques, que, depois de uma presença residual, se instalou em Moçambique de armas e bagagens no início da década de 1960. Por cima casa da original de Rufino, que tinha apenas rés-do-chão, fizeram mais um andar e, supostamente, câmaras de tortura e celas, etc – o folclore em redor da casa (de que, que eu saiba, nunca se fez um estudo detalhado) é rico. Mas mantiveram a traça pictoresca. típica burguesa à antiga portuguesa com lindos painéis de azulejos, o que, a posteriori, para além de se situar numa pacata zona residencial a todos os títulos insuspeita, dá a tudo um ar surreal. É normal turistas irem lá fotografar aquilo, apesar de ser uma ruína com tapumes.

A linda Residência Salm, na Polana, numa foto de um dos álbuns de Santos Rufino, cerca de 1927. Com um terreno espaço e um desenho elegante.

A Residência Salm (há uma outra Casa Salm, mais recente, uma daquelas do Pancho Guedes) lá se foi aguentando mais ou menos intacta durante mais do que cem anos. Imagino que mudou de mãos para alguém bem conectado da Nomenklatura após a Vassourada que começou em 1974 e deve ter ido sendo alugada a estrangeiros, em dólares.

Até agora.

A Residência Salm, numa foto recente.

A verdade. no entanto, é que a pressão imobiliária na actual Maputo é muito forte (a inexplicável procura e oferta indicia origens muito suspeitas dos dinheiros que a alimentam em ambos os lados) e a Cidade, tal como antigamente, não quer, ou não tem meios, de manter nem sequer o seu mais expressivo património.

Pelo contrário.

A Residência fica numa zona agora considerada “nobre” e situa-se num lote com 2000 metros quadrados. Há uns dias, a empresa A Predial colocou num jornal de Maputo um anúncio de um leilão em que se convidam investidores para licitarem a propriedade, o que deverá ter acontecido em 6 de Dezembro.

Anúncio da Predial, Limitada, publicado no Diário Económico de Maputo, 16 de Novembro de 2023. Refere que o terreno tem 2 mil metros quadrados e que já tem projecto aprovado para se construir ali um prédio com 21.450 metros quadrados para uso residencial. Se se estimar uma área de implantalão de mil metros quadrados e apartamentos de 200 metros quadrados, estamos a falar de um prédio com pelo menos 20 andares e 107 apartamentos. Com uma média conservadora de 4 pessoas por apartamento, estimo que ali viverão 429 pessoas – cem vezes mais que anteriormente. A 400 mil dólares por apartamento, estamos a falar de cerca de 43 milhões de dólares.

Eu já nem me refiro à pressão sobre a já de si periclitante infra-estrutura (ainda largamente colonial) da Cidade de Maputo para este tipo de construção. Não conheço grande evolução nos sistemas de saneamento da cidade (esgotos e estações de tratamento de águas residuais) que, ao que sei, continuam a atirar essas águas residuais sem qualquer tratamento para a Baía, que já deve ser mais veneno pestilento que água do mar. Nem o reforço da rede eléctrica da Cidade, que já teve remendos mas que deve precisar de uma reposição geral. Mas passar, num único terreno, de uma casa de uma família para um mastodonte desproporcional com 20 andares, onde viverão mais do que 400 pessoas, especialmente tendo em conta que este é apenas um de inúmeros projectos, é obra.

E depois há esta imparável destruição de património arquitectónico. Maputo está a deixar de ser uma cidade com uma beleza, proporção e um percurso histórico, para ser um sítio, e descaracterizado. Quase tão mau como aquilo que foi feito nas décadas de 60 e 70. quando os portugueses “invadiram” aquilo.

Fica esta referência e esta memória.

17/12/2023

O PRIMEIRO VOO COMERCIAL DA TAP ENTRE LISBOA E GOA, JULHO DE 1961

Imagem retocada.

Foi uma espécie de esforço efémero, em quase total contraciclo com os ventos da História, que espelha adequadamente o choque entre as dialécticas portuguesa e do mundo (bem, da Índia neste caso) naquela altura. Enquanto que a Índia britânica se tornou independente (junta e violentamente com o Paquistão, após uma partição que faz o que aconteceu com Israel, uns meses, depois, numa brincadeira de crianças) em 15 de Agosto de 1947, e insistia na “devolução” de Goa, Salazar promovia voos regulares entre Lisboa e a capital do seu Estado.

O primeiro voo entre Lisboa e Goa ocorreu em Novembro de 1930, quando o Marão saiu no dia 1 do campo aéreo da Amadora e aterrou no aeródromo de Diu no dia 18, pilotado pelo Capitão Moreira Cardoso e o Tenente Sarmento Pimentel. Voltaram de barco para Portugal e basicamente daí nada resultou em termos de ligações aéreas entre Lisboa e a Índia Portuguesa.

Em 1951, as autoridades portuguesas criaram os TAIP – Transportes Aéreos da Índia Portuguesa – tendo o primeiro avião chegado a 10 de Agosto desse ano. Todo o historial dos TAIP pode ser lido neste precioso documento.

Em Maio de 1955 foram inaugurados três novos aeroportos na Índia Portuguesa, em Goa, Damão e Diu e asseguradas ligações entre este territórios e Karachi, no Paquistão, já que a Índia boicotava as ligações com os territórios cuja soberania reclamavam.

Só em Julho de 1961 se inaugurou uma carreira comercial regular directa entre Lisboa e a Índia Portuguesa.

Postal alusivo ao primeiro voo comercial regular da TAP entre Lisboa e Goa, 8 de Julho de 1961. Levava 19 horas e fazia cinco escalas.

A chegada do Lockheed Super Constellation da TAP a Goa nesse dia em 1961 pode ser vista neste filme da RTP. E aqui, uma semana mais tarde, um curto filme do primeiro voo de regresso de Goa para Lisboa.

