O Flit era um produto que foi comercializado em Moçambique até aos anos 50, para matar mosquitos e outros insectos. Era aplicado mediante o uso de um borifador (que se pode ver no anúncio em baixo à esquerda), onde se colocava o líquido, (que era vendido em latas de 5 litros) não havendo na altura as latas com pressão aerosol que se usam actualmente, criando-se a pressão dando à bomba na mesma. Era tão comum e tão singular que as pessoas referiam-se ao produto de forma genérica (“usar o Flit”) para este tipo de uso, que em África era praticamente uma necessidade do quotidiano devido à malária. Originalmente comercializado pela empresa norte-americana Standard Oil of New Jersey(que concessionou o exclusivo à Robinson, Bardsley & Cia, Ldª para Portugal e suas colónias), a versão do líquido para o fim continha o químico DDT, eventualmente considerado nocivo para humanos, pelo que foi descontinuado. Quanto a isso, quando eu era miúdo, às vezes literalmente tomava banho nesta coisa, e – milagre- ainda estou aqui.
A Tombazana era um refrigerante vagamente parecido com a Vimto, comercializado pela Fábrica de Cervejas da Reunidas. O termo “tombazana” penso que se refere a uma mulher negra. Não faço ideia de onde veio a ideia de dar este nome a este refrigerante, que tenho a vaga ideia de em certa fase ter sido produzido numa fábrica no Xai-Xai. Era um dos meus favoritos.
O Tricofaite era uma mistura de Ginger Ale da Canada Dry (que foi o primeiro refrigerante a ser comercializado em Moçambique, pela Sociedade de Águas de Montemor, na Namaacha) com vinho branco.
Na década de 1960, as instalações da Empresa de Tabacos A.E.George, na Baixa, já eram praticamente um núcleo musológico industrial, como muito do resto que havia desvalorizado arquitectonicamente e carne para o canhão imobiliário da imigração colonial, alimentado por taxas de crescimento económico explosivas. Na 24 de Julho e na Pinheiro Chagas (Hoje Dr Eduardo Mondlane) foi uma razia. Do que mais me tocou enquanto crescia na Cidade na década de 1960 era poder observar a quantidade de arquitectura deste tipo que ainda existia em abundância e que foi sendo rapidamente dizimada nessa década e até 1975, e retomada com verdadeiros requintes de malvadez após 1994.
No final dos anos 60, assisti numa festa de fim do ano no Grupo Desportivo a esta banda, que tocou toda a noite e em que ficou inesquecível a sua interpretação da música The Age of Aquarius, criada pela banda norte-americana The 5th Dimension.
Madalena Lucília Iglésias do Vale de Oliveira Portugal (Lisboa, 24 de outubro de 1939 – Barcelona, 16 de janeiro de 2018), foi uma cantora portuguesa. Venceu o Festival RTP da Canção de 1966 com “Ele e Ela”. A par de Simone de Oliveira, tornou-se numa das vozes mais importantes do chamado nacional-cançonetismo que dominou em Portugal na década de 1960.
Copiado da revista portuguesa O Século Ilustrado, 3 de Dezembro de 1966 e retocado.
O Standard Bank é o banco privado mais antigo ainda a operar em Moçambique (na minha pesquisa anterior, a data do início da sua presença é 1892 e não 1895 mas enfim). O Exmo. Leitor pode ver a sua história premindo AQUI.
No final de 1966, quando foi publicado este anúncio, ainda era propriedade de accionistas maioritariamente britânicos.
Claro que muito mais interessante é a história dos seus accionistas, primeiro britânicos da era imperial. Gradualmente o capital foi sendo transferido para mãos sul-africanas durante o apartheid, onde ainda é um dos big four, reafirmando a sua “africanidade” após 1994. Sempre muito rentável e relativamente bem gerido, navegando com sucesso entre os pingos da chuva da História.
Copiado da revista portuguesa O Século Ilustrado, 3 de Dezembro de 1966.
O BCCI penso que foi uma criação do banco português Borges & Irmão. Ambos os bancos desapareceram em resultado do 25 de Abril de 1974, o primeiro nacionalizado em Moçambique (tudo foi parar ao … banco central) e o segundo nacionalizado depois do 11 de Março de 1975 em Portugal. Posteriormente, em Portugal, o Borges & Irmão foi adquirido pelo, e integrado em, o BPI, em meados da década de 1990.
Contrariamente à tese colonial(ista) do “isto é nosso” (as colónias, isto é), os portugueses em geral mantiveram as coisas separadas. Moçambique tinha a sua própria moeda e ambiente financeiro estanque. E contrariamente ao que se afirma frequentemente sem conhecimento, não era fácil – nem para os empresários portugueses – investir em Moçambique. Que, também contrariamente ao que se afirma, não tinham grande apetência para investir em África, pelos riscos e pelo desconhecimento do terreno. De facto, em 1974, de longe, o maior comércio português era com a EFTA. Sim, havia excepções, como por exemplo o genial Sr. António Champalimaud, que tinha um fascínio peculiar por Moçambique. Mas eram excepções.
Imagem de Joseph e Maurice Lazarus, retocada e colorida.
Uns meses depois de tirada esta fotografia, a Cidade receberia em apoteose o herdeiro da Coroa Portuguesa, D. Luis Filipe de Orléàns e Bragança. E em seguida os Irmãos Lazarus mudar-se-iam para abrir uma loja de fotografia em Lisboa, a Photographia Ingleza, onde faleceriam no princípio da década de 1940.
