THE DELAGOA BAY WORLD

02/02/2012

A ESTÁTUA DE SALAZAR NO LICEU – 40 ANOS DEPOIS

Grato ao Joaquim Salvador , ao José Lucas Oliveira e ao Luis Silva e Sousa pelos preciosos dados que ajudaram a dar dar uma perspectiva muito mais completa em relação a este tópico.

 

A original estátua de Salazar, maior e em pedra, nas vestes do doutoramento em Coimbra, em frente à fachada principal do liceu que teve o seu nome até meados de 1974. Faltam os nomes dos dois senhores ao lado. Segundo o Luis Silva e Sousa, cerca de 1963 "alguém que não morria de amores pelo velho ditador" decapitou a estátua de pedra com um engenho explosivo (imagino o filme que foi com a Pide e Cia Limitada naquela altura) tendo então a mesma sido substituída por uma idêntica mas ligeiramente mais pequena, em bronze.

Com a Independência em 1975, após um curto período em que funcionou sob o nome "Liceu Normal 5 de Outubro"(ver o comentário de Joaquim Salvador) e após uma reflexão que durou algum tempo, o estabelecimento foi re-baptizado com o nome de Josina Machel, uma das mulheres de Samora Machel e uma bela guerrilheira, ícone escolhido do novo regime. Na fachada do liceu, à moda soviética, as imagens de Samora à esquerda, do Dr. Eduardo Mondlane à direita, no meio a frase "a luta continua" proferida por Samora vezes sem conta, indicando que afinal a independência era apenas um mero episódio de percurso e que mais viria. E oh se veio. A estátua do velho ditador português então já eclipsada, escondida num canto da cidade.

Em 2011, o grande Paulo Pires Teixeira foi encontrar a velha estátua de cobre de Salazar (que fotografou e se pode ver aqui) encostada a uma parede num canto da Biblioteca Nacional de Moçambique, que era a antiga Biblioteca Municipal em frente ao Hotel Tivoli na baixa de Maputo. Depreendo que Salazar não teve direito a lugar cativo na histórico-turística "Fortaleza" de Maputo. Possivelmente, ainda não passou tempo suficiente.

 

Uma curta nota sobre Samora Machel: originalmente, eu havia escrito que Josina Machel fora a primeira mulher de Samora Machel, sendo que a senhora que se seguiu foi a notável D. Graça Machel. Mas José Lucas Oliveira enviou-me uma mensagem indicando que não, que a primeira mulher de Samora foi Sorita Tchaicomo, com quem teve quatro filhos.

3 comentários »

  1. O Liceu Nacional Normal Salazar não foi rebatizado de Josina Machel, a seguir à independência; depois do 25 de abril de 1974, o liceu (re)ganhou o seu nome inicial que era Liceu Nacional Normal 5 de outubro. O processo de o batizar com o seu atual nome, que é Escola Secundária Josina Machel, decorreu em finais de 1976 de consultas aos professores, funcionários e alunos dos cursos diurnos e noturnos (e as outras alternativas eram Amílcar Cabral e Patrice Lumumba, daí a avenida que vem da Rádio Moçambique ter esse nome no presente) e só em 1977 se passou a chamar assim. A decisão, naturalmente, veio do Ministério da Educação, na altura dirigido pela Sra. Graça Simbine Machel.

    Comentar por Joaquim Salvador — 02/02/2012 @ 08:51

    • Joaquim, muito obrigado pela excelente nota com a chamada de atenção. De facto eu frequentei esse liceu precisamente no (muito) curto período em que teve o nome de Liceu 5 de Outubro.

      No entanto, que eu saiba, o edifício nunca teve o nome de 5 de Outubro. Esse foi o nome (e função) do velho edifício que havia do outro lado do quarteirão (com frente para a Avenida 244 de Julho) e que mais tarde se tornou a Escola Comercial Azevedo e Silva. Que por sua vez foi demolido nos anos 1970 para dar lugar à mais moderna estrutura que ainda hoje existe em frente à Pastelaria Cristal. Há um postal do Santos Rufino com a descrição, que tentarei colocar aqui nesta colecção. Um abraço grato, ABM

      Comentar por ABM — 02/02/2012 @ 09:08

  2. Realmente dar o nome 5 de outubro seja ao que for, não passa de uma risível ironia…

    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 04/02/2020 @ 23:55


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