Apenas cinco meses depois, a 17 de Dezembro do mesmo ano – faz hoje 62 anosna chamada Operação Victória, ordenada por Jawaharial Nehru, então o mercurial primeiro-ministro da Índia, e em dois dias, 45 mil tropas indianas invadiram (ou “libertaram”) o até então Estado Português da Índia, pondo fim a 451 anos de presença portuguesa na região, que na altura incluía os territórios de Goa, Damão, Diu, Gogolá, Simbor e a ilha de Anjediva.

Durante a invasão, no dia 18 de Dezembro de 1961, estavam estacionados no aeroporto de Dabolim um DC-4 Skymaster dos TAIP e um Super-Constellation da TAP. Depois de se efectuarem reparações na pista e na torre de controlo nessa noite, entretanto bombardeadas pelo exército indiano, os dois aviões levantaram voo para Karachi, de onde seguiram para Lisboa.

À semelhança das convulsões ocorridas com a independência da Índia britânica em 1947, quando a colónia britânica foi violetamente separada com a criação da actual Índia e o Paquistão, a tomada da Índia Portuguesa teve impacto significativo em Moçambique, para onde foram viver muitos antigos residentes da Índia, havendo ainda o triste episódio do aprisionamento de cidadãos indianos, efectivamente reféns do estado português, para posterior expulsão e troca por prisioneiros portugueses detidos pela Índia.

Portugal só reatará relações diplomáticas com a Índia após o golpe de Estado que derrubou o governo de Marcelo Caetano em 1974.

Goa parece ter sobrevivido o embate e seguido em frente. Hoje, para variar, é um dos mais pequenos Estados da Índia mas o mais rico em termos de Produto per Capita, considerado como tendo a melhor infra-estrutura e o segundo melhor índice de qualidade de vida na Índia. É um dos principais destinos turísticos em toda a Índia e admirado pelas suas praias, natureza intocada, monumentos e – oh – vida nocturna, significativa herança cultural indo-portuguesa, diversidade religiosa e arquitectura portuguesa e indiana.

Um bilhete de avião entre Lisboa e Goa pode agora ser comprado por entre 500 e mil euros, ida e volta. Os cidadãos portugueses são muito benvindos. E desde 2015, dezenas de milhares de cidadãos indianos têm vindo viver e trabalhar para Portugal (e o Reino Unido, antes deste sair da União Europeia) e outros tantos descobriram raízes portuguesas e reclamaram para si passaportes de Portugal. O ainda actual primeiro-ministro de Portugal descende de famílias com ligações a Goa. As relações entre Portugal e a Índia vão bem e recomendam-se.

Ah como as coisas mudam. Talvez um dia até possa voltar a haver outra vez uma ligação aérea entre… Lisboa e Goa.

16/12/2023

A PISCINA DO DESPORTIVO EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 70

Era um clube, mas ao mesmo tempo detinha e operava, praticamente sem custos para os atletas, quiçá a melhores instalações desportivas da capital moçambicana. A piscina, a primeira para lazer e prática de natação, salto e pólo aquático, construída no final dos anos 40 e inaugurada em 24 de Julho de 1949, usou uma engenharia especial proposta por um engenheiro alemão, “flutuava” sobre o solo, que ali tinha uma linha freática praticamente à superfície, resultando que, de outro modo, a piscina afundar-se-ia com o peso. Tinha 33.3 metros por 25 jardas, o comprimento a dimensão de uma piscina olímpica na altura, e uma parte funda com cerca de 4.5 metros, permitindo os saltos das suas pranchas com 3, 5 e 10 metros de altura. Num edifício do lado esquerdo, operava uma potente bomba, ligada a gigantescos filtros, que mantinham a água da piscina limpa (bem, de vez em quando aquilo descambava). A piscina tinha o nome formal de Paulino dos Santos Gil, então talvez o maior empresário de Moçambique, que contribuiu de forma expressiva para a sua construção.

O mesmo sucedeu com o campo de futebol, cuja construção foi uma história épica, que contei num artigo que escrevi aquando do centenário do Desportivo em 2021 e merece ser lido. Nas décadas de 1920 e 1930 o campo de futebol do Clube ficava situado directamente em frente à entrada principal, encaixado entre essa entrada (que não existia então) e a então Câmara Municipal da Cidade, que hoje é um tribunal. No final dos anos 30, a Câmara fez uma troca, em que o campo, que tinha bancadas de madeira do lado da Câmara Municipal, foi demolido e foi cedido um terreno a seguir ao campo do Sporting. Mas nada se fez até que o Benfica, com quem o Desportivo tinha uma afiliação, não só ganha o campeonato nacional como a Taça Latina, e é decidido fazer uma turnée que iria até Lourenço Marques. Para que os eventos na Cidade não se realizassem nos estádios do Sporting ou do Ferroviário, os sócios do Desportivo construiram um novo estádio em…. menos que oito semanas. O campo também tinha o nome de Paulino dos Santos Gil.

A piscina do Grupo Desportivo Lourenço Marques, anos 70.

Em frente à piscina, vê-se um edifício redondo, construído na década de 1940 antes da piscina. que, com a esplanada, coberta nos anos 60, permitia realizar eventos particulares e do clube, que permitiam angariar receitas para operar as suas instalações. Festas de fim do ano, passagens de filmes, festas de final do ano,carnaval, bingos, ocorriam ali. Do lado esquerdo, nos anos 50, foi construida uma piscina para crianças, composta por dois círculos interligados entre si. A meio, havia uma pequena carreira de tiro, que no meu tempo (anos 60 e 70 até 1975) não era assim tão utilizado, se bem que tinha uma secção activa. Esta piscina tinha o seu próprio sistema de filtragem de água. Mais à frente, junto à casa das máquinas, ficava o que foi originalmente um campo de hóquei, construída com velocidade vertiginosa quando os jogadores do Desportivo ganharam o campeonato do Mundo penso que no final dos anos 40 (quem me contou isto foi o Sr. José Craveirinha, sócio, depois conhecido pela sua poesia). Foi depois convertido para uso no basquet, depois de construído um novo estádio de hóquei na década de 1950 (na foto,do lado direito, vendo-se a bancada poente), que foi desenhado pelo Eng. Tomás Gouveia, um sócio e Pai das Irmãs Gouveia (João, Dulce, Anabela e Lídia). Ainda antes de 1975, esse espaço foi coberto e era usado também para a prática do basquet. A Norte deste estádio, havia uns campos de ténis que foram convertidos no final dos anos 60 para uso no mini-basquet.