Imagens retocadas, gentilmente cedidas por Suzana Abreu Barros.
Vasco Abreu fez parte de uma família que foi viver para Moçambique no início do Século XX. Nasceu em Lourenço Marques em 25 de Julho de 1924. Foi mais conhecido por ter sido piloto comandante da DETA (entre 1945 e 1980) e Pai da nadadora Suzana Abreu e seus irmãos Vasco, Rui e José Manuel. Dois dos seus irmãos, Jorge e João, eram conhecidos empresários de Moçambique.
Cito (ligeiramente editado) o texto da obra Faróis de Moçambique, da autoria do António Sopa e Laura Chirinda:
O farol de Cockburn (designado, posteriormente, Farol dos Portugueses e Vasconcelos e Sá, em homenagem ao engenheiro português que finalmente o ergueu) encontrava-se situado no Baixo de Cockburn (Cockburn Shoals, nas cartas náuticas inglesas), e fazia parte do plano de balizagem e alumiamento da baía e porto de Lourenço Marques, elaborado por Augusto Cardoso, que previa ainda um sistema de bóias luminosas convenientemente dispostas no canal de acesso ao porto da Cidade.
A sua notoriedade deve-se ao facto de ali terem naufragado nove navios, entre 1894 e 1900, e às vicissitudes que rodearam a montagem do farol naquele perigoso local. Este resultou da iniciativa da Comissão de Melhoramentos do Porto de Lourenço Marques, criada em 17 de Dezembro de 1895, cujo primeiro e principal objectivo consistiu em promover a sua construção sobre o vértice norte daquele baixo. Das quatro propostas apresentadas para o fornecimento dos materiais e a montagem do farol, seria aceite a da casa francesa Schneider & Ge., De Creusot, que se propunha fabricar toda a infraestrutura, fornecimento da lanterna (casa Barbier & Bénard, de Paris) e montagem no local, pela quantia de £ 6.000. A casa Schneider delegou os trabalhos de montagem aos engenheiros franceses L. Grunberg & Som. Léon, seus representantes em Johannesburgo, que fizeram quatro tentativas falhadas para a sua instalação, tendo depois pedido a rescisão do contrato. Seguiram-se depois mais duas tentativas, desta vez dos ingleses Bell & Wilson, regressados do porto de Melbourne (na Austrália), onde tinham feito a montagem dum outro farol com o mesmo material, também sem sucesso. Foi no seguimento destas diversas tentativas, que foi convidado o tenente de engenharia josé Maria de Vasconcellos e Sá, na altura director interino das obras do porto de Lourenço Marques. A montagem do farol inicia-se em Abril de 1900 com o transporte do material e operários para aquele local, tendo a sua inauguração oficial ocorrido no dia 1 de Janeiro de 1901.
O farol foi destruído em Janeiro de 1966, pelos ventos da tempestade “Claude”.
VASCONCELLOS E SÁ, JOSÉ MARIA DE (1951) HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO DO ANTIGO FAROL DE «COCKBURN». LISBOA: TIPOGRAFIA DA LIGA DOS COMBATENTES DA GRANDE GUERRA, 224PÁGS., ILUSTRADO.
Imagem gentilmente cedida por Suzana Abreu Barros. A Escola Rainha Santa Isabel ficava ao lado da Escola Rebelo da Silva (actual 3 de Fevereiro) na Avenida Pinheiro Chagas (hoje Dr Eduardo Mondlane) na Polana.
Imagens retocadas. Grato pelos contributos de Exmos. Leitores.
A Cervejaria Imperial ficava numa esquina no “fim” da Pinheiro Chagas (actual Av. Dr Eduardo Mondlane) no Alto-Maé. Continua a operar actualmente sob o nome Xima.
Antes de ontem fez 98 anos que a minha Mãe nasceu em Ponta Delgada, na ilha açoreana de São Miguel. Ela viria a ter oito filhos: dois nos Açores, três em Macau e três em Moçambique (eu o sétimo, nascido na esplêndida Lourenço Marques), sempre a reboque das decisões espúrias do meu Pai e das circunstâncias de um mundo em turbulência. Para assinalar a data, a minha Irmã Lelé enviou-me um poema que ela escreveu, e que mostro em baixo. Só quase no fim da sua longa vida (ela faleceu a 28 de Janeiro de 2005 nos Estados Unidos da América) é que eu soube que ela escrevia poemas, à mão, de uma assentada, que guardava numa caixa sem mostrar a ninguém.
Sinceramente, não sei como é que ela, numa vida que se revelou um turbilhão que incluiu recomeçar tudo literalmente do zero aos 50 anos, foi capaz de enfrentar os desafios que teve e ainda assim manter a serenidade, o discernimento e a perspectiva. E uma classe à prova de bala. É das muito poucas pessoas na vida por quem eu sentia respeito inquestionável e um afecto e uma cumplicidade ímpar, que dispensava palavras.
E só queria dizer que sinto uma imensa falta dela.
Os Kiosks na Praça Mouzinho de Albuquerque (depois 7 de Março e hoje 25 de Junho) foram um marco da Cidade até ao início da década de 1940, quando a Praça foi completamente refeita.