Em 1971, ano do cinquentenário do Clube, os sócios projectaram criar um novo pavilhão desportivo, o maior que a Cidade teria, também desenhado pelo Eng. Tomás Gouveia. Até houve uma cerimónia de descerramento de uma “primeira pedra” no dia 23 de Maio desse ano. Felizmente, atrasou-se e acabou por nunca ser construído, pois digamos que a partir de 1974 as prioridades de quem veio a seguir passarm a ser outras.

Há duas semanas, foi conhecido um processo de falência, resultante da contracção de dívidas pelas sucessivas direcções, dando o seu património como garantia. O que prenuncia o fim do clube, após 102 anos de existência.

15/12/2023

O PRIMEIRO ASSASSINATO DE UM PRESIDENTE PORTUGUÊS, DEZEMBRO DE 1918

Filed under: O assassinato de Sidónio Pais 1918 — ABM @ 20:50

Imagens retocadas.

Esta o Exmo. Leitor não leu nos livros da 4ª Classe: a Primeira República (5 de Outubro de 1910-26 de Maio de 1926) foi apenas mais uma enorme fraude cometida por uma elite raivosa e gananciosa de Lisboa, organizada em gangs mais ou menos líricas e perfumadas e que descambou quase imediatamente desde o momento da sua imposição aos portugueses, e dali para a frente percorreu um caminho descendente, até à sua eliminação em 1926, quando o país já estava praticamente em guerra civil e falido, um caos e onde já valia tudo. A alteração prática de um sistema monárquico reconhecidamente em crise para um sistema presidencial apenas mudou um pouco a tónica do discurso. Os sucessivos líderes republicanos afinal percebiam tanto de gerir e melhorar um país como eu de ciência espacial. E, como ainda hoje, todos falavam, falavam, falavam, mas não faziam quase nada de útil. E, como hoje, quem se lixa é o povo. que sobrevive ou emigra.

Mais do que tudo, foi dessa crise, e da memória desse período horrendo, que resultou uma das ditaduras mais longas da Europa. Na verdade, quem ler bem os documentos primários, Salazar nem sequer tinha que justificar ideologicamente a sua ditadura de partido único e a violência dos instrumentos que usava para reprimir os seus extremos (dum lado os comunistas, e do outro os fascistas e os naziófilos). Bastava aludir, ao de leve, as esses tempos, e toda a gente percebia: não se pode voltar a esses tempos. Nunca mais. E o “nunca mais” durou até 1974.

Claro que o Estado Novo continha o que considero tiques de personalidade do Ditador: um economicismo quase bacoco (mas que funcionou lindamente até 1945), a exortação exacerbada dos “tempos glórios” que desembocava na teima de que as colónias “herdadas” nunca se podem largar, um recentrar do catolicismo na vida cívica do país que até foi popular mas que foi demasiadamente forçado e que acabou sendo um oscilar do pêndulo em relação às escandalosas perseguições da Primeira República.

Um dos episódios enigmáticos dessa era caótica, em que governos, eleições manipuladas, parlamentos e leis se sucediam a um ritmo alucinante, foi a presidência de Sidónio Pais, primeiro sinal e prenúncio do que viria em 1926, antecedido, seis mese santes, por um estranho fenómeno social, ocorrido nas profundezas do mato português, em que multidões asseguravam que nada menos que Maria, a Mãe de Jesus, tinha surgido, e falado, num buraco perdido perto da localidade de Fátima, com três crianças pobres e analfabetas, chamadas depois os Pastorinhos.

A presidência de Sidónio Pais durou aproximadamente um ano, de 8 de Dezembro de 1917 até ao dia 14 de Dezembro de 1918, um mês e uma semana depois de uma Europa exangue ter conseguido negociar um armistício com o Império alemão, efectivamente uma rendição, mesmo quando a Alemanha ainda comandava regiões inteiras da França.

Estupidamente, a elite de Portugal estava entre os Aliados desde 1916, convencida da vitória aliada e de que assim preservaria as suas colónias e ganharia aguma coisa mais. Claro que ninguém ganhou coisa nenhuma com essa guerra, que, dependendo de como se lâ a História, duraria até à caída do muro de Berlim em Novembro de 1989.

Sidónio, que fora embaixador de Portugal em Berlim entre Agosto de 1912 e Março de 1916, era contra a entrada dos portugueses no conflito.

Populares em Lisboa juntam-se na Praça do Comércio para celebrar, ao tomarem conhecimento do Armistício, celebrado a 11 de Novembro de 1918.

Bem, na conferência dos espólios e indemnizações em Versailles Portugal recebeu “de volta” o Triângulo de Quionga, no extremo norte da sua colónia na África Oriental, a nesga de território que hoje permite aos moçambicanos alimentar sonhos húmidos de riquezas fabulosas a vender os mesmos gases offshore altamente poluentes que, segundo o COP do Dubai 2023, todos somos supostos deixar de usar em 2050. Portanto, a elite de Maputo tem exactamente 27 anos para chupar o que puder do gás natural e do carvão de Tete, enquanto que ao mesmo tempo vai afirmar-se vítima dos efeitos das alterações climáticas advindas do mesmíssimo gás e carvão que vende, e pedir ajuda aos mais endinheirados. Presumo que parte deste dinheiro há-de chegar ao povo. Do outro, nem pensar.

O Ano de Sidónio foi não menos alucinante que o resto da Primeira República. Com três diferenças de fundo: 1) ele decidiu governar sozinho, acumulando a presidência com o poder executivo, ignorando o parlamento, recorrendo a decretos “dictatoriais”; 2) reverteu o anticlericalismo ferrenho que caracterizava o regime desde 1910; e 3) aprova um decreto que prevê que, pela primeira vez, o Presidente da República (neste caso, ele) seria eleito directamente pelos eleitores, passando a legitimidade do cargo para fora da alçada dos políticos.

O povo gostou.

Entretanto em Abril de 1918 aconteceu o desastre de La Lys, um campo de batalha na França, em que em 3 horas os alemães mataram uns sete mil soldados e oficiais portugueses. De repente, o liricismo bélico e a ideia de defender as colónias (havia guerra no Sul de Angola e no Norte de Moçambique, ambas desastrosas também) passou a ter um tom mais sombrio.

O verão de 1918 foi um caos contido, Que piorou quando, finda a guerra, parece que não havia maneira de repatriar as tropas portuguesas.

Entretanto veio a Pandemia da chamada Gripe Espanhola. As ruas de Lisboa encheram-se de mortos e ninguém sabia o que fazer.

No dia 14 de Dezembro, ao se dirigir à Estação ferroviária do Rossio para uma deslocação, Sidónio foi assassinado a tiro por José Júlio da Costa, um qualquer.

Júlio da Costa mata o presidente a tiro na Estação do Rossio.

Foi uma comoção nacional.

Postal da época, em que se cita a alegada última frase de Sidónio antes de morrer.

Sidónio seria sepultado na Sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos após um mega-funeral. Os seus restos seriam transferidos para o então recentemente inaugurado Panteão Nacional em 1966, onde ainda se encontra, ao pé do Eusébio e da Amália.

A Primeira República retomou o clima de circo político de antes, que duraria até o Marechal Gomes da Costa impor a Ditadura em 1926, que acabou com a experiência.

José Júlio da Costa, o assassino, nunca seria julgado nem nunca seria libertado. Morreu em 1946.

Ontem fez 105 anos que Sidónio foi morto na Estação do Rossio.

Um dos seus filhos, Afonso Pais, médico, viveu muitos anos em Lourenço Marques. Samora conhecia-o perfeitamente.

14/12/2023

A MORTE DO ANTIGO GRUPO DESPORTIVO LOURENÇO MARQUES

Imagem retocada e colorida. Post dedicado à grande nadadora do Desportivo, Dulce Gouveia, que ontem celebrou o seu 71º aniversário em Cascais e cujo Pai, o eng. Tomás Gouveia, gratuitamente, desenhou e dirigiu a construção, na década de 1950, do campo de basquet situado à direita de quem entra no Desportivo.

No meu blog “desportivo” The Delagoa Company, ontem, referi a publicação de um aviso judicial, há cerca de duas semanas, no Notícias de Maputo, indicando a falência do Grupo Desportivo de Maputo e a previsão da execução do seu património pelo Banco Comercial e Investimentos, SA (cujos accionistas são um instrumento da CGD e do BPI e terceiros da Insitec que nunca percebi quem são) e posterior venda, para ressarcir os seus credores.

O símbolo do Grupo Desportivo Lourenço Marques, 1921-1975.

A agonia final do Clube, fundado em 1921 com o nome do putativo e de outro modo anónimo navegador que andou por aquela zona há quinhentos anos, já era previsível nos últimos anos, por absoluta incompetência, incúria e quiçá má fé dos seus subsequentes dirigentes (um deles o advogado Michel Grispos, que discretamente vendeu o estádio de futebol do clube há menos que dez anos), uma massa associativa que obviamente estava a assobiar para o lado, e a contaminação do seu espaço com terceiros que ali fizeram um salão de festas/discoteca tipo Bollywood em Cuecas e tornaram a histórica piscina, inaugurada em 1949, num tanque para lavar os pés aos fins de semana. No fim, aposto cem Meticais que por detrás disto tudo estão interesses imobiliários, empresários “de sucesso” com rios de dinheiro cuja proveniência só eles e Deus sabem, que ali farão milhões com algum empreendimento imobiliário apetitoso.

Para criar mais uns ricos. Mais uns Florindos, que tanta falta fazem a Moçambique e aos moçambcanos.

Não descansaram enquanto não deram cabo daquilo e deliberadamente chuparam, a crédito e a prestações, pelos vistos, o valor e os recursos criados com muito sacrifício nas décadas de 1940 e 1950. Que o BCI, um banco detido maioritariamente por dois bancos com sede em Lisboa – um já é hespanhol – e supostamente com algumas credenciais lá na Praça (bem, mais ou menos) se predispusesse para fazer este frete, sabendo perfeitamente que a seguir iria ter que executar o clube para recuperar o que emprestou, é de bradar aos céus. Mas depois vem, como os outros bancos, carpir para a rua e encher as páginas dos pasquins àcerca da sua elevada responsabilidade social e da sua moçambicanidade. Pois.

E lá vão cem anos de tradição que era boa e sã tradição, ao ar. A não ser que se recorra à velha e desgastada cassette de que tudo o que foi feito antes de 1975 era para destruir.

Eu costumo pensar, e agora se torna verdadeiro, por exclusão de partes, que o Desportivo, que era os seus sócios e os seus descendentes, que fizeram o Clube, reside em Portugal e os seus membros almoçam juntos uma vez por ano na Linha do Estoril. Eu apenas guardo umas boas memórias e umas fotografias, só para lembrar como era.

O que ficou em Maputo era apenas um sítio, e pelos vistos muito mal frequentado.

Bom proveito para todos.

08/12/2023

O FERIADO DA IMACULADA CONCEIÇÃO EM PORTUGAL EM 8 DE DEZEMBRO

Imagem retocada.

A cúpula da Igreja de Santo António da Polana em Lourenço Marques, iluminada pelo sol, onde, solenemente, eu fiz a Primeira (e última) Comunhão da Igreja Católica na manhã de Domingo, dia 8 de Dezembro de 1968, Feriado da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal e de Lourenço Marques. A Sé Catedral de Lourenço Marques foi e está consagrada a Nossa Senhora da Conceição. O presídio de Lourenço Marques, que deu origem à capital de Moçambique, depois “fortaleza”, tinha o nome formal de “Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição” e a primeira igreja católica construída em Lourenço Marques (no local onde hoje está a sede do antigo Rádio Clube de Moçambique, demolida na década de 1930) tinha o nome de “Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição”.

Hoje é feriado nacional em Portugal, celebrando a chamada Imaculada Conceição. O que é e de onde veio esta celebração nacional?

Segundo um texto da Câmara Municipal de Penaguião que consultei (e editei), Nossa Senhora da Conceição foi a Mãe de Jesus Cristo:

O dia invoca a vida e a virtude de Virgem Maria, mãe de Jesus, concebida sem mácula, ou seja, sem marca do pecado original, o que recebeu o estatuto de dogma católico pelo Papa Pio IX no dia 8 de dezembro de 1854 (ou seja, passa a ser considerado assim pela Igreja e não se pode questionar). Assim, tem origem a celebração dessa comemoração, que é uma data de grande significado para a Igreja Católica.

A imaculada conceição é um dos chamados quatro dogmas marianos. Os outros três são que ela é a Mãe de Deus, a Perpétua Virgindade (pois) e a Assunção.

Antes de ter sido considerado um dogma, a celebração da data pelos Católicos já havia sido decretada em 1476 pelo Papa Sisto IV.

Em 25 de março de 1646, cinco anos e quatro meses depois da chamada Restauração da Independência (outro feriado nacional português, celebrado a 1 de Dezembro) e sabe-se lá porquê, o rei D. João IV organizou uma cerimónia solene, na solarenta e alentejana Vila Viçosa, para agradecer a Nossa Senhora da Conceição pela Restauração da Independência de Portugal em relação à Espanha. O rei foi até a igreja de Nossa Senhora da Conceição na Vila, declarando-a padroeira e rainha de Portugal e anunciando que, desde esse dia (e até ao fim da dinastia dos Bragança em 1910), mais nenhum rei português usaria a coroa real na cabeça, privilégio que, diziam, estaria disponível apenas para a Nossa Senhora Imaculada da Conceição.

Importa referir que durante séculos, o Dia da Mãe em Portugal era comemorado no dia 8 de dezembro, tendo sido mudado para maio há relativamente poucos anos, por ser esse considerado o mês de Nossa Senhora. Quando eu era miúdo em Lourenço Marques, ainda assinalei o Dia da Mãe a 8 de Dezembro, primeiro comprando uns postais alusivos na lojinha de artigos religiosos da Igreja de Santo António da Polana, que ficava ao lado do monumento. Depois fiquei esperto e passei a guardar o dinheiro para ir ao cinema no Scala no domingo e fazia uns cartões desenhados à mão usando lápis de cor, que a Mãe Melo muito apreciava, apesar de serem digamos que toscos.

Mas isto dos feriados nacionais portugueses tem o que se lhe diga.

Originalmente, não eram “feriados” como são considerados hoje. Por exemplo, o feriado de 1 de Dezembro era usado para a celebração de solenes missas, chamadas Te Deums. Só em meados do Século XIX é que começaram a ter um carácter mais histórico e laico.

E, no caso da chamada monarquia constitucional (1834-1910) os dias em que os reis nasceram, casaram e morreram eram feriados nacionais. E eles eram mais do que muitos.

Curiosamente, nessa altura, a data de 8 de Dezembro não era um feriado público, era uma data assinalada privadamente apenas pela Família Real portuguesa.

Com o golpe de Estado que aboliu a monarquia portuguesa, em 5 de outubro de 1910, a lista de feriados foi completamente alterada pelos radicais republicanos, ferozmente anti-clericais. Apenas uma semana depois do golpe, um decreto aboliu todos os dias santificados e estabeleceu apenas cinco feriados nacionais – laicos, claro – sendo eles o 1 de janeiro, 31 de janeiro, 5 de outubro, 1 de dezembro e 25 de dezembro. O 1 de janeiro passou a ser observado como o Dia da Fraternidade Universal em vez da Circuncisão do Senhor, o 25 de dezembro passou a ser o Dia da Família em vez do Natal (como aconteceu em Moçambique depois da instauração do comunismo da Frelimo). O 31 de janeiro era em homenagem à revolta republicana falhada de 31 de janeiro de 1891 no Porto, o 5 de outubro aos Heróis da República e o 1 de dezembro à Autonomia da Pátria Portuguesa.

Dois anos depois, adicionaram um feriado a 3 de Maio, evocando a descoberta do Brasil.

Só em 1929, já na Ditadura que antecedeu o Estado Novo, é que o dia 10 de Junho, então feriado municipal em Lisboa, evocando o poeta Luis de Camões (que terá falecido nesta data em 1579 ou 1580, parece que não se sabe), foi declarado feriado, chamada simplesmente “Festa Nacional”.

Salazar, que era católico e associava a nacionalidade ao catolicismo (um truismo) manteria a lista dos feriados nacionais assim até 1948, ano em que se passou a celebrar a data de 8 de dezembro, então chamado Dia da Consagração de Portugal à Imaculada Conceição.

Em 1952 foi publicada uma reforma abrangente do sistema de feriados português: dois feriados civis -31 de janeiro e 3 de maio — e um religioso – Quinta-Feira da Ascensão – foram extintos e em vez disso foram criados 3 feriados religiosos — Corpo de Deus, Assunção de Nossa Senhora (15 de agosto) e Todos-os-Santos (1 de novembro). Além disso, o feriado da Festa Nacional (10 de junho) passou a ser o Dia de Portugal (para além da Festa Nacional) ao qual Salazar, no decorrer da inauguração do Estádio Nacional do Jamor, em 10 de Junho de 1944 tinha acrescentado o epíteto de “dia da “Raça” e o 5 de outubro passou a estar consagrado à Implantação da República (e não aos Heróis da República). E os dias 1 de janeiro e 25 de dezembro voltaram oficialmente a ser feriados religiosos (Circuncisão e Natal, respectivamente). O feriado de 8 de dezembro também passou a ser chamado apenas o Dia da Imaculada Conceição.

Com o derrube do regime em 1974, adicionou-se o 1 de Maio, depois o 25 de Abril, a Terça-Feira de Carnaval, a Sexta-Feira Santa e um feriado da localidade. O 10 de junho passou a ser chamado como Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. E em 2003 o Domingo de Páscoa passou a ser feriado obrigatório (ou seja, quem trabalhar nesse dia, recebe mais 50 por cento do salário).

Em 2013, na sequência de uma – mais uma – falência das contas nacionais pelo PS, desta vez o famoso episódio do José Sócrates, o governo de Pedro Passos Coelho, sustentado pelo PSD e o CDS, para além de aumentar os impostos expressivamente e cortar nas despesas, eliminou “temporariamente” 4 feriados – que dois anos depois a Geringonça de António Costa (sustenada por uma maioria parlamentar composta pelo PS, comunas, Bloco da Esquerda e Partido dos Animais e da Natureza) alegremente restituiu. Eles eram o Corpo de Deus, Todos os Santos, 5 de Outubro e 1 de Dezembro.

Enfim. Com o milhão e meio de imigrantes que se prevê virão viver para Portugal nos próximos anos para complementar os que daqui se piram para melhores paragens – a actual tendência é virem brasileiros, indianos, paquistaneses, angolanos, nepaleses, chineses e afins (ou seja protestantes, islâmicos sunnis, budistas, judeus, sikhs, ismaelitas, etc, – até já há em Lisboa uma “catedral” da Cientologia ) quero ver onde é que vão parar estes feriados todos. Para já, andam muitos a comentar a nova simbologia da bandeira portuguesa, recentemente aprovada pelo governo do demissionário António Costa, cujo desenho foi especificamente concebido para ser mais “laico” e “inclusivo”. Pois claro.

04/12/2023

O ANÚNCIO DA FÁBRICA DE CERVEJAS REUNIDAS EM LOURENÇO MARQUES EM 1940 E A NOVA SIMBOLOGIA DA REPÚBLICA PORTUGUESA EM 2023

A primeira imagem, retocada e colorida, de um esboço publicitário a lápis, para publicar em revistas e jornais, alusivo aos oito séculos da fundação de Portugal (1140-1940), encomendado pela empresa, «Fábricas de Cerveja Reunidas de Lourenço Marques». Idealizado e criado por António Cruz Caldas. A gravura, a preto e branco, pode ser vista AQUI. O documento original está depositado nos arquivos da Câmara Municipal do Porto.

Como no restante império, Lourenço Marques celebrou de forma efusiva os chamados Duplos Centenários, o da independência de Portugal em 1140 e a restauração da independência em 1640, no caso da capital de Moçambique um pouco mais cedo, para coincidir com a histórica viagem do Marechal Óscar de Fragoso Carmona (1869-1951) a Moçambique, que aconteceu em Agosto de 1939, a escassos dias antes do ataque de Hitler à Polónia, que iniciou a II Guerra Mundial. Para a ocasião, a pequena capital moçambicana engalanou-se e levou a cabo várias celebrações, a que se associaram, naturalmente, as empresas locais. No entanto, não tenho registo desta imagem ter sido usada.

Em 1940, o estilo patriótico exaltado estava muito na moda.

Independentemente do grau do patriotismo dos cidadãos, e da forma como o manifestam, esta dialéctica gráfica entretanto fez uma volta de 180 graus, numa altura em que, sob a égide do demissionário partido Socialista de António Costa, o número de imigrantes residentes duplicou em 10 anos e vindos das proveniências anteriormente mais improváveis (vi na televisão que na pequena cidade alentejana de Odemira vivem neste momento sete mil -sete mil – imigrantes maioritariamente Sikhs, oriundos da Índia, que são mais que os anteriores residentes “originários”). Como corolário desta evolução, talvez para acomodar o Novo Portugal, o governo português esta semana anunciou ter alterado o seu logotipo, que custou a ninharia de 74 mil euros, encomendado a – surpresa – a Eduardo Aires, professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, ou seja, como António Cruz Caldas, também um criativo do Porto:

Os símbolos do governo central. Esta “coisa” em baixo, que aprece a bandeira italiana com um borrão amarelo no meio, é suposta representar o Novo Portugal e, segundo o comunicado do governo, “trazer sofisticação à bandeira nacional e torná-la mais inclusiva, plural e laica. Os Sikhs de Odemira (e a breve trecho cidadãos portugueses) e o milhão de pessoas que se espera entrem pelas fronteiras nos próximos anos, agradecem.

Segundo a peça que li, “o Governo português reformulou a sua imagem institucional, revelando uma bandeira de Portugal simples, geométrica e privada da esfera armilar e do escudo. O novo ícone é composto por dois retângulos, um verde e um vermelho, separados por um círculo amarelo, com o objetivo de trazer sofisticação à bandeira nacional e torná-la mais “inclusiva, plural e laica”.

Gonçalo de Sousa, um oponente da medida, comentou: “o governo retirou do seu símbolo oficial a esfera armilar, as quinas e os castelos conquistados aos mouros. Agora temos esta palhaçada feita no Paint para “combater a discriminação”. Portugal não tem de ter vergonha dos Descobrimentos e da sua história. Tem de ter orgulho.”

O debate prossegue.

03/12/2023

BILHETE DE ENTRADA PARA O JARDIM ZOOLÓGICO DE LOURENÇO MARQUES, 1974

Imagem de Luis Miguel Reis, retocada e colorida.

O primeiro jardim zoológico de Lourenço Marques existiu dentro do Jardim Vasco da Gama (hoje Tunduru) no início do Século XX, até à sua vasta reformulação na década de 1920, altura em que a bicharada foi transferida para um espaço dedicado, nos subúrbios da Cidade, na década de1930. Até à independência em 1974, era um ponto de visita popular para turistas, residentes e turmas de escolas. Eu visitei-o uma vez na década de 1960, era um mimo, talvez excepto as cobras que eu prescindo. Após 1974, entrou num longo declínio e dizem-me que hoje é basicamente uma ruína à espera que um “empresário de sucesso” da Nomenklatura saque os terrenos. Mas existe uma associação de “amigos do jardim zoológico” e primeiro ele vai ter que passar por cima deles. O normal nestes casos (foi o que aconteceu com os terrenos da Facim na Baixa) é “transfere-se” o zoo para, tipo, a Manhiça, com projecto e uma vaga promessa de financiamento, e depois alguém de repente fica com o DUAT dos terrenos do velho zoo (“direito de uso e aproveitamento dos terreno”, efectivamente um título de propriedade mas a acomodar a ficção constitucional de que os terrenos em Moçambique não se compram nem e vendem), que depois vende por milhões a um desses construtores da Turquia. E claro que depois não se faz o novo zoo na Manhiça, até porque ninguém vai ver um zoo na Manhiça.

Bilhete de acesso ao Jardim Zoológico de Lourenço Marques, 1974.

02/12/2023

SEXO NA CIDADE EM LOURENÇO MARQUES

Imagens retocadas, duas da autoria do R Rangel.

Nada, mas nada, inspirou mais a imaginação e a ira revolucionária puritanista da elite da Frelimo em 1975 quando chegaram a Lourenço Marques que os bares, restaurantes, botequins e cabarets da Rua Araújo.

Ainda hoje, apesar de Moçambique ter recedido para as mais escuras trevas da degradação humana (benvindos ao clube), certamente entre elas a prostituição a céu aberto, ainda há hoje por lá quem aponte para a perseguição do negócios da Rua Araújo como uma conquista do que se pensava primeiro que iria ser a mera inauguração da independência nacional, mas que acabou por ser o começo de um longuíssimo e opressivo pesadelo marxista-leninista, partes do qual perduram.

No dia 25 de Junho de 2016, 41 anos ao dia após, na Machava, o primeiro-ministro comuna do Portugal do PREC, Vasco Gonçalves, ter piscado o olho cumplicemente a Samora no Estádio Salazar enquanto este mandava hastear a bandeira da Frente e solenemente avisava a maralha local que afinal a luta não acabara, nem por sombras, um tal Kandyane celebrou a efeméride com um texto, publicado no jornal Domingo de Maputo (o eterno Pravda dos regimes), onde postulou demoradamente não sobre as injustiças do racismo ou da opressão colonial, mas – ei-la -sobre a Rua Araújo: “funcionavam nesta cidade, algumas “casas ou clubes nocturnos”, quais, os mais famosos localizavam-se na baixa da cidade, concretamente na Rua Araújo, (hoje Rua de Bagamoyo). O “Topázio”, teria sido a maior de todas, de tal sorte que sobreviveu cerca de dez anos após a nossa Independência. A fama desses “Clubes”, provinha da peculiaridade dos espectáculos que lá se realizavam, por terem características das exibidas nos “bordéis”.

Mas depois no fim o K lamenta-se que as meninas de Maputo em 2016 agiam como putas. Enfim.

Bilhete de entrada no Topázio, um dos cabarets da Rua Araújo, 1974. Imagem feita a partir de uma imagem partiilhada pelo Luis Miguel Reis. Cem paus em 74 era maningue taco mesmo. Naquela altura um bilhete de cinema em LM quando muito custava cerca de 15 paus – sem desconto de estudante.

Talvez a alguma falta de perspectiva e a comprovada falta da noção dos negócios tenha escapado aos Libertadores, em entender que o mercado-alvo destes estabelecimentos não eram (a quase totalidade) dos residentes da Cidade, que eram maioritariamente daquela vertente portuga católica vulgar mas turistas estrangeiros, marinheiros (o porto mesmo ao lado nos anos 60 e 70 era um corropio constante) e jovens militares lá da guerra no Norte de passagem para Lisboa ou para Nampula. Aquilo só atiçava aos fins de semana e mesmo assim passar lá era um passeio quase inocente, tirando os berrantes e movimentados anúncios em néon que iluminavam a noite.

Afinal, Lourenço Marques era uma cidade cosmopolita e um dos principais centros turísticos, ferroviários e portuários da costa oriental de África. Ainda por cima mesmo ao pé da África do Sul, que para além do apartheid, era um dos regimes mais puritanos que se podia conceber. Onde (diziam-me os meus irmãos) ser-se apanhado com uma edição da revista Playboy dava cadeia. Uma das razões do sucesso da LM Radio era que passava música pop e rock 24/24 horas, algo que na África do Sul era proibido nos anos 60, pois os boers achavam que essa música era degenerada, especialmente aos domingos, onde, lá, não se podia vender bebidas alcoólicas (ah ah).

Em Lourenço Marques nos anos 60 e 70 havia dois tipos de “passeios dos tristes”. Um era ir de carro na estrada Marginal aos fins de semana até ao Clube Marítimo ou, para os mais aventurados, até à Costa do Sol. O outro era aos sábados à noite, depois do jantar (os meus pais levavam-nos de vez em quando comer chinês no Restaurante Hong Kong na Baixa) dar-se um longo passeio a pé e ver as montras das lojas. Nós lá em casa chamávamos a isso “ir ver as montras”. E às vezes o circuito incluía percorrer a Rua Araújo desde a entrada (ou saída) na Praça Mac-Mahon até ao Hotel Central, quando virávamos para a Consiglieri Pedroso.

E do que me recordo é de ver os anúncios a néon, das fotografias das meninas meio descascadas na entrada dos botequins, da música aos berros a sair dos bares e de algumas pessoas a andarem por ali. Nada demais.

Rua Araújo à noite,. Foto do Rangel. Topázio à esquerda.

De dia, a Rua Araújo transvertia-se numa vulgaríssima rua do comércio local, com inúmeros escritórios e lojas.

A Rua Araújo durante o dia. Ao fundo, a Praça 7 de Março (agora 25 de Junho).

Mas até hoje ficou fixada nalgumas mentes de Moçambique esta noção “colonial-sexualizada”, especialmente o quase fétiche do branco dominante a explorar sexualmente a mulher negra como parte do esquema colonial, devida e surrealmente explorada pelo Ricardo Rangel (um fotógrafo local) quando ele escolheu, antes de morrer, publicar um livro de fotos sobre o assunto, que ele tinha tirado nos anos 60-70, ilustrando a “depravação” prontamente erradicada pela Frelimo em 75 (nunca ninguém percebeu a suprema ironia de que ele tirou as fotos não por “indignação revolucionária” mas porque ele, que era amigo do meu pai, era um frequentador frequente daquelas paragens).

Penso que a verdade era muitíssimo mais banal: por com algumas excepções, o apartheid económico e social na Cidade essencialmente extendia-se ao sexo. Não que eu tenha algum preconceito em relação ao assunto. Mas creio que era assim. No entanto, a mania perdura em alguns. Numa que foi efectivamente uma entrevista de emprego que tive em Maputo em 2014, com um alto quadro da Nomenclatura local, às tantas ele perguntou-me – literalmente – se eu alguma vez tinha ido para a cama com uma mulher negra (para o Exmo Leitor saber a resposta, terá que ler este blog por mais dez anos).

Mais uma foto do Topázio e do nosso Rangel. Aquilo na parede são montras com fotos das “estrelas” semi-nuas que ali faziam exibições. É para as ver que onde os marinheiros se dirigem.

13/11/2023

MEDALHAS COMEMORATIVAS DO 75º ANIVERSÁRIO DE LOURENÇO MARQUES, 1962

Imagens gentilmente cedidas por A. Francisco Duque Martinho.

12/11/2023

LOURENÇO MARQUES ELEVADA A CIDADE HÁ 136 ANOS

Filed under: Lourenço Marques 1887-2023 — ABM @ 15:27

Imagens retocadas e coloridas.

Data de 10 de Novembro de 1887 o decreto, assinado pelo rei português D. Luis I, da elevação de Lourenço Marques ao estatuto administrativo e político de cidade, penso que a terceira a seguir a Moçambique (Ilha) e o Ibo.

O resto de Moçambique era mato e umas vilas aqui e ali, a sua população de menos de 5 milhões espalhada pelo território, uma miríade de raças e culturas, tendo como único denominador comum a intenção portuguesa de que aquilo tudo lhe pertencia (duraria 87 anos)

A construção da linha férrea entre Lourenço Marques e Pretória e o início do planeamento dos enormes aterros e um enorme porto, faziam prever uma futura urbe com uma dimensão e sofisticação inexistentes na colónia até então. No entanto, durante os anos iniciais, a Cidade nem teria “cidadãos” nem teria orgãos camarários com um funcionamento regular. Seria governada basicamente por uma sucessão de “ilustres”, administrativamente nomeados. Até hoje, o governo da Cidade, o seu financiamento e gestão, viriam a ser sempre alvo da interferênia do poder político central, seja pelo governo metropolitano, durante a era colonial, seja pelo poder central, após a independência. Mesmo agora em 2023, na mais recente eleição autárquica, a imprensa local relata haverem indícios de que a Frelimo interferiu na contagem dos votos, roubando a eleição e atribuindo a vitória ao seu candidato. Assim, praticamente, com a eventual breve excepção durante a I República, os eleitores da Cidade nunca tiveram a chance de, livremente, escolherem os seus líderes.

Envelope da Casa Filatélica de 10 de Novembro de 1962, assinalando o 75º aniversário da elevação de Lourenço Marques, então basicamente uma ilhota, ao estatuto de Cidade. Que não era oficialmente assinalado nem era o feriado da Cidade, que, não sei por quem, foi decidido ser celebrado a 24 de Julho, referente à decisão de Mac-Mahon de 1875 numa disputa entre Portugal e o Reino Unido da Grã-Bretanha, que manteve portuguesa a região vizinha à Cidade, situada entre a Catembe, Ponta do Ouro, Namaacha e Ressano Garcia.
Mapa de Lourenço Marques em 1929. A ilhota passou a ser uma cidade colonial agradável e a futura metrópole que seria em 1975 uma das mais belas capitais de África.
Mapa ilustrativo do Plano Director de Lourenço Marques, 1974. Com a independência nesse ano tudo ficou congelado e subsequentemente tem sido basicamente uma bandalheira pegada, em que o crescimento rápido e selvagem tem sido acompanhado de problemas crescentes, cujas soluções não têm sido acauteladas, fazendo prever que os próximos 50 anos vão ser absolutamente dramáticos.
Gravura de D. Luis de Bragança, filho de D. Maria II e de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha (este o seu segundo marido, depois da morte de Augusto de Beauharnais). Reinou entre 1861, após a morte prematura do seu irmão mais velho, Pedro V, e Novembro de 1889, quando faleceu e foi sucedido pelo filho mais velho, Carlos.
Retrato do Rei D. Luis I, aqui mais velho. Casou com Maria Pia, filha do então rei da Itália, com quem teve dois filhos, Carlos e Afonso
Imagem do Salão Nobre da Câmara Municipal de Lourenço Marques, anos 60, em que se podem ver pinturas de D. Luis I à direita, e de D. Carlos ao fundo. Ambas ficaram em Moçambique e creio que estão hoje num estado absolutamente lastimável, nem sei bem onde.

Taça de um serviço de jantar que pertenceu a D. Luis I, com a sua inicial, vendida num leilão na Europa recentemente e que penso que foi levada para Itália pela rainha Maria Pia quando regressou à Itália após o assasinato dos seus filho e neto, Carlos e Luis Filipe, e do golpe de estado republicano de 1910.

07/10/2023

CARTAZ DE PEÇA “EH! UENE” DO RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE, DÉCADA DE 194O

Imagem retocada.

O cartaz anuncia uma “marcha sobre um motivo indígena” com música de Artur Fonseca e criação de Manuel Soares.

Uns anos mais tarde o cantor João Maria Tudella criou uma canção com o mesmo nome (que pode ser ouvida na lista do grande Paulo Oliveira, AQUI) mas que parece não ter nada a ver com a marcha.

06/10/2023

FACHADA DO SCALA EM LOURENÇO MARQUES, ANOS 70

Imagem retocada.

Older Posts »

Site no WordPress.